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Divisão digital reforça discriminação contra mulheres, diz chefe da ONU

Uma parteira acessa o treinamento on-line em um acampamento para pessoas deslocadas internamente em Juba, Sudão do Sul
Unmiss/JC McIlwaine para ONU Mulheres
Uma parteira acessa o treinamento on-line em um acampamento para pessoas deslocadas internamente em Juba, Sudão do Sul

Divisão digital reforça discriminação contra mulheres, diz chefe da ONU

Mulheres

Mulheres são as mais afetadas por crises e têm sua autonomia cerceada por regimes autoritários; novas tecnologias dominadas por homens potencializam a desigualdade de gênero; inclusão digital feminina é prioridade para a organização.

O secretário-geral, António Guterres, participou esta semana de uma reunião com representantes da sociedade civil presentes na Comissão da ONU sobre o Estatuto da Mulher, CSW. Na ocasião, o líder das Nações Unidas afirmou que o progresso nos direitos de mulheres e meninas estagnou e está retrocedendo. 

Fazendo referência a contextos como Afeganistão, Mianmar e Sudão, Guterres lamentou como as “mulheres têm sido perseguidas e afastadas da vida pública por regimes autoritários e grupos extremistas”. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres fala durante uma reunião na Câmara Municipal com a sociedade civil moderada por Sima Sami Bahous, diretora executiva da ONU Mulheres
ONU/Eskinder Debebe
O secretário-geral da ONU, António Guterres fala durante uma reunião na Câmara Municipal com a sociedade civil moderada por Sima Sami Bahous, diretora executiva da ONU Mulheres

Direitos sob ataque 

O chefe da ONU também ressaltou como em todas as regiões do mundo as mulheres estão sendo mais afetadas pelo aumento do custo de vida e pelo agravamento da insegurança alimentar.  

Ao afirmar que os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e meninas “estão sob ataque”, Guterres apontou o fato de que muitos governos cerceiam a autonomia feminina sobre seus corpos e suas vidas.   

Em situações de crise, as mulheres também são as mais afetadas. O líder das Nações Unidas lembrou que 90% dos refugiados da guerra da Ucrânia são mulheres e suas crianças e que essa população tem 14 vezes mais chances de morrer em desastres do que homens.  

Em seu discurso, o secretário-geral afirmou ainda que a inequidade de gênero está se expandindo para o ambiente das tecnologias digitais. A violência online contra a população feminina cresceu exponencialmente por meio de campanhas que têm como alvo profissionais que atuam na política, no jornalismo ou no ativismo.  

Uma aluna da Escola São Francisco de Assis e outras meninas verificam seus smartphones após as aulas na cidade de Cebu, nas Filipinas, em Visayas Central
Unicef/UN014974/Estey
Uma aluna da Escola São Francisco de Assis e outras meninas verificam seus smartphones após as aulas na cidade de Cebu, nas Filipinas, em Visayas Central

Divisão digital 

Para Guterres, as tecnologias digitais se tornaram uma nova fonte de discriminação contra o sexo feminino. Ele afirmou que a dominação masculina sobre novas ferramentas como algoritmos e inteligência artificial está desfazendo décadas de progresso nos direitos das mulheres e ampliando a misoginia.  

Para reverter esse quadro, o secretário-geral enfatizou a importância das recomendações do novo relatório da ONU sobre tecnologia, inovação e equidade de gênero, lançado durante a CSW.  

As recomendações incluem educação e treinamento para que as mulheres dominem as novas tecnologias digitais. O documento propõe também investimentos para superar a divisão de gênero no meio digital e o desenvolvimento de algoritmos alinhados com os direitos humanos e com a equidade de gênero. 

O chefe da ONU defendeu que a representação e a participação equitativa de mulheres são a chave para transformar os modelos políticos, sociais e econômicos que atualmente excluem este grupo. 

Compromissos 

No encontro com membros da sociedade civil, Guterres afirmou que fará todo o possível para arrecadar US$ 300 milhões, nos próximos três anos, para organizações de mulheres e de direitos humanos que atuam em situações de crise.  

O secretário-geral também reconheceu que a participação de mulheres em missões de paz da ONU ainda é baixa. Ele declarou que a meta da organização é que pelo menos 30% do efetivo passe a ser feminino.   

Ter mais mulheres atuando ativamente como tropas de paz na linha de frente é uma aspiração do novo comandante da força da Missão da ONU na República Democrática do Congo, Monusco, entrevistado pela ONU News.  

Guterres lembrou ainda que as Nações Unidas promovem em todas as suas sedes ao redor do mundo a proibição da discriminação de gênero, o estabelecimento de quotas para representação feminina e de direitos iguais, inclusive de pagamento.  

A ONU já alcançou a paridade de gênero entre seus 200 líderes do escalão sênior e está avançando para aplicar a mesma lógica no Secretariado até 2028. Além disso, o relatório Nossa Agenda Comum, que norteia a visão da organização, foi classificado pelo secretário-geral como uma agenda focada na inclusão de gêneros.