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Moçambique: ciclone fatal com mais de um mês pode se dissipar na quarta-feira

Crianças nas ruínas de sua escola, destruída pelo ciclone Freddy em Moçambique
© Unicef
Crianças nas ruínas de sua escola, destruída pelo ciclone Freddy em Moçambique

Moçambique: ciclone fatal com mais de um mês pode se dissipar na quarta-feira

Clima e Meio Ambiente

Autoridades temem que intensidade do Freddy possa aumentar; avaliação preliminar indica que cerca 100 mil pessoas precisam de apoio; cerca de 5% dos afetados estão acomodados em centros temporários.

Moçambique registra a segunda passagem do ciclone Freddy. Chuvas acima dos 200mm por dia atingem as províncias centrais da Zambézia, Sofala, Manica e Tete, além de Niassa, no norte.

As autoridades esperam que a situação piore e se estenda até quarta-feira, como informou o meteorologista Arsénio Mindo.

Um grupo de crianças do lado de fora de sua escola na província de Inhambane, Moçambique, que foi destruída pela tempestade Freddy
© Unicef
Um grupo de crianças do lado de fora de sua escola na província de Inhambane, Moçambique, que foi destruída pela tempestade Freddy

Sistema frontal

“Permanecerá dentro do continente por três dias e haverá muita precipitação nessa região. Quanto ao país, esperamos chuvas para Maputo e Inhambane, no sul, em regime fraco local moderado devido a passagem de um sistema frontal.”

A tempestade tropical isolou a cidade central de Quelimane, a quarta maior do país. Não há acesso pelo mar e pelo ar. Diversas famílias estão desalojadas devido à destruição na capital zambeziana.

As autoridades emitiram um balanço preliminar indicando que cinco pessoas perderam a vida por desabamento de casas e acidentes de viação. Há registro de dezenas de feridos e várias instituições ficaram sem cobertura, incluindo do Hospital Provincial de Quelimane.

Chuvas e ventos fortes marcam o ciclone mais duradouro da história, agravado pelas inundações e pela situação humanitária já crítica no centro de Moçambique. 

Danos

A tempestade formou-se pela primeira vez em 6 de fevereiro entre a Austrália Ocidental e a Indonésia, antes de se mover 5.500 milhas no sul da África e atingir Madagascar em 19 de fevereiro. A primeira chegada a Moçambique foi em 24 de fevereiro. Após cruzar o Canal de Moçambique por três vezes, Freddy assola o país pela segunda vez. 

Agências da Nações Unidas avaliam os danos no terreno e preparam uma resposta de emergência com o governo e parceiros.

Recentemente, a ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Verónica Macamo, disse, em Nova Iorque, que o mundo começa a viver os resultados do efeito estufa. A chefe da diplomacia apela uma resposta imediata para salvar os moçambicanos.

“Nós queremos mesmo pedir o apoio a comunidade internacional para que olhe para o nosso país com carinho e sobretudo com espírito de ajuda mútua, porque os moçambicanos estão a precisar. Esperamos que de fato o ciclone que diz-se que pode prolongar que tenha efeitos minimizados, é a nossa oração, é o que efetivamente gostaríamos que acontecesse.”

A segunda vez em que a tempestade pousou foi entre as 18h00 e   20h00 locais de sábado, passando pela vila de Macuze. A área da província da Zambézia teve ventos máximos de 148 km/h e rajadas até 213km/h.

Pessoas fugiram de suas casas quando o ciclone Freddy chegou a Vilanculos, em Moçambique
© Unicef
Pessoas fugiram de suas casas quando o ciclone Freddy chegou a Vilanculos, em Moçambique

Surto de cólera

A preocupação das autoridades é com o surto de cólera que continua  se espalhando. No domingo, o número cumulativo de casos era de 8.465 em 32 distritos. O  aumento foi de 1.114 pacientes na última semana.

Para o ambientalista Rui Silva, as mudanças climáticas tornaram mais frequentes e intensos os eventos adversos como ciclones, cheias, inundações, seca prolongada e ondas de calor.

“Sempre que um ciclone é formado a sua intensidade tem a ver com a maior ou menor temperatura superficial das aguas superficiais dos oceanos. Quando a temperatura é mais elevada o ciclone ganha muito mais força. A tendência é para que o efeito das alterações climáticas, fruto da quantidade excessiva de emissões de gases com efeito de estufa para atmosfera sejam cada vez mais acentuadas.”

No relatório da situação extrema de Moçambique, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, indica que a agência tem colaborado com governo, partilhando informações e identificando áreas para apoiar a resposta.

A agência afirma que o real impacto do ciclone Freddy em Moçambique só será conhecido nos próximos dias, porém serão necessários mais recursos para uma resposta mais ampla.

Moçambique espera receber nove ciclones que poderão fustigar o país até abril do corrente ano, sendo que cinco de efeito arrasador.

Estima-se que com a primeira passagem do ciclone Freddy tenha impactado 171.385 pessoas, enquanto cerca de 27.199 hectares de terras cultivadas foram perdidos. Um total de 29.705 hectares de terras cultivadas foram inundadas.

De Maputo para ONU News, Ouri Pota.