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Meta da Monusco era ter 9% de oficiais de sexo feminino em suas fileiras em 2022

Ação de militares brasileiras pode inspirar forças de paz na RD Congo, diz general

Monusco
Meta da Monusco era ter 9% de oficiais de sexo feminino em suas fileiras em 2022

Ação de militares brasileiras pode inspirar forças de paz na RD Congo, diz general

Paz e segurança

Novo comandante da Monusco explica como liderou combate a crimes em comunidades do Rio de Janeiro com apoio de mulheres; Otávio Miranda Filho descreve como essa realidade pode ser conjugada à experiência que adquiriu em cenários de estabilização, como o do Sudão.

Ter mais mulheres atuando ativamente como tropas de paz na linha de frente é uma aspiração do novo comandante da força da Missão da ONU na República Democrática do Congo, Monusco.

O general brasileiro Otávio Miranda Filho se prepara para seguir ao terreno e diz contar com estas integrantes para uma missão além de ter maior equilíbrio de gênero em suas fileiras. Há 30 anos, as Nações Unidas atuam no país africano que combate grupos armados e episódios de violência intercomunitária, principalmente no leste.

Mulheres militares

Em declarações à ONU News, em Nova Iorque, o comandante brasileiro disse que apostar no papel de mulheres tem sido um dos aspetos marcantes em fileiras que lidera. Ele não descarta que essa realidade contribua para as operações em território congolês.

“Essa é uma das políticas mais fortes da ONU: a inserção do segmento feminino nas missões de paz em um ambiente de igualdade. Eu sou um grande defensor dessa política. Na minha última função no Brasil, eu comandei uma região militar que é um grande comando logístico e administrativo no interior da Amazônia, na Amazônia Oriental. Eu tenho cinco anos de experiência em organização militar em ambiente de selva. Ali, de um efetivo de 200 militares que trabalham diretamente no meu quartel-general, pelo menos 90 eram mulheres. Quando estive no Sudão também trabalhei no ambiente multiétnico e multicultural, com uma grande quantidade de mulheres de todas as origens.”

Para oficial brasileiro, não se trata de ter somente um maior número de mulheres nas forças de paz, mas que elas exerçam um papel de relevância complementar ao dos homens.

Patrulha

O general enumerou benefícios para a comunidade local aplicando novas atitudes adotadas por mulheres. No ano passado, a meta da Monusco era ter 9% de oficiais de sexo feminino em suas fileiras.

“No Brasil, eu comandei uma brigada, a 9ª. Brigada, durante o período de intervenção federal no Rio de Janeiro por causa da violência nas comunidades. Ali, também eu vi a importância do papel da mulher. Quando você lança uma patrulha dentro de uma comunidade, com dezenas de milhares de pessoas e maioritariamente composta por mulheres, essa mulher dificilmente vai falar um militar do sexo masculino. Mas, com grande facilidade ela se abre quando é abordada por uma outra mulher uniformizada. Por uma mulher fardada. Então, eu tinha por prática ter sempre pelo menos duas mulheres em cada patrulha, dentro das comunidades, para conversar com a população e ter um feedback sobre qual era a percepção da população a respeito daquilo que nós estávamos fazendo. Como nós estávamos sendo vistos. Eu acho que essa experiência pode ser transportada para essa nova vivência que eu vou ter na RD Congo agora, utilizando o segmento feminino.”

O comandante defende que vale a pena ir além, envolvendo mulheres em papéis que não se limitem a campos como enfermagem, comunicação e administração. A RD Congo conta ainda com a Brigada de Intervenção para resposta armada aos grupos hostis.

General Otávio Rodrigues de Miranda Filho deverá comandar cerca de 16 mil forças policiais e militares
ONU/Monusco

 

“Por que não no patrulhamento? No sentido de ter um link com a população local. Eu acho que as mulheres têm um papel fundamental a ser desempenhado, não apenas os quartéis-generais, onde ela já tem demonstrado a sua capacidade sobejamente. Eu digo sempre que em igualdade de condições, com o mesmo background, não há diferença entre o desempenho de uma mulher ou de um homem apenas quando se pensa em gênero. A diferença vai estar na capacidade individual, mas somos absolutamente iguais. Então, eu espero contar com o apoio dessas mulheres maravilhosas também ali na República Democrática do Congo, não apenas em funções administrativas nos quartéis-generais, mas também na ponta da linha colaborando com as nossas tropas desdobradas no terreno.”

Forças policiais e militares

Fora da área militar, a Monusco pretende ter 19% mulheres implantadas em atividades de apoio à operação de paz.

A partir do final de semana, o general Otávio Rodrigues de Miranda Filho deverá estar junto das cerca de 16 mil forças policiais e militares, no país onde atuam mais de 120 milícias e grupos armados de forma ativa nas províncias orientais.

A ONU destaca que as comunidades afetadas sofrem com ações regulares marcadas por violações e abusos generalizados, que podem ser considerados crimes contra a humanidade.