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Em Doha, ONU defende apoio em grande escala aos Países Menos Desenvolvidos

António Guterres destacou que este conjunto de economias representa uma em cada oito pessoas do planeta
ONU/Evan Schneider
António Guterres destacou que este conjunto de economias representa uma em cada oito pessoas do planeta

Em Doha, ONU defende apoio em grande escala aos Países Menos Desenvolvidos

Desenvolvimento econômico

 

Secretário enfatiza combinação de fatores contribuindo para uma  “tempestade perfeita” que pode perpetuar a pobreza e a injustiça; declarações na capital do Catar foram apresentadas aos líderes do grupo de 46 economias menos avançadas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursou neste sábado em Doha, Catar, na cúpula dos líderes realizada na véspera da 5ª Conferência das Nações Unidas dos Países Menos Desenvolvidos, LDC5.

Para o líder da organização, o grupo de 46 nações carece de apoio adicional  que deve ser exigido de imediato.

Escada do desenvolvimento

António Guterres destacou que este conjunto de economias representa uma em cada oito pessoas do planeta. Ele elogiou os esforços feitos pelas nações integrantes para alcançar e manter um nível mais avançado de desenvolvimento.

No discurso, o secretário-geral advertiu que os países menos desenvolvidos do mundo estão presos em círculos viciosos que dificultam seu avanço. Ele destacou que o mundo não pode permitir que estas economias “recuem na escada do desenvolvimento, após trabalharem tanto para escalá-la.”

 Doha acolhe grupo de 46 nações em conferência que encerra na quinta-feira
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Doha acolhe grupo de 46 nações em conferência que encerra na quinta-feira

Guterres assinalou ainda que o desenvolvimento econômico é desafiador nestes  países carecendo de recursos, afogados em dívidas e combatendo a injustiça histórica de uma resposta desigual ao Covid-19.

Custo do capital

Em relação ao período de crise de saúde, Guterres mencionou a falta de acesso a vacinas e aos recursos para apoiar a recuperação de uma forma justa. 

Para ele, o desenvolvimento humano também é um desafio marcado por dificuldades em sistemas de educação, saúde e proteção social, associadas à falta de inclusão das mulheres em todos os aspectos da vida civil, econômica e política.

A emergência climática é outro problema. Para Guterres, combater a catástrofe que nada se fez nada para causar é um desafio em meio ao custo do capital altíssimo” e da ajuda financeira recebida pelo grupo que “é uma gota no balde”.

Em relação a esta questão, o chefe da ONU disse que os gigantes dos combustíveis fósseis estão obtendo enormes lucros, enquanto milhões de pessoas em países mais pobres não podem colocar comida na mesa.”

Revolução digital

Em relação ao acesso tecnológico, Guterres apontou que o grupo de nações mais pobres vem sendo esquecido na “revolução digital”.

Presidente do Maláui, Lazarus Chakwera, abriu o evento na qualidade de líder do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos
ONU/Evan Schneider
Presidente do Maláui, Lazarus Chakwera, abriu o evento na qualidade de líder do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos

 

Ele falou ainda dos efeitos da guerra na Ucrânia que elevou os preços de alimentos e combustíveis. A combinação de impactos de conflitos, fome e pobreza extrema gerou uma “tempestade perfeita” para eternizar a pobreza e a injustiça.

O fim desta realidade exige investimentos em grande escala e de forma sustentada em favor dos países menos desenvolvidos que requerem e desejam um enorme apoio financeiro e econômico.

Guterres observou que o sistema financeiro global foi projetado por países ricos, em grande parte, para benefício próprio.

Pandemia

A 5ª. Conferência da ONU sobre os Países Menos Desenvolvidos acontecerá entre os dias 5 e 9 de março. A cúpula é realizada a cada 10 anos, mas foi adiada por duas vezes desde 2021 devido à pandemia.

Em Doha, os representantes de governos e de outras partes interessadas devem avaliar a implementação do Programa de Ação de Istambul. O plano foi adotado na conferência da cidade turca que teve lugar em 2011 para mobilizar mais apoio internacional e ação para os 46 países menos desenvolvidos do mundo.

Guterres destacou que em meio a diversas injustiças, as Nações Unidas trabalham com o grupo de nações “para desenvolver estratégias de transição suave, com base em um apoio personalizado para o processo de graduação.”

Evento  juvenil reuniu representantes dos 226 milhões de integrantes do grupo dos Países Menos Desenvolvidos
ONU/Anold Kayanda
Evento juvenil reuniu representantes dos 226 milhões de integrantes do grupo dos Países Menos Desenvolvidos

 

O grupo ata ainda baseado no Programa de Ação de Doha, um roteiro adotado em março de 2022 para promover o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Irmandade de toda a humanidade

A cúpula deste sábado foi aberta pelo presidente do Maláui, Lazarus Chakwera, na qualidade de presidente do Grupo dos Países Menos Desenvolvidos.

Na sua intervenção, o líder malauiano enfatizou que desafios globais únicos associados a obstáculos multilaterais enfrentados pelo conjunto de nações não podem ser superados nenhum dos integrantes “por conta própria”.

Ele enfatizou que a maioria das nações abandona o multilateralismo e se volta para dentro, vira as costas para a irmandade de toda a humanidade, mas os países menos desenvolvidos devem “resistir a essa tentação.”

Chakwera encorajou todos os parceiros de desenvolvimento “a fazerem a sua parte para eliminar os obstáculos que se colocam no nesse rumo.

Desafios compartilhados

No evento, os líderes dos países abordam a atuação coletiva em meio aos desafios compartilhados e como buscar soluções significativas perante o quadro atual.

As orientações devem cobrir como garantir a implementação efetiva e oportuna das metas, os compromissos e os resultados estabelecidos no Programa de Ação de Doha para o grupo para a década de 2022-2031 e na Declaração Política de Doha.

Capital do Catar acolheu fóruns dedicados ao setor privado, à juventude e aos parlamentares
ONU/Anold Kayanda
Capital do Catar acolheu fóruns dedicados ao setor privado, à juventude e aos parlamentares

Na capital do Catar devem ocorrer ainda reuniões dos líderes mundiais com o setor privado, sociedade civil, parlamentares e jovens para promover ideias, mobilizar apoio e incentivar a implementação dos compromissos do Programa de Ação de Doha.

Neste sábado, a capital do Catar teve fóruns dedicados ao setor privado, à juventude e aos parlamentares.

O evento que reuniu representantes dos 226 milhões de jovens dos Países Menos Desenvolvidos foi o primeiro fórum dedicado ao grupo etário realizado em paralela a uma conferência do grupo de economias.

Os 46 países não desenvolvidos listados pela ONU:

• 33 da África: Angola, Benim, Burkina Fasso, Burundi, República Centro-Africana, Chade, Comores, República Democrática do Congo, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Lesoto, Libéria, Madagáscar, Maláui, Mali, Mauritânia, Moçambique, Níger, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Tanzânia, Togo, Uganda e Zâmbia

• 9 da Ásia: Afeganistão, Bangladesh, Butão, Camboja, República Popular Democrática do Laos, Mianmar, Nepal, Timor-Leste e Iêmen

• 1 do Caribe: Haiti

• 3 do Pacífico: Kiribati, Ilhas Salomão e Tuvalu