Perspectiva Global Reportagens Humanas

Impacto da Covid em crianças e jovens pode resultar em geração perdida

Relatório constata que os estudantes de hoje podem perder até 10% de seus ganhos futuros devido aos choques na educação provocados pela Covid-19
© Unicef/Claudio Versiani
Relatório constata que os estudantes de hoje podem perder até 10% de seus ganhos futuros devido aos choques na educação provocados pela Covid-19

Impacto da Covid em crianças e jovens pode resultar em geração perdida

Desenvolvimento econômico

Pandemia prejudicou desenvolvimento cognitivo de uma geração, no que pode ser traduzido em uma queda de até 25% nos rendimentos em suas vidas adultas, colocando em risco o bem-estar e o crescimento da economia

A pandemia de Covid-19 causou uma enorme queda no capital humano em momentos críticos do ciclo de vida, prejudicando o desenvolvimento de milhões de crianças e jovens em países de renda baixa e média, segundo novos dados globais sobre pessoas com menos de 25 anos no início da pandemia.

O novo relatório do Banco Mundial, Colapso e Recuperação: como a pandemia de Covid-19 deteriorou o capital humano e o que fazer a respeito, analisa os impactos da pandemia nas crianças e nos jovens, nos principais estágios do desenvolvimento: primeira infância de 0 a 5 anos, idade escolar de 6 a 14 anos, e juventude de 15 a 24 anos.

Menino de 12 anos na sala de aula vazia de uma escola que foi fechada durante a pandemia de Covid-19
© Unicef/Zahara Abdul
Menino de 12 anos na sala de aula vazia de uma escola que foi fechada durante a pandemia de Covid-19

Rendimento na fase adulta

O relatório constata que os estudantes de hoje podem perder até 10% de seus ganhos futuros devido aos choques na educação provocados pela Covid-19. Além disso, o déficit cognitivo nas crianças pequenas de hoje pode se traduzir em uma queda de 25% nos rendimentos em suas vidas adultas.

O capital humano – o conhecimento, as competências e a saúde que as pessoas acumulam ao longo de suas vidas – é fundamental para liberar o potencial de uma criança e permitir que os países consigam se recuperar de forma resiliente e alcançar um crescimento futuro sólido.

No entanto, a pandemia fechou escolas e locais de trabalho e interrompeu outros serviços essenciais que protegem e promovem o capital humano, como a assistência médica materna e infantil, além da capacitação profissional.

Menino ajuda família a trabalhar a terra no nordeste do Brasil
Banco Mundial/Scott Wallace
Menino ajuda família a trabalhar a terra no nordeste do Brasil

Jovens no Brasil

Na América Latina e no Caribe, os dados mostram um declínio acentuado no emprego jovem. Essas quedas foram particularmente acentuadas no início da pandemia no Brasil, com uma queda de 6%. O número de jovens que não estavam empregados nem matriculados em escolas ou em cursos de capacitação no país aumentou substancialmente e chegou a 22% no último trimestre de 2021. 

Estar desempregado ou ter um emprego mal remunerado quando se entra no mercado de trabalho pode deixar marcas – estima-se que o impacto pode perdurar por até 10 anos. No final de 2021, o emprego jovem recuperou os níveis anteriores à pandemia, mas a tendência de médio e longo-prazo deste indicador continua a ser relativamente baixa, desde 2011, início do período de análise.

Reabertura segura de escolas no estado do Rio Grande do Norte, no Brasil.
© UNICEF/Alessandro Potter
Reabertura segura de escolas no estado do Rio Grande do Norte, no Brasil.

Fechamento parcial ou total

Para crianças em idade escolar, o estudo constatou que, no Brasil, entre março de 2020 e março de 2022, cada aluno havia perdido um ano de escolaridade presencial devido ao fechamento da escola.

De 1º de abril de 2020 a 31 de março de 2022, as escolas brasileiras ficaram totalmente fechadas por 44% do tempo. Foram parcial ou totalmente fechadas por 90% do tempo no mesmo período.

As matrículas no pré-escolar diminuíram e mantiveram-se em baixa em mais de 13 pontos percentuais no final de 2021 no país, em comparação ao que estava previsto na ausência da pandemia. Além disso, os declínios nas matrículas escolares foram maiores entre crianças em famílias de menor nível socioeconômico.

Opções

Essas perdas são um chamado à ação. As pessoas que tinham menos de 25 anos no início da pandemia representarão 90% da força de trabalho em idade ativa em 2050.

Diante desse verdadeiro colapso do capital humano, o que se pode fazer? A boa notícia é que existem estratégias comprovadas para a recuperação dessas perdas. Aumentar a cobertura da educação pré-escolar e melhorar seu conteúdo são bons exemplos.

Ambos trariam benefícios de curto prazo, ajudando as crianças a se prepararem melhor para o aprendizado. A longo prazo, eles demonstraram aumentar a frequência no ensino superior e os rendimentos.

Uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total devido às condições de saúde e educação, agravadas pela pandemia de Covid-19
Acnur/Lucas Novaes
Uma criança brasileira nascida em 2021 perderá, em média, 46% do seu potencial total devido às condições de saúde e educação, agravadas pela pandemia de Covid-19

Programas de recuperação

Para crianças em idade escolar, simplesmente tê-las de volta à escola não será suficiente. Uma criança que parou de ir à escola na segunda série e ficou em casa por um ano não poderá acompanhar o currículo da quarta série ao retornar. Será importante adequar o ensino ao nível de aprendizado desses alunos.

Aumentar o tempo de aula e os programas de recuperação – como aulas de compensação – também pode reverter as perdas de aprendizagem.

Os jovens precisam de ajuda para um bom ingresso no mercado de trabalho. Programas de capacitação, de intermediação e de empreendedorismo adaptados para jovens, além de estágio profissionais, são particularmente importantes.

Quando são considerados rendimentos individuais mais elevados, maior receita de impostos e uma menor necessidade de assistência social, a maioria desses programas direcionados a crianças e jovens acabam por compensar o investimento, tendo até retornos mais elevados do que programas voltados para os adultos. 

 

De Brasília, Sidrônio Henrique do Banco Mundial para a ONU News.