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Após terremoto, neve agrava sofrimento dos sírios

PMA fornece assistência alimentar vital às famílias na Síria afetadas pelo terremoto arrasador
© Al-Ihsan Charity
PMA fornece assistência alimentar vital às famílias na Síria afetadas pelo terremoto arrasador

Após terremoto, neve agrava sofrimento dos sírios

Ajuda humanitária

Coordenador residente da ONU na Síria disse que 10,9 milhões de pessoas no país foram afetadas pelo desastre; tremores complicaram ainda mais a crise no noroeste do país, onde 90% da população já dependia de assistência; pelo menos 11 mil pessoas morreram nos dois países atingidos.

O frio e a neve na Síria desta quarta-feira agravaram a situação já desesperadora enfrentada por milhões de pessoas nas cinco províncias afetadas pelo terremoto do dia 6 de fevereiro.  

A informação foi dada pelo coordenador residente da ONU na Síria, que falou a jornalistas por vídeo, diretamente da capital Damasco.

El-Mostafa Benlamlih, coordenador residente da ONU e coordenador humanitário interino para a Síria
ONU News
El-Mostafa Benlamlih, coordenador residente da ONU e coordenador humanitário interino para a Síria

Progresso perdido

El-Mostafa Benlamlih disse que todas as conquistas anteriores foram perdidas. Por exemplo, quem tinha um pequeno negócio o perdeu, quem podia ir à escola não pode mais, tal como mulheres que podiam ir para centros de proteção.

Três dias após o duplo terremoto na vizinha Turquia, a situação continua terrível e ainda mais precária na Síria. O representante alertou que aumentou o número de pessoas que precisam de assistência humanitária. Antes do terremoto, eram cerca de 15,3 milhões.

Benlamlih disse que 10,9 milhões de pessoas na Síria foram afetadas pela catástrofe nas províncias do noroeste de Hama, Latakia, Idlib, Aleppo e Tartus.

Ele também informou que só em Alepo, cerca de 100 mil pessoas estão desabrigadas, mas apenas 30 mil encontraram abrigo em escolas e mesquitas.

Destruição em Gaziantep, um dia após o grande terremoto que matou mais de 8 mil pessoas.
OIM/Olga Borzenkova
Destruição em Gaziantep, um dia após o grande terremoto que matou mais de 8 mil pessoas.

Ajuda humanitária prejudicada

O coordenador residente confirmou que as estradas que levam à única rota de ajuda transfronteiriça permitida para o noroeste da Síria, pela Turquia, foram danificadas. A expectativa é que a passagem seja reaberta na quinta-feira.

Ele lembrou que as equipes humanitárias da ONU e parceiros começaram a trabalhar “desde a primeira hora do desastre” usando estoques de alimentos, kits médicos e de dignidade.

Benlamlih ressaltou que o mais importante é alcançar as pessoas que neste momento aguardam desesperadas por ajuda, citando as crianças presas no inverno rigoroso.

Milhares de crianças e famílias em risco depois que dois terremotos arrasadores atingiram o sudeste de Turquia e a Síria em 6 de fevereiro de 2023
© Unicef/Can Erok
Milhares de crianças e famílias em risco depois que dois terremotos arrasadores atingiram o sudeste de Turquia e a Síria em 6 de fevereiro de 2023

Cidade já destruída pela guerra

A ONU News conversou com o trabalhador humanitário Francesco Galtieri. De Damasco, ele contou que acordou com o tremor, no país onde serviu por três anos como funcionário humanitário.

Francesco disse que as cidades de Alepo e Latakia, que está na zona costeira da Síria, tiveram muitos edifícios afetados que ficaram completamente destruídos. E lembrou que Alepo já havia sido danificada durante os primeiros anos do conflito.

Segundo agências de notícias, o terremoto mais mortal do mundo em mais de uma década, já deixou pelo menos 11 mil mortos nos dois países atingidos.

Fundo de emergência e assistência alimentar

O Escritório para Assuntos Humanitários, Ocha, também destacou que funcionários e contratados da ONU que trabalham em Gaziantep, cidade turca onde foi o epicentro, também foram afetados diretamente pelo desastre, com alguns procurando por suas famílias nos escombros.

Mais de 50 equipes de resposta a emergências, busca e resgate foram enviadas para a região e a agência também informou que US$ 25 milhões em fundos de emergência foram liberados pela ONU para apoiar a resposta.

O Programa Mundial de Alimentos, PMA, informou que caminhões partiram de armazéns em Ancara, capital turca, carregando alimentos para cerca de 17 mil pessoas impactadas que agora buscam abrigo.

A agência disse nesta quarta-feira que planejava alcançar meio milhão de pessoas em ambos os países com a necessária assistência alimentar.

Alimentos são distribuídos a pessoas deslocadas após o terremoto em Alepo, na Síria
© Al-Ihsan Charity
Alimentos são distribuídos a pessoas deslocadas após o terremoto em Alepo, na Síria

Alívio para as famílias

O PMA também confirmou ter alcançado quase 64 mil pessoas, fornecendo alimentos prontos para consumo e refeições quentes. A comida que está sendo distribuída não requer cozimento e proporciona alívio imediato para as famílias em situação precária e agravada pelas baixas temperaturas.

No sudeste de Turquia, a agência coordena com as autoridades o fornecimento de cestas básicas para as pessoas em acampamentos temporários. Os campos já abrigavam cerca de 44 mil sírios sob proteção temporária e agora incluem cidadãos turcos recém-deslocados.

Onde não há mais acesso a supermercados, o PMA planeja fornecer cestas básicas a cidadãos turcos por até duas semanas, enquanto os serviços se estabilizam.

Na Síria, a agência e seus parceiros locais entregaram alimentos prontos para consumo e refeições quentes diárias para as 38 mil pessoas afetadas em abrigos.

Desastre complicou situação humanitária

Segundo o PMA, no noroeste do país, os terremotos complicaram ainda mais a crise humanitária aguda, onde 90% da população já dependia de assistência. Destas, cerca de 3 milhões de pessoas haviam sido deslocadas por conflitos, muitas vezes mais de uma vez.

A agência ressaltou ainda que “lamenta todas as vidas perdidas nesta tragédia”, que incluem pelo menos um de seus funcionários.