Relatores da ONU pedem investigação de possíveis crimes de guerra no Mali

Em comunicado, especialistas em direitos humanos citam violações cometidas por forças do governo e pelo grupo de mercenários Wagner; há relatos de tortura, estupros, saques, detenções arbitrárias além de centenas de execuções.
Relatores de direitos humanos da ONU* pediram nesta terça-feira uma investigação independente e imediata sobre graves abusos dos direitos humanos e possíveis crimes de guerra e contra a humanidade cometidos no Mali.
Segundo os especialistas, as violações foram cometidas pelas forças do governo maliano e por mercenários do Grupo Wagner, que tem sede da Rússia.
Desde 2021, os relatores estão recebendo denúncias de execuções terríveis, valas comuns, atos de tortura, estupro e violência sexual. São casos de saques, detenções arbitrárias e desaparecimentos forçados na região de Mopti, que fica no centro do Mali, e outras partes.
Os relatores estão preocupados com relatos críveis de que, ao longo de vários dias no final de março passado, as forças armadas do Mali e militares particulares do Grupo Wagner, teriam executado centenas de pessoas.
As vítimas teriam sido detidas em Moura, uma aldeia no centro do Mali. E a maioria das vítimas pertencia à minoria Peuhl.
Outra preocupação é com o aparente aumento da terceirização de funções militares tradicionais para o Grupo Wagner em várias operações militares.
Para os especialistas em direitos humanos, o uso de mercenários, agentes semelhantes a mercenários e empresas privadas de segurança e militar só agrava o ciclo de violência e impunidade que prevalece no Mali.
As vítimas do Grupo Wagner enfrentam muitos desafios no acesso à justiça e reparação pelos abusos dos direitos humanos, incluindo violência sexual e crimes relacionados.
Para os relatores, “a falta de transparência e ambiguidade sobre a situação jurídica do Grupo Wagner, combinada com represálias contra aqueles que ousam se manifestar, criam um clima geral de terror e total impunidade para as vítimas dos abusos do Grupo Wagner”.
A violência no Mali foi tema de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira. O representante especial da ONU no Mali, El-Ghassim Wane, disse que estabilizar o Mali é crucial, não apenas para o país, mas para toda a região.
Ele pediu uma “conjuntura única” nos esforços para promover paz e segurança duradouras.
Segundo ele, embora muito tenha sido feito nesse período, “os objetivos que foram definidos pelo Conselho ainda não foram totalmente alcançados” e houve muita mudança nos últimos 10 anos.
Após o golpe militar de agosto de 2020, houve uma instalação do governo civil, mas a insegurança contínua e as necessidades humanitárias permanecem.
De acordo com ele, desde então, a situação de segurança mantém-se “complexa”, sobretudo no centro do país e na região da tríplice fronteira com Burkina Fasso e Níger.
Devido às atividades de grupos extremistas, o deslocamento interno continua alto. Em dezembro, o número era de cerca de 412 mil pessoas.
No total, 8,8 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, um aumento de 17% desde o início de 2022. Dois milhões de crianças menores de cinco anos continuam afetadas pela desnutrição aguda.
*Os relatores de direitos humanos são independentes da ONU e não recebem salário pelo seu trabalho.