Holocausto: Guterres alerta para perigo do discurso de ódio antissemita na internet
Secretário-geral discursou em cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto; para ele, mundo online é uma das principais razões pelas quais o discurso de ódio, as ideologias extremas e a desinformação estão se disseminando tão rapidamente pelo globo.
A Assembleia Geral da ONU abrigou uma cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, nesta sexta-feira. Participaram sobreviventes, familiares de vítimas, acadêmicos e artistas.
A subsecretária-geral de Comunicação Global abriu a solenidade relembrando os horrores do genocídio dos judeus.
Impedir que aconteça novamente
Melissa Fleming ressaltou a importância de impedir outros holocaustos no futuro. E pediu um momento de silêncio pelas vítimas.
Em seguida, o secretário-geral da ONU António Guterres lembrou que, em poucos meses, os nazistas desmantelaram os direitos constitucionais fundamentais e pavimentaram o caminho para o regime totalitário: membros do Parlamento foram presos, a liberdade de imprensa abolida e o primeiro campo de concentração construído em Dachau.
Guterres ressaltou que o antissemitismo dos nazistas se tornou política de governo, seguido de violência e assassinatos em massa. E que até o final da guerra, seis milhões de crianças, mulheres e homens, quase dois em cada três judeus europeus, haviam sido assassinados.
Alertas ignorados
Ele traçou paralelos entre 1933 e o mundo de hoje, dizendo que “os sinais de alarme já soavam em 1933”, mas “poucos se deram ao trabalho de ouvir e menos ainda dizer algo”.
Para Guterres, vivemos em um mundo em que uma crise econômica está gerando descontentamento, demagogos populistas estão usando a crise para ganhar votos, e “desinformação, teorias da conspiração paranoica e discurso de ódio descontrolado” estão desenfreados.
Além disso, ele cita um crescente desrespeito pelos direitos humanos e desdém pelo Estado de direito, com o surgimento de supremacistas brancos e ideologias neonazistas, negação do Holocausto e revisionismo, e crescente antissemitismo, assim como outras formas de fanatismo religioso e ódio.
“O antissemitismo está em toda parte”
O secretário-geral lamentou o fato de que o ódio antissemita pode ser encontrado em todos os lugares hoje e está aumentando em intensidade.
Guterres citou vários exemplos, como ataques a judeus ortodoxos em Nova Iorque, alunos judeus intimidados em Melbourne, na Austrália, e suásticas pintadas no memorial do Holocausto na capital alemã, Berlim.
Ele acrescentou que os neonazistas agora representam a ameaça número um à segurança interna em vários países, e que os movimentos de supremacia branca estão se tornando mais perigosos.
Ódio e mentiras na internet
Para o chefe da ONU, o mundo online é uma das principais razões pelas quais o discurso de ódio, as ideologias extremas e a desinformação estão se disseminando tão rapidamente em todo o mundo. Ele apelou a todos os envolvidos, de empresas de tecnologia a formuladores de políticas e mídia, para fazer mais.
Guterres criticou as plataformas de mídia social e seus anunciantes que, segundo ele, são cúmplices em levar o extremismo ao palco principal, transformando muitas partes da internet em “depósitos de lixo tóxico para ódio e mentiras perversas”.
A contribuição da ONU para abordar a questão inclui a Estratégia e o Plano de Ação do Secretário-Geral sobre o Discurso de Ódio, propostas para um Pacto Digital Global para um futuro digital aberto, gratuito, inclusivo e seguro e um código de conduta para promover a integridade nas relações públicas em formação.
Novas ondas de antissemitismo
O presidente da Assembleia Geral também discursou na cerimônia. Csaba Korosi lembrou ao público que, embora a Assembleia tenha sido criada para garantir que ninguém tenha que passar pelo o que os sobreviventes do Holocausto sofreram, 2023 já está vendo “novas ondas de antissemitismo e negação do Holocausto” em todo o mundo.
Korosi disse que “como veneno, eles se infiltram em nossa vida cotidiana. Nós os ouvimos de políticos, e lemos na mídia”. Para ele, o ódio que tornou possível o Holocausto continua.
O presidente da Assembleia Geral pediu resistência contra os “tsunamis de desinformação que estão caindo sobre a internet”.