Comunidade agrícola em Cabo Verde investe em resiliência climática após anos de seca
Secretário-geral, António Guterres, visitou produtores rurais em Vale do Paúl, na Ilha de Santo Antão, no extremo ocidente de Cabo Verde; ele conversou com agricultores sobre ações de resiliência climática; líder da ONU participa da Cimeira do Oceano, nesta segunda-feira.
Uma iniciativa das Nações Unidas e parceiros internacionais com a Ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, está beneficiando o trabalho de pequenos produtores rurais após uma seca de cinco anos.
O projeto “Fomento de práticas agrícolas sustentáveis” no município de Paúl conta com o financiamento de Luxemburgo, entre outros doadores, e tem o apoio da agência da ONU para Alimentação e Agricultura, FAO, e do Programa para o Desenvolvimento, Pnud.
Menos água para cultivo e redução de rebanhos
A meta é transformar o setor agrícola e fomentar a criação de empregos para quase 100 jovens e mulheres e 90 agricultores.
Ao todo, são beneficiados 285 pequenos produtores de feijão, cassava, banana, café, papaia, couve e outros alimentos.

Localizada no extremo oeste de Cabo Verde, a Ilha de Santo Antão enfrenta os sinais das mudanças climáticas com quedas do fluxo de água para a agricultura e a redução no número de rebanhos. António Guterres está em Cabo Verde para participar da Cimeira do Oceano.
O Vale Paúl, com pouco mais de 7 mil moradores, abriga o que a especialista da FAO, Katya Neves, descreve como um jardim experimental com vários tipos de cultivos.
O chefe da ONU conversou com alguns agricultores no projeto que incentiva a participação de mulheres.
Importância de diversificar as culturas
Uma delas é Angela Silva. Filha e neta de lavradores, ela diz sentir mudanças nas águas de Cabo Verde e no trato com a terra ela planta bananas, cana de açúcar e hortaliças. Ela falou à ONU News sobre o que espera do trabalho no campo.
“O meu sonho é transformar aquilo numa floresta de alimentos para os meus filhos e também para os meus netos. Para além de estarmos numa ilha agrícola, mas nossa alimentação é pobre porque as pessoas se dedicam mais à cana sacarina e esquecem de por outras culturas. E, por vezes, a pouca quantidade que produzimos aqui é vendida, por exemplo, no Porto Novo. Às vezes, procuramos por um produto aqui, mas não encontramos. Encontramos mais no Porto Novo.”
Sinais de mudança do clima
Angela Silva conta que fez a formação de fertilização de terrenos. As parcelas da plantação que ela gerencia ficam numa zona muito alta. E segundo a agricultora, é difícil levar o adubo e outros elementos para preparar o terreno.
Ela disse à ONU News que os agricultores em Santo Antão já percebem os sinais da mudança climática.

“Há muita seca, há perda de sementes, às vezes cultivamos, mas aquilo fica só no desperdício. Há muita dificuldade no abastecimento de água. O que temos aqui é mais rega tradicional porque se desperdiça muita água. Agora que as pessoas estão a investir também na gota a gota. É o meu sonho também. Mas faltam os recursos porque eu sou professora. Tenho filhos. Ainda não tenho possibilidade de colocar aquilo. Mas há muita falta d’água. Principalmente nos meses de maio e agosto, se não chover, fica difícil.”
Detritos plásticos na corrente oceânica
Um dos cultivos no projeto em Paúl é uma espécie de cassava ou aipim resistente à seca. Juntos, os agricultores criaram uma associação para fornecer alimentos para mais localidades à medida que tentam conter os efeitos adversos às plantações.
Dados divulgados pelas Nações Unidas revelam que pela sua localização geográfica, as ilhas cabo-verdianas sofrem com um fluxo de detritos plásticos que são levados pela corrente oceânica.

Após sua reunião com o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, António Guterres disse que Cabo Verde está na linha de frente dos efeitos da mudança climática e citou a seca enfrentada pelo país.
Nesta segunda-feira, António Guterres participará da cerimônia de abertura da Ocean Race, o desafio global de regatas, em Mindelo, que conta com a presença do primeiro-ministro.
O chefe das Nações Unidas deve se reunir depois com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves antes de deixar o país.