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ONU pede reorganização financeira global radical para ajudar Paquistão após inundações mortais

O secretário-geral da ONU pediu apoio maciço à comunidade internacional com um esforço de reconstrução de US$ 16 bilhões
ONU/Violaine Martin
O secretário-geral da ONU pediu apoio maciço à comunidade internacional com um esforço de reconstrução de US$ 16 bilhões

ONU pede reorganização financeira global radical para ajudar Paquistão após inundações mortais

Ajuda humanitária

Secretário-geral discursou em Genebra durante conferência internacional realizada para arrecadar fundos para reconstrução do país, afetado por chuvas e alagamentos em junho de 2022; custo será superior a US$ 16 bilhões.

As Nações Unidas e o governo do Paquistão realizaram nesta segunda-feira, em Genebra, uma conferência internacional para reunir apoio para reconstrução do país após as inundações devastadoras de 2022.

O evento contou com 250 participantes, incluindo chefes de Estado, ministros e   líderes de instituições financeiras e de desenvolvimento internacional, além da sociedade civil.

Refugiados afegãos abrigam-se numa tenda depois de serem deslocados pelas inundações de monções no distrito de Nowshera, no Paquistão.
Acnur/Usman Ghani
Refugiados afegãos abrigam-se numa tenda depois de serem deslocados pelas inundações de monções no distrito de Nowshera, no Paquistão.

Resiliência e Justiça

O secretário-geral da ONU pediu apoio maciço à comunidade internacional com um esforço de reconstrução de US$ 16 bilhões, dizendo que o país foi vítima do caos climático e do sistema financeiro global.

Para António Guterres, esse auxílio “não é solidariedade, é justiça”, afirmando que a conferência é focada em resiliência.

O chefe das Nações Unidas lembrou a “longa e orgulhosa história do Paquistão de acolher, proteger e apoiar milhões de refugiados afegãos” que vivem atualmente no país.

Prevenção de desastres

Guterres disse acreditar que esse espírito de generosidade e resiliência precisa ser combinado com o apoio da comunidade global. Para ele, isso precisa acontecer de três maneiras fundamentais.

Primeiro, indicou investimentos maciços apoiando o Paquistão na reconstrução de casas, prédios e infraestrutura, para alavancar empregos e agricultura, e garantir o acesso à tecnologia e conhecimento para ajudar a enfrentar futuros desastres.

Em segundo lugar, com ação revolucionária nas finanças. Para o secretário-geral da ONU, além dos desastres naturais, o Paquistão também é vítima do desastre causado por ações humanas de um sistema financeiro global moralmente falido.

Guterres renovou seu apelo aos líderes globais e aos bancos multilaterais de desenvolvimento para que unam forças e adotem formas criativas para que os países em desenvolvimento tenham acesso ao alívio da dívida e financiamento quando mais precisarem.

Em terceiro, o chefe da ONU explicou que a resiliência requer uma ação climática significativa agora.

Área residencial inundada de uma vila na província de Sindh, Paquistão
© Unicef/Asad Zaidi
Área residencial inundada de uma vila na província de Sindh, Paquistão

Mais de 33 milhões impactados

Mais de 33 milhões de pessoas foram afetadas pelas inundações nas áreas de Sindh e Baluchistão, no que é considerado o maior desastre climático do Paquistão.

Meses após a emergência inicial, as enchentes baixaram apenas parcialmente e o desastre está longe de terminar para cerca de oito milhões que foram forçados a fugir da enchente, que também matou mais de 1,7 mil pessoas.

Mais de 2,2 milhões de casas foram destruídas junto com 13% de todas as unidades de saúde, 4,4 milhões de acres de plantações e mais de 8 mil quilômetros de estradas e outras infraestruturas vitais, incluindo cerca de 440 pontes.

Mudança profunda

O chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, Achim Steiner, destacou a escala da ameaça global representada pelas mudanças climáticas e a relevância da necessidade de encontrar financiamento para a adaptação climática para os países em desenvolvimento.

Segundo ele, as inundações no leste da Austrália, os eventos climáticos extremos no oeste da Califórnia e na Europa, e a ausência de neve no inverno, mostram os tempos de mudanças profundas.

Crianças voltam para casa em meio a enchentes contaminadas em Jacobabad, província de Sindh, no Paquistão.
© Unicef/Saiyna Bashir
Crianças voltam para casa em meio a enchentes contaminadas em Jacobabad, província de Sindh, no Paquistão.

Crianças vulneráveis afetadas

Paralelamente à conferência em Genebra, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, destacou o custo humano contínuo da emergência no Paquistão.

Segundo a agência da ONU, “até 4 milhões de crianças ainda vivem próximas a águas contaminadas e estagnadas, arriscando sua sobrevivência e bem-estar”.

O Unicef alerta que as infecções respiratórias agudas “dispararam” nas áreas afetadas pelas inundações, enquanto o número de crianças que sofrem de desnutrição aguda grave nas mesmas áreas quase dobrou entre julho e dezembro, em comparação com 2021, deixando cerca de 1,5 milhão de jovens ainda precisando de cuidados nutricionais que salvam vidas.

Promessas de apoio

À medida que a conferência terminava, os delegados anunciaram promessas totalizando mais de US$ 9 bilhões para ajudar nas principais necessidades pós-desastre e na resposta humanitária em andamento, como parte do plano do Paquistão para uma recuperação, reabilitação e reconstrução resilientes.

As prioridades imediatas incluem restaurar os meios de subsistência das pessoas afetadas, incluindo os mais vulneráveis, juntamente com serviços básicos “de forma resiliente e sustentável”, disseram os copresidentes.