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Irã é retirado de maior comissão sobre direitos das mulheres nas Nações Unidas

Sala do Conselho Econômico e Social, Ecosoc
UN Photo/JC McIlwaine
Sala do Conselho Econômico e Social, Ecosoc

Irã é retirado de maior comissão sobre direitos das mulheres nas Nações Unidas

Mulheres

Conselho Econômico e Social adotou resolução para saída do país da Comissão sobre o Estatuto da Mulher; mandato do Irã iria até 2026, mas foi abreviado em votação de 29 países a favor, oito contra e 16 abstenções; decisão ocorre após morte de jovem iraniana Mahsa Amini, presa por não usar corretamente o véu islâmico.

O Irã não faz mais parte da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, nas Nações Unidas. A decisão foi anunciada, na quarta-feira, pelo Conselho Econômico e Social, Ecosoc, em Nova Iorque.

O Conselho adotou uma resolução, apresentada pelos Estados Unidos, que pedia a retirada do Irã, após o tratamento do país aos direitos da mulher desde a morte de uma jovem iraniana, de 22 anos.

Uso excessivo da força

Mahsa Amini foi presa em 13 de setembro, em Teerã, pela Polícia da Moralidade do país, porque não estaria usando o véu corretamente. Dias depois, ela morreu sob custódia do Estado.

Protesto na Trafalgar Square, em Londres, com pôster de Mahsa Amini
Unsplash/Neil Webb

A decisão, nessa quarta-feira em Nova Iorque. foi aprovada por 29 países. Oito votaram contra a saída do Irã e 16 se abstiveram.

A Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW, se reúne anualmente, em março, na sede da ONU. A conferência é considerada a maior reunião com defensores dos direitos de igualdade de gênero do mundo.

Na resolução, os Estados Unidos expressaram “séria preocupação” com as ações do governo iraniano desde a morte de Mahsa Amini.

Segundo o texto, o governo estava “minando e reprimindo, de forma crescente, os direitos humanos de mulheres e meninas, além de usar da força excessiva.”

“Ativistas iranianas: coragem e liderança”

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que o Comitê não poderia permitir que o seu trabalho em defesa das mulheres fosse minado por dentro do próprio grupo.

Para ela, a presença do Irã, como membro, era “uma mancha” na Comissão. A embaixadora elogiou o trabalho das ativistas iranianas, tanto na sala do Ecosoc como no mundo. Ela enalteceu a coragem, a visão, os sacrifícios e a liderança das mulheres iranianas.

Thomas-Greenfield lembrou os relatos de que Mahsa Amini foi espancada a caminho da prisão e que entrou em coma três dias depois.

Para a embaixadora, a jovem morreu por “cometer o crime de ser uma mulher”, e que há muito tempo, isso não tem sido raro no Irã.

“Precedente perigoso”

O embaixador do Irã, Amir Saeid Jalil Iravani, discursou antes da votação rejeitando “categoricamente” o texto.

Para ele, não era inesperado que os Estados Unidos estivessem cometendo uma ação ilegal contra seu país, mas caso fosse aprovada, a resolução seria um “perigoso precedente” para a ONU.

Estabelecida em 1946, a Comissão sobre o Estatuto da Mulher tem sido fundamental na promoção dos direitos femininos documentando a realidade de padrões globais sobre igualdade de gênero e autonomia das mulheres.

Os 45 membros da CSW são eleitos pelo Ecosoc baseando-se na distribuição geográfica equitativa, e têm mandato de quatro anos.