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Com evolução de conflitos, Conselho de Segurança destaca multilateralismo

O secretário-geral António Guterres discursa na reunião do Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e segurança internacionais
ONU/Loey Felipe
O secretário-geral António Guterres discursa na reunião do Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e segurança internacionais

Com evolução de conflitos, Conselho de Segurança destaca multilateralismo

O secretário-geral António Guterres discursa na reunião do Conselho de Segurança sobre a manutenção da paz e segurança internacionais
Paz e segurança

Secretário-geral da ONU fez recomendações para lidar com isso, começando com uma Nova Agenda para a Paz, que ele apresentará aos Estados-membros no próximo ano; presidente da Assembleia Geral ressaltou que falta de ação e profundas divisões geopolíticas impediram respostas e progressos no órgão.

Guerras, terrorismo, questões na segurança coletiva e limitações de manutenção da paz continuam sendo os mesmos desafios enfrentados pelo multilateralismo desde quando a ONU foi fundada, há 77 anos. Foi o que disse o secretário-geral, António Guterres, ao Conselho de Segurança nesta quarta-feira.

Apontando para o relatório “Nossa Agenda Comum”, um projeto para a cooperação global, ele afirmou que o fortalecimento do multilateralismo tem sido sua “maior prioridade”.

O sistema multilateral deve entregar bens comuns conforme definido pelo direito internacional, normas e acordos
Unsplash/Jeshoots
O sistema multilateral deve entregar bens comuns conforme definido pelo direito internacional, normas e acordos

Evolução dos conflitos

O chefe da ONU lembrou que “durante os períodos mais sombrios da Guerra Fria, a tomada de decisão coletiva e o diálogo contínuo no Conselho de Segurança mantiveram um sistema funcional, embora imperfeito, de segurança coletiva que impediu o conflito militar entre as grandes potências, até mesmo hoje”.

Apesar disso, “o conflito evoluiu dramaticamente”. Guterres citou mudanças fundamentais, em como as guerras são travadas, por quem e onde, assim como as armas letais mais baratas e sofisticadas, alertando que “a humanidade tem a capacidade de se aniquilar inteiramente”.

Para ele, a crise climática e as tecnologias digitais que espalham desinformação e discurso de ódio também contribuem, com o “ciberespaço, cadeias de suprimentos, migração, informações, serviços comerciais e financeiros e investimentos sendo transformados em armas”.

O secretário-geral alerta que as estruturas de cooperação global não acompanharam essa evolução. E que a caixa de ferramentas, normas e abordagens precisam ser atualizadas.

Agenda de paz

Começando com uma Nova Agenda para a Paz, que ele apresentará aos Estados-membros no próximo ano.

Segundo Guterres, a Agenda terá “uma visão de longo prazo e uma lente ampla”, dialogando sobre os desafios de segurança locais, nacionais, regionais e internacionais, e proporcionando uma oportunidade para fazer um balanço e mudar de rumo porque “continuar da mesma forma não significa que as coisas permanecerão como são”.

Para ele, “em um mundo onde a única certeza é a incerteza, isso significa quase certamente que as coisas ficarão muito piores”.

Além disso, a Agenda articulará o trabalho da organização em relação à paz e segurança, estabelecendo uma abordagem abrangente para a prevenção e vinculando paz, desenvolvimento sustentável, ação climática e segurança alimentar. E ainda, como a ONU se adapta a ameaças cibernéticas, guerra de informação e outras formas de conflito.

Outro ponto da iniciativa é fazer com que os Estados-membros reforcem as soluções multilaterais e administrem a competição geopolítica, apelando para novas normas, regulamentos e mecanismos de responsabilização.

Chefe da ONU observa o SSI Invincible 2 na Turquia. Navio transportou da Ucrânia a maior carga de grãos já exportada sob a Iniciativa de Grãos do Mar Negro
ONU/Mark Garten
Chefe da ONU observa o SSI Invincible 2 na Turquia. Navio transportou da Ucrânia a maior carga de grãos já exportada sob a Iniciativa de Grãos do Mar Negro

Ações pioneiras

O chefe da ONU citou a Iniciativa Grãos do Mar Negro para mostrar que as Nações Unidas ainda têm um papel único e importante na intermediação de soluções para os desafios globais.

Ele destacou que este ano a Assembleia Geral aprovou muitas resoluções importantes, incluindo aquelas sobre a guerra na Ucrânia, o direito a um meio ambiente saudável e o uso do veto do Conselho.

Guterres acrescentou que “o desafio à frente é claro… salvar as próximas gerações do flagelo da guerra… com um multilateralismo revitalizado que seja eficaz, representativo e inclusivo”.

Momento divisor de águas

Já o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Korosi, discursou aos membros do Conselho descrevendo o mundo numa “encruzilhada histórica” na qual regras, normas, instrumentos e instituições internacionais que guiaram as relações por mais de 77 anos, estão enfrentando questões existenciais profundas e relevantes “em um momento em que o mundo mais precisa deles”.

Para ele, com o mundo emergindo da pandemia de Covid-19, enfrentando a crise climática, uma dívida prolongada e emergências alimentares e energéticas, uma coisa é clara: “esses desafios globais são grandes demais para qualquer nação lidar sozinha”. E a “esperança é sempre encontrar uma solução multilateral”.

Csaba Korosi, presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, discursa na reunião do Conselho de Segurança
ONU/Loey Felipe
Csaba Korosi, presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, discursa na reunião do Conselho de Segurança

Falhas do Conselho de Segurança

Korosi ressaltou que, no entanto, a falta de ação e as profundas divisões geopolíticas impediram respostas e progressos no Conselho de Segurança.

Ele lembrou que se espera que o Conselho “aja para o bem de todos [e] defenda a Carta da ONU”, e perguntou se “essas divergências continuarão a ofuscar a capacidade coletiva de manter a paz e a segurança internacionais”.

O presidente da Assembleia Geral mencionou a guerra na Ucrânia como um exemplo de “ação coletiva fracassada”, sinalizando que “nem uma única resolução do Conselho foi adotada para mitigar o tipo exato de crise que a ONU foi criada para prevenir”. Ele acrescentou que, para que a ONU comprove sua relevância, ela deve apresentar soluções.

Uso do veto

O líder da Assembleia disse ainda que o veto do Conselho de Segurança abriu uma porta para uma nova forma de colaboração e responsabilidade, pois a Assembleia Geral foi obrigada a intensificar suas ações quando as decisões são bloqueadas.

Ele disse que vai convocar um debate formal sobre o uso do veto na Assembleia Geral em 2023 e sobre como aproximar os dois órgãos para que “trabalhem juntos, cumprindo suas funções, em apoio à paz e à prosperidade”.

Para encerrar, o presidente da Assembleia Geral apelou aos países para que priorizem o diálogo e a diplomacia, troquem as diferenças políticas pela vontade política de encontrar soluções e foquem “no que nos une”.