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Chefe de direitos humanos da ONU fala de impacto arrasador da guerra na Ucrânia

Crianças passam por veículos destruídos durante o conflito em Bucha, na Ucrânia
© Escritório de Direitos Humanos/Anthony Headley
Crianças passam por veículos destruídos durante o conflito em Bucha, na Ucrânia

Chefe de direitos humanos da ONU fala de impacto arrasador da guerra na Ucrânia

Paz e segurança

Volker Turk conclui visita de quatro dias ao país e alerta que cerca de 17,7 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária; um terço dos ucranianos teve que fugir de suas casas; situação também foi tema sessão no Conselho de Segurança.

O alto comissário de Direitos Humanos da ONU encerrou, nesta quarta-feira, uma visita de quatro dias à Ucrânia. Em Kyiv, Volker Turk, participou de uma entrevista a jornalistas.

Ele se disse preocupado com a chegada de um “inverno longo e sombrio” no país e destacou o impacto arrasador da guerra nos direitos humanos.

Chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, na capital ucraniana, Kyiv, no início de uma visita oficial ao país
Ohchr
Chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, na capital ucraniana, Kyiv, no início de uma visita oficial ao país

Falta de alimentos

Turk disse que nestes quatro dias, com temperaturas abaixo de zero, ele testemunhou “os horrores, o sofrimento e o preço diário que esta guerra da Rússia contra a Ucrânia” tem sobre o povo.

Ele alertou que cerca de 17,7 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária e 9,3 milhões de assistência alimentar e subsistência. Um terço da população foi forçado a fugir de suas casas. Cerca de 7,89 milhões deixaram a Ucrânia, a maioria mulheres e crianças, e 6,5 milhões de pessoas estão deslocadas internamente.

O chefe de direitos humanos disse que, todos os dias, seu Escritório recebe informações sobre crimes de guerra, um aumento no número de civis que são atingidos, além dos danos e da destruição, que incluem hospitais e escolas, como ele mesmo viu em Izium.

Volker Turk ressalta que, durante o inverno, isso tem consequências terríveis para os mais vulneráveis, que estão lutando contra apagões, sem aquecimento ou eletricidade, que duram horas.

Em Kharkiv, na Ucrânia, um homem inspeciona danos no telhado de um complexo de apartamentos destruído por artilharia e ataques aéreos
© Unicef/Ashley Gilbertson
Em Kharkiv, na Ucrânia, um homem inspeciona danos no telhado de um complexo de apartamentos destruído por artilharia e ataques aéreos

Ataques a civis

Na segunda-feira, durante a visita, Volker Turk precisou passar um tempo em um abrigo subterrâneo, quando pelo menos 70 mísseis foram lançados na Ucrânia, novamente atingindo a infraestrutura essencial e desligando a energia.

O representante também alertou que continuam surgindo informações sobre execuções sumárias, tortura, detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados e violência sexual contra mulheres, meninas e homens.

O alto comissário conversou com as famílias dos prisioneiros de guerra, ouviu a dor dos pais daqueles que estão na linha de frente e soube da situação de pessoas com deficiência e idosos que não conseguem chegar a um abrigo seguro quando as sirenes de ataque aéreo disparam.

Turk visitou o local onde ficava um prédio de apartamentos que foi bombardeado em Izium, em Kharkiv, deixando mais de 50 pessoas enterradas sob os escombros. Ele também conversou com uma senhora que mostrou o prédio onde morava, agora destruído. Todos os seus vizinhos morreram.

Edifícios danificados em Irpin, Ucrânia
© Unicef/Anton Kulakowskiy
Edifícios danificados em Irpin, Ucrânia

Crimes de guerra

O chefe de Direitos Humanos da ONU afirma que os prisioneiros de guerra devem ser sempre tratados com humanidade desde o momento em que são capturados, e que esta é uma obrigação clara e inequívoca sob o direito humanitário internacional.

A missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, chefiada por Matilda Bogner, divulgou nesta quarta-feira, um relatório que detalha as mortes de civis. O documento retrata o destino de 441 civis em partes de três regiões do norte, Kyiv, Chernihiv e Sumy, que estavam sob controle russo até o início de abril. Bucha foi a cidade mais atingida.

Volker Turk disse que seu escritório está trabalhando para validar as alegações de mortes adicionais nessas regiões e em partes das regiões de Kharkiv e Kherson, que foram recentemente retomadas pelas forças ucranianas. Ele afirma que “há fortes indícios de que as execuções sumárias documentadas no relatório constituem o crime de guerra de homicídio doloso”.

No leste da Ucrânia, mãe segura filha no arranha-céu parcialmente destruído em que ainda moram
© UNICEF/Aleksey Filippov
No leste da Ucrânia, mãe segura filha no arranha-céu parcialmente destruído em que ainda moram

Ataques à rede elétrica

A situação humanitária na Ucrânia foi tema de uma sessão no Conselho de Segurança da ONU na terça-feira.

O subsecretário-geral de Assistência Humanitária, Martin Griffiths, disse que mais de 14 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas por causa do conflito.  Deste total, pelo menos 6,5 milhões se tornaram deslocadas internas e 7,8 milhões fugiram para outros países da Europa.

Desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, em 24 de fevereiro, foram 17.181 vítimas civis, com 6.702 mortos, mas o número real pode ser ainda mais alto.

Uma das maiores preocupações, é com a chegada do inverno e as temperaturas que devem baixar para -20°C, enquanto os ataques à infraestrutura do país continuam. Griffiths disse que as ofensivas às redes de energia elétrica do país por forças da Rússia criaram um novo nível de necessidade no conflito.