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Relatório revela grandes partes do mundo com maior incidência ímpar de seca

Jovem rega mudas em Merea, no Lago Chade, uma atividade que se tornou uma tarefa diária
Pnud/Jean Damascene Hakuzimana
Jovem rega mudas em Merea, no Lago Chade, uma atividade que se tornou uma tarefa diária

Relatório revela grandes partes do mundo com maior incidência ímpar de seca

Clima e Meio Ambiente

Novo estudo da Organização Meteorológica Mundial analisou disponibilidade e fluxo da água em 2021; cerca de 3,6 bilhões de pessoas têm acesso inadequado à água pelo menos um mês por ano; até 2050, número deve chegar a mais de 5 bilhões.

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, lançou nesta terça-feira seu primeiro Relatório Global sobre Recursos Hídricos. De acordo com a publicação, o mundo esteve mais seco do que o normal em 2021, impactando economias, ecossistemas e a vida da população.  

O documento “Estado dos Recursos Hídricos Globais 2021” fornece uma visão concisa da disponibilidade de água em diferentes partes do mundo.

Jovens buscam água em poço cavado no solo na Mauritânia
© Unicef/Raphael Pouget
Jovens buscam água em poço cavado no solo na Mauritânia

Rios com pouca água

Entre as áreas consideradas excepcionalmente secas estão a região do Rio da Prata, na América do Sul, afetada por uma estiagem persistente desde 2019.

Na África, grandes rios como o Níger, Volta, Nilo e Congo tiveram fluxo de água abaixo da média em 2021. A mesma tendência foi observada em rios em partes da Rússia, Sibéria Ocidental e na Ásia Central.

Por outro lado, houve volumes de rios acima do normal em algumas bacias da América do Norte, no norte da Amazônia e na África do Sul, assim como na bacia do rio Amur, na China, e no norte da Índia.

Secas e enchentes

A área da bacia amazônica sofreu tanto inundações como secas em 2021. Durante a enchente, o nível da água na estação de Manaus no Brasil estava acima do limite, quebrando o recorde da cheia anterior de 2012.

Em janeiro de 2021, o ciclone tropical Eloise causou fortes chuvas em Moçambique, Madagascar e na África do Sul. As inundações subsequentes afetaram mais de 467 mil pessoas.

Em abril de 2021, um ciclone tropical atingiu o Timor-Leste e partes da Indonésia, causando inundações em ambos os países.

Os danos causados pelo ciclone Eloise no bairro Praia Nova na Beira, em Moçambique.
Unicef Moçambique/Ricardo Franco
Os danos causados pelo ciclone Eloise no bairro Praia Nova na Beira, em Moçambique.

 

Crise climática

A OMM alerta que cerca de 3,6 bilhões de pessoas têm acesso inadequado à água pelo menos um mês por ano e que isso deve aumentar para mais de 5 bilhões até 2050.

Segundo o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, “os impactos das mudanças climáticas são frequentemente sentidos através da água, secas mais intensas e frequentes, inundações mais extremas, chuvas sazonais mais fortes e derretimento acelerado das geleiras, com efeitos em cascata nas economias, ecossistemas e todos os aspectos de nossas vidas diárias”.

Para ele, o relatório pretende compreender melhor as mudanças na distribuição, quantidade e qualidade dos recursos de água doce. Isso influenciará nos investimentos em adaptação e mitigação do clima, assim como na campanha das Nações Unidas para fornecer acesso universal nos próximos cinco anos a alertas precoces de perigos como inundações e secas.

Estudo da água

Entre 2001 e 2018, a ONU Água informou que 74% de todos os desastres naturais foram relacionados à água.

A recente Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, COP27, no Egito, pediu aos governos que integrem ainda mais a água nos esforços de adaptação. Foi a primeira vez que a água foi mencionada em um documento final da COP em reconhecimento à sua importância.

O relatório da OMM analisa o fluxo de água, o volume de água que flui através de um canal de rio em um determinado momento, e também avalia o armazenamento de água na superfície terrestre.

O relatório destaca um problema básico: a falta de dados hidrológicos verificados acessíveis. Com uma nova política, a OMM quer acelerar a disponibilidade e o compartilhamento dessas informações, incluindo descargas fluviais e informações sobre bacias hidrográficas transfronteiriças.

As geleiras no Chile e na Argentina recuaram significativamente nas últimas duas décadas.
OMM
As geleiras no Chile e na Argentina recuaram significativamente nas últimas duas décadas.

Alterações globais dos recursos disponíveis

Além das variações do fluxo do rio, o armazenamento geral de água terrestre foi classificado como abaixo do normal na costa oeste dos Estados Unidos, no centro da América do Sul e Patagônia, norte da África e Madagascar, Ásia Central e Oriente Médio, Paquistão e norte da Índia.

Já na África Central, no norte da América do Sul, especificamente na Bacia Amazônica, e no norte da China ficou acima do normal.

Blocos de gelo

As geleiras e calotas polares são consideradas o maior reservatório natural de água doce do mundo. Segundo a OMM, mudanças nesses recursos hídricos afetam a segurança alimentar, a saúde humana, a integridade e a manutenção do ecossistema e levam a impactos significativos no desenvolvimento econômico e social.

A OMM acrescenta que as projeções de longo prazo do escoamento da geleira e o momento do pico de água são insumos essenciais para as decisões de adaptação de longo prazo.