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Na COP27, jovens ativistas afirmam que já passou da hora de lidar com “perdas e danos”

Escola foi fechada devido a fortes inundações no nordeste de Bangladesh
© UNICEF/Parvez Ahmad Rony
Escola foi fechada devido a fortes inundações no nordeste de Bangladesh

Na COP27, jovens ativistas afirmam que já passou da hora de lidar com “perdas e danos”

Clima e Meio Ambiente

Em dia dedicado à juventude, participantes pedem justiça aos países que mais sofrem com mudanças climáticas, embora sejam os que menos emitem gases de efeito estufa; relatório aponta que 3 bilhões de pessoas podem viver em locais vulneráveis até 2050; delegações devem começar a trabalhar em documento final neste sábado.

Armados com camisetas, faixas, cartazes, megafones e, principalmente, com depoimentos emocionantes e cheios de fatos científicos e financeiros, os jovens tomaram as salas da COP27 para exigir dos negociadores que abordem a questão das perdas e danos.

“Há catástrofes climáticas e destruição, e meu país acaba pegando dinheiro emprestado do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para lidar com as repercussões… nossos países não podem se desenvolver por causa dos custos da crise climática”, disse um jovem ativista africano durante um dos muitos protestos desta quinta-feira.

Jovens ativistas protestam exigindo que líderes lidem com perdas e danos
UN News/Laura Quiñones
Jovens ativistas protestam exigindo que líderes lidem com perdas e danos

Perdas e danos

“Nossos futuros estão sendo roubados de nós e isso é uma injustiça”, declarou.

“Perdas e danos” referem-se a custos assumidos por países que contribuíram menos para a mudança climática, mas estão sofrendo os impactos, como aumento do nível do mar e eventos climáticos extremos cada vez mais comuns.

Atualmente, países em desenvolvimento como Paquistão, Bangladesh e um bom número de nações africanas são obrigados a arcar com custos muito altos para se recuperar de desastres induzidos pelo clima, e os jovens acreditam que é hora dos grandes poluidores pagarem sua dívida ecológica.

“Esta é uma questão que foi deixada de lado COP após COP. O fato de estarmos em um país africano este ano é muito significativo. É um fato científico que os países com menos recursos econômicos e com quase nenhuma responsabilidade pelas emissões são os que acabam sofrendo mais... Trata-se de reparação e justiça social”, disse Bruno Rodriguez, jovem ativista argentino à ONU News.

O apelo dos jovens foi claro: eles querem o estabelecimento de um mecanismo de financiamento para perdas e danos que possa fornecer valores adicionais e prontamente acessíveis para ajudar as nações em desenvolvimento a se ajustarem e limitarem os “impactos irreversíveis de mudança de vida sobre os jovens”.

A comunidade científica concorda

O relatório anual “10 Novas Percepções em Ciência Climática” oferece uma síntese concisa das descobertas mais urgentes sobre pesquisas relacionadas a mudança climática para informar as negociações da COP e destacou a importância de lidar com perdas e danos como um “imperativo planetário urgente”.

Durante a divulgação do relatório nesta quinta-feira, que coincidiu com o Dia da Juventude e Ciência, os cientistas ressaltaram que perdas e danos já estão ocorrendo e devem aumentar significativamente com base nos modelos de trajetórias atuais.

“Embora muitas perdas e danos possam ser calculados em termos monetários, também há aqueles que não são econômicos e precisam ser compreendidos e contabilizados”, alertaram os autores do relatório, pedindo uma resposta política global coordenada “urgente” sobre a questão.

O documento também destaca que muitas dessas consequências não podem ser evitadas com meras medidas de adaptação e que agir rapidamente para reduzir as emissões é uma opção muito melhor.

Para os autores do relatório, a realidade de que dezenas de milhares de pessoas que já estão morrendo devido ao impacto climático precisa estar no centro das negociações.

Eles também destacaram que mais de 3 bilhões de pessoas vão viver em áreas com maior suscetibilidade a riscos climáticos até 2050, o dobro do que é hoje.

Jovens tomam conta do evento

Jovens, adolescentes e crianças tomaram conta da COP27 e foram vistos, e ouvidos, em quase todos os cantos do centro de conferências. Eles se expressaram não apenas protestando, mas também com música, dança, roupas coloridas e desenhos nas paredes com mensagens aos líderes mundiais.

Um grito comum foi para “expulsar os poluidores”. Três ONGs denunciaram que na lista de participantes, com mais de 45 mil registrados, há mais de 600 lobistas de combustíveis fósseis, um aumento de 25% em comparação com ano passado.

O embaixador Wael Aboulgmagd, representante especial para a presidência egípcia da COP27, disse durante uma conferência de imprensa que, embora ele não pudesse dizer se esses participantes eram lobistas ou apenas membros de certas entidades, havia de fato muitas indústrias contribuindo para as emissões presentes, como empresas de cimento e fertilizantes. Mas eles não estavam participando das negociações, esclareceu.

Ele disse que espera que durante o Dia da Descarbonização, que será sexta-feira, muitos deles demonstrem como estão avançando na redução de suas emissões.

Com relação às negociações gerais, Aboulgmagd disse que há agora um primeiro projeto de texto de decisão para o programa de trabalho de mitigação que mostra um “progresso muito bom”, e que na manhã de sábado, as delegações começariam a fornecer contribuições para o documento final da COP27.