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ONU considera estado do clima “uma crônica do caos”

Guterres pede metas na COP27 para que se atinjam metas sobre alertas precoces nos próximos cinco anos
© Unsplash/Emerson Peters
Guterres pede metas na COP27 para que se atinjam metas sobre alertas precoces nos próximos cinco anos

ONU considera estado do clima “uma crônica do caos”

Clima e Meio Ambiente

Estudo provisório da Organização Meteorológica Mundial revela que os últimos oito anos foram potencialmente os mais quentes já registrados; situação deveu-se a concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa na atmosfera.

As Nações Unidas lançaram neste domingo o Estado do Clima Global de 2022. O relatório provisório confirma o aumento ao dobro da taxa de subida do nível do mar desde 1993, atingido um novo recorde.

O levantamento apontando ainda o derretimento de geleiras sem precedentes nos Alpes europeus foi apresentado por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Principais gases de efeito estufa

Com dados definitivos a ser divulgados em 2023, o estudo provisório descrevendo os detalhes da emergência climática foi compilado pela Organização Meteorológica Mundial, OMM. O propósito é aumentar a consciência dos  líderes mundiais sobre a dimensão da crise.

Na apresentação do documento, o diretor-geral da  OMM, Petter Taalas disse que quanto maior o aquecimento do planeta, piores os impactos.

Furacão Ian causou grandes danos e perda de vidas em Cuba e no sudoeste da Flórida
© Noaa
Furacão Ian causou grandes danos e perda de vidas em Cuba e no sudoeste da Flórida

O especialista chamou a atenção global para os “níveis tão altos de dióxido de carbono na atmosfera registrado atualmente, quando a meta de 1,5º bem abaixo definida no Acordo de Paris está longe do alcance. Para Taalas “já é tarde demais para muitas geleiras e o derretimento continuará por centenas, senão milhares de anos, com grandes implicações para a segurança da água”.

O dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, os três principais gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global, estão em níveis históricos. A temperatura  global está 1,15º C  acima dos níveis pré-industriais.

Aquecimento excepcionalmente alto dos oceanos

Nos montes Alpes foi observada uma perda média de espessura entre três e mais de quatro metros. Na Suíça, toda a neve derreteu durante a temporada de verão pela primeira vez na história. Desde o início do século, o volume de gelo dos blocos do país caiu mais de um terço.

O crescente derretimento de glaciares em todo o mundo levou ao aumento do nível do mar nos últimos 30 anos e a tendência evolui. A taxa de aquecimento dos oceanos tem sido excepcionalmente alta nas últimas duas décadas e as  ondas de calor marinhas se tornam mais frequentes fazendo prever um contínuo.

A seca na região somali da Etiópia está atingindo fortemente a população
Unicef/Raphael Pouget
A seca na região somali da Etiópia está atingindo fortemente a população

 

Países como Quênia, Somália e Etiópia vivem uma crise de safras e insegurança alimentar depois de uma temporada de chuvas abaixo da média. Mais de um terço do Paquistão foi inundado em julho e agosto, como resultado de chuvas recordes que levaram ao deslocamento de 8 milhões de pessoas.

A África Austral viveu por uma série de ciclones ao longo de dois meses no início do ano. Os desastres atingiram  Madagáscar com chuvas torrenciais e inundações assasadoras. Em setembro, o furacão Ian causou grandes danos e perda de vidas em Cuba e no sudoeste da Flórida.

Velocidade catastrófica das mudanças climáticas

Grande parte da Europa registrou episódios de calor extremo. O Reino Unido atingiu a marca inédita de 40°C em 19 de julho. A situação foi acompanhada por  uma seca e incêndios florestais persistentes e danosos.

Reagindo ao relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu os dados como uma “crônica do caos climático”. Para o líder das Nações Unidas, os detalhes ilustram a  velocidade catastrófica das mudanças climáticas ao arrasarem vidas e meios de subsistência em todos os continentes.

OMM quer aumentar a consciência dos  líderes mundiais sobre a dimensão da crise do clima
© Unsplash/Radu Chelariu
OMM quer aumentar a consciência dos líderes mundiais sobre a dimensão da crise do clima

 

Guterres destaca que contínuos choques climáticos e condições climáticas extremas não se podem evitar, mas desafiou a COP27 a lançar um plano de ação para alcançar alertas precoces nos próximos cinco anos.

Para o chefe da ONU, pessoas e comunidades carecem de sistemas de aviso antecipado para que sejam protegidas  em todos os lugares. Guterres disse ainda que o mundo deve responder ao sinal de socorro do planeta com ação, ação climática ambiciosa e credível de forma imediata na COP27.

Alta em custos diretos para a saúde

Ainda neste domingo, a Organização Mundial da Saúde, OMS, alertou que a  crise climática continua deixando pessoas doentes.

A agência pede que a saúde esteja no centro das negociações em eventos de alto nível. Temas como perigos da crise e potenciais ganhos de uma ação climática mais forte no setor serão abordadas em Sharm el-Sheikh.

A OMS alerta que as mudanças climáticas devem causar mais aproximadamente 250 mil mortes por ano no período entre 2030 e 2050. As doenças responsáveis são desnutrição, malária, diarreia e estresse por calor.  A alta em custos diretos para a saúde chegará a US$ 4 bilhões por ano até o final desta década.

A agência ressalta que o investimento em energia limpa trará ganhos de saúde que satisfazem esses investimentos em dobro aplicando padrões mais altos para emissão de veículos.