Na Índia, Comitê da ONU de combate ao terrorismo homenageia vítimas de ataques no mundo
Cidades de Mumbai e Nova Délhi acolhem sessões com Estados-membros do Conselho de Segurança, sobreviventes e representantes de empresas internacionais de tecnologia; indiana Nidhi Chaphekar, vítima dos ataques em Bruxelas em 2016, falou na reunião especial nesta sexta-feira.
“Faço um apelo para que não haja refúgio seguro para qualquer tipo de terrorismo”, afirmou a indiana Nidhi Chaphekar, sobrevivente dos ataques terroristas em Bruxelas em 2016. Ela falou nesta sexta-feira durante a cerimônia de abertura da reunião especial do Comitê de Combate ao Terrorismo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O evento começou em Mumbai, Índia, no Hotel Taj Mahal Palace. Em novembro de 2008, o local sofreu com ataques terroristas que pararam a cidade. O atentado deixou 31 mortos e diversos feridos.
Em memória das vítimas
Entre os sobreviventes está Karambir Kang, que também falou na cerimônia. Ele faz parte da equipe do Taj Mahal Palace e deu um depoimento sobre o dia em que perdeu sua mulher e seu filho.
Para Kang, o sentimento é de que sua casa estava sendo atacada e precisava ser defendida. “O Taj Mahal é o nosso monumento de amor. […] O terrorismo não é algo que acontece com outras pessoas em algum outro lugar. É real e pode acontecer com qualquer um em qualquer lugar”, disse.
Como sobrevivente, ele ressaltou que seu “ato de rebeldia” foi reconstruir o hotel em um ano e meio. “Peço, portanto, ao Conselho de Segurança que desafie esses atos de terrorismo em colaboração e de forma determinada”, concluiu.
O jovem israelense Moishe também sobreviveu aos ataques. Ele tinha apenas dois anos e foi salvo por sua babá. Agora, ele vive em Israel com seus avós, já que seus pais foram mortos pelos terroristas.
Em mensagem de vídeo, o ele afirmou que o encontro em Mumbai é “muito importante”. “Também é fundamental que vocês encontrem novas formas de combater o terrorismo para que ninguém passe pelo que eu passei”, adicionou.
“Somos vítimas de um ataque à humanidade”
A abertura foi realizada no hotel em memória de suas vítimas e contou com a participação de Estados-membros do Conselho de Segurança, tanto atuais como recém-eleitos, que iniciam seu mandato no próximo ano.
A chefe do Comitê, a embaixadora indiana Ruchira Kamboj, destacou que esses depoimentos são vitais para mostrar à comunidade internacional as consequências dos atos terroristas e a resiliência de seus sobreviventes.
Para a sobrevivente Nidhi Chaphekar, a dor é algo que permanece comum a todas as vítimas de atos terroristas. “Somos vítimas de um ataque à humanidade”, concluiu.
O secretário-geral, António Guterres, esteve na Índia na semana passada e visitou o Taj Mahal Palace Hotel. Em seu discurso sobre os ataques, ele afirmou que “o terrorismo é um mal absoluto e não tem espaço no mundo de hoje”.
Guterres acrescentou que “combater o terrorismo deve ser uma prioridade global” e é uma prioridade central para a ação das Nações Unidas. Ele também expressou sua solidariedade às vítimas e sobreviventes dos ataques de Mumbai.
Outras formas de terrorismo
Após as homenagens, os representantes começaram os debates sobre o tema central da reunião especial sobre como tecnologias que beneficiam a sociedade estão sendo usadas para espalhar o terror. Eles apresentaram suas preocupações com o emprego das inovações e ouviram especialistas da ONU sobre o assunto.
A face mais conhecida do terrorismo é aquela de bombardeios a infraestruturas civis por certos grupos armados. No entanto, a reunião busca destacar que a democratização de diversas tecnologias trouxe novas facetas ao terrorismo, aumentando a quantidade de ataques, rompendo fronteiras e, muitas vezes, a apenas um clique de distância.
Neste sábado, são esperados diversos debates sobre financiamento online do terrorismo, o uso de drones em conflitos e a importância de garantir que os direitos humanos sejam contemplados na elaboração de diretrizes sobre o assunto.
O chefe do Comitê Executivo de Combate ao Terrorismo, David Scharia, falou à ONU News que o Cted espera que haja consenso em como balancear os benefícios e os riscos destas inovações.
“Há diversos benefícios para nossas economias e sociedades provenientes destas tecnologias. Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que há riscos e desafios em lidar com eles que vão precisar de diversas etapas”, explicou.
O chefe do Cted acredita que os resultados da reunião devem estar em conformidade com os valores da ONU, “em particular com os direitos humanos, liberdade de expressão e associação e ao direito à informação e privacidade.”
* Mayra Lopes, enviada especial da ONU News à Índia.