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Acnur: falta de recursos pode levar a uma catástrofe para milhões que precisam de ajuda

Um grande grupo de recém-chegados espera para se registrar dentro de uma estrutura no campo de Minawao para refugiados nigerianos na região do extremo norte
© Unicef/Andrew Esiebo
Um grande grupo de recém-chegados espera para se registrar dentro de uma estrutura no campo de Minawao para refugiados nigerianos na região do extremo norte

Acnur: falta de recursos pode levar a uma catástrofe para milhões que precisam de ajuda

Migrantes e refugiados

Agência da ONU para os Refugiados precisa de pelo menos US$ 700 milhões até o final do ano; muitas operações de ajuda humanitária já foram cortadas.

Nos últimos meses, a falta de recursos forçou a Agência da ONU para os Refugiados, Acnur, a fazer cortes no apoio vital a refugiados e outras pessoas deslocadas à força em todo o mundo.

Muitas operações de ajuda já tiveram que reduzir programas essenciais para lidar com a falta de dinheiro. A agência anunciou que se não conseguir pelo menos US$ 700 milhões até o final do ano, podem acontecer reduções catastróficas para os necessitados.

Migrantes em Beirute, no Líbano
OIM/ Muse Mohammed
Migrantes em Beirute, no Líbano

Cortes na ajuda humanitária

Em Uganda, que está passando por um surto de ebola, o Acnur não consegue adquirir sabonetes e kits de higiene suficientes para ajudar a combater a doença mortal. No Chade, o abastecimento de água nos campos foi cortado devido à falta de combustível. No Líbano, 70 mil famílias de refugiados extremamente vulneráveis ​​não recebem mais a ajuda da rede de segurança da agência.

O Acnur teme que novos cortes levem as famílias a fazer escolhas irreversíveis, como contrair dívidas incontroláveis, mandar os filhos para o trabalho em vez da escola ou ainda oferecer uma filha para casamento precoce para reduzir o número de bocas para alimentar em casa. O desespero também pode levar as famílias a embarcarem em jornadas perigosas para mais longe.

O diretor da Divisão de Relações Externas do Acnur destaca que “as necessidades estão aumentando devido a uma confluência de guerra e violência, assim como ventos cruzados econômicos e geopolíticos.”

Para Dominique Hyde, embora os doadores tenham sido mais uma vez generosos, novas guerras, especialmente na Ucrânia, e crises não resolvidas significam que o financiamento não está atendendo às necessidades de milhões das pessoas mais vulneráveis ​​do mundo.

Mulher e criança deslocadas vivendo em uma escola abandonada em Aden, Iêmen
© WFP/Annabel Symington
Mulher e criança deslocadas vivendo em uma escola abandonada em Aden, Iêmen

Aproximação do inverno é uma preocupação

A agência está particularmente preocupada com as lacunas de financiamento no Oriente Médio à medida que o inverno se aproxima. Novos cortes na assistência em dinheiro afetarão 1,7 milhão de pessoas no Líbano, na Jordânia e no Iêmen, onde milhares de famílias não podem cobrir o custo de aquecimento ou roupas quentes

Os deslocados em outros países também sofrerão com cortes nos serviços para sobreviventes de estupro e cuidados para mães e bebês na Etiópia, ou abrigo para pessoas deslocadas na República Democrática do Congo. A situação também é aguda em países como Bangladesh e Colômbia.

Hyde lembra que “as pessoas obrigadas a fugir já pagam o preço dos conflitos que devastaram suas terras”. Para ele, mais sofrimento neste ano e no próximo pode ser reduzido com uma ação internacional rápida”.

Apelo aos doadores

O Acnur ressalta que, embora os doadores, especialmente empresas privadas, fundações e indivíduos, tenham contribuído com níveis recordes de financiamento em 2022, os efeitos em cascata da crise na Ucrânia estão afetando sua capacidade de resposta equitativa em todo o mundo.

Desde que destacou a lacuna de financiamento em 12 operações particularmente subfinanciadas no início deste ano, a agência recebeu US$ 400 milhões adicionais. No entanto, mesmo com essa injeção de recursos, as necessidades continuam crescendo e a diferença permanece em US$ 700 milhões.