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Mulheres de Moçambique falam sobre como enfrentam doenças oncológicas BR

Alusivo ao Outubro Rosa, a ONU News em Maputo ouviu mulheres envolvidas em várias etapas do processo.
Vladimir de Sousa
Alusivo ao Outubro Rosa, a ONU News em Maputo ouviu mulheres envolvidas em várias etapas do processo.

Mulheres de Moçambique falam sobre como enfrentam doenças oncológicas

Saúde

Cancros da mama e do colo do útero são os tipos mais prevalecentes e principais causas de morte; especialistas de saúde renovam empenho em salvar vidas por ocasião do “Outubro Rosa”; autoridades alertam sobre importância de rastreio para prevenção e diagnóstico precoces.

Este mês é conhecido por “Outubro Rosa” pela campanha para aumentar  a  consciência da população sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama.

A Organização Mundial da Saúde,  OMS, declarou o tipo de doença um problema de saúde pública mundial. É a segunda principal causa de morte em mulheres por cancro no mundo, com cerca de 2,1 milhões de novos casos anualmente.

Já Delaila Taju, 48 anos, viu a necessidade de fazer o rastreio após a perda de uma amiga vítima de cancro.
Emídio Jozine
Já Delaila Taju, 48 anos, viu a necessidade de fazer o rastreio após a perda de uma amiga vítima de cancro.

Sexo feminino

Em Moçambique, o número de diagnósticos tem vindo a aumentar nos últimos anos. O cancro do colo uterino apresenta as mais altas taxas de morbi-mortalidade da mulher moçambicana. As autoridades dizem precisar de fortes acções para o diagnóstico e tra­tamento precoce.

Dados do Serviço de Anatomia Patológica do Hos­pital Central do Maputo, o maior em nível nacional, indicam que o cancro do colo uterino, é o mais frequente na mulher adulta. Um caso do tipo é diagnosticado em cada quatro notificações de doença oncológicas em mulheres.

Alusivo ao Outubro Rosa, a ONU News em Maputo ouviu mulheres envolvidas em várias etapas do processo.

Rabeca da Costa, capitão afeta ao comando de serviços cívicos de Moçambique, diz que venceu o medo e fez o rastreio. Ela declarou que a incerteza por muitos anos foi o que a motivou em aderir a feira de saúde no seu posto de trabalho. O evento foi realizado pela saúde militar com o apoio técnico da ONG  Jhpiego através dos fundos do Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Combate ao HIV/Sida, Pepfar.

“Minha mãe foi diagnosticada com o cancro de útero. Foi-lhe informada que os parentes próximos neste deviam também fazer o exame. Hoje ganhei coragem e vim fazer, estava mesmo preocupada com a minha saúde. Viver com essa dúvida é angustiante. Depois de ter feito o exame e ter percebido que sou negativa em relação ao teste, estou segura já posso levar a minha vida normalmente porque em algum momento a dúvida não te deixa tranquila.”

Resposta dos médicos

O rastreio antecipado trouxe segurança e esperança de vida para Rabeca da Costa após a resposta dos médicos face ao rastreio.

Foi através das redes sociais que Joana Albino Novela, 25 anos, teve informações sobre rastreio na feira organizada pela saúde militar no quartel do serviço cívicos de Moçambique. Em busca solução para sua saúde, ela conta que em 2020 esteve grávida e perdeu o bebê com sete meses e pela perda do bebê ficou com uma inflamação.

“Assim começa o meu dilema, a princípio era um pequeno nódulo, mandaram que eu fosse ao hospital para poder fazer rastreio de lá para cá só me deram voltas, sempre diziam para voltar outro mês, outro mês e de lá para cá já passam dois anos. Quando cheguei aqui as médicas me atenderam, fiz o rastreio pela segunda vez, graças a Deus parece que começo a ver uma luz no fundo do túnel. Depois do rastreio eles encaminharam para outro hospital onde vou começar dentro em breve a fazer o tratamento. Espero que tudo cora bem.”

Já Delaila Taju, 48 anos, viu a necessidade de fazer o rastreio após a perda de uma amiga vítima de cancro. Recebeu conselhos da mãe e em agosto de 2017, foi diagnosticado o cancro da mama.

Descoberta antecipada

Delaila diz que na época a sensação foi e fim do mundo. Na mesma época, ela recebeu o convite do fotografo Vladimir de Sousa para retratar a sua história através da fotografia. Ela deixou-se fotografar para aumentar a consciência da população sobre esta realidade.

Ela confessa que após a exposição fotográfica com a história em fotos, rejuvenesceu.

“Mil vezes prevenir do que remediar. Eu estou viva hoje porque eu fiz o rastreio sozinha, eu descobri o cancro logo no início, apesar ter sido agressivo, mas eu descobri logo no início e consegui tratar e estou aqui. Muitas mulheres não fazem e acabam morrendo, então poder ser útil para as mulheres, consciencializar a elas de que é importante fazermos o rastreio foi muito bom muitas delas tiveram coragem, e foram ao hospital e disseram: Delaila graças a ti eu tive essa coragem.”

Yolanda Azevedos, 34 anos, é enfermeira afeta ao hospital militar de Maputo. Ela cita casos em que após a mulher ser diagnosticada de cancro, ela passa a sofrer o estigma até pelo próprio parceiro. A ignorância por parte de muitos e das famílias geram este comportamento.

A prática do rastreio para descoberta antecipada é o conselho que ela deixa ficar, pois ajuda na intervenção rápida do caso.

“Temos constatado abandonos em senhoras que detetamos principalmente os cancros de colo do útero em lesão acima de 75 %, porque alguns homens não apoiam suas parceiras, e elas ficam deprimidas. Nós temos trabalhado muito com psicólogos nas consultas de rotina, porque uma mulher com um cancro confirmado precisa muito do apoio psicológico e especialmente da família.”

Dados da OMS indicam que 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas com a doença em 2020. Deste número ocorreram 685 mil mortes em todo mundo.

De Maputo para ONU News, Ouri Pota