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Água potável chegou a mais 2 bilhões de pessoas, mas o desafio continua

O relatório Situação da Água Potável no Mundo destaca haver mais de 2 bilhões de pessoas que obtiveram acesso à água potável nas últimas duas décadas.
© Unicef/Shehzad Noorani
O relatório Situação da Água Potável no Mundo destaca haver mais de 2 bilhões de pessoas que obtiveram acesso à água potável nas últimas duas décadas.

Água potável chegou a mais 2 bilhões de pessoas, mas o desafio continua

Desenvolvimento econômico

Agências da ONU e Banco Mundial dizem que desempenho foi alcançado nos últimos 20 anos; novo relatório recomenda um maior investimento apoiado por instituições governamentais fortes para fazer chegar recurso a mais um quarto dos habitantes do planeta; publicação cita casos nos lusófonos Cabo Verde, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

O relatório Situação da Água Potável no Mundo destaca haver mais de 2 bilhões de pessoas que obtiveram acesso à água potável nas últimas duas décadas. Mas o progresso, embora positivo, é frágil e desigual, deixando ainda para trás um quarto da população mundial.

Cabo Verde, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe estão entre os países lusófonos mencionados na avaliação realizada pela Organização Mundial da Saúde, OMS, o Fundo da ONU para a Infância, Unicef, e o Banco Mundial.

Uma criança enche um galão com água potável em um campo de deslocados perto de Goma, na República Democrática do Congo.
© Unicef/Olivier Asselin
Uma criança enche um galão com água potável em um campo de deslocados perto de Goma, na República Democrática do Congo.

Abastecimento

A análise aponta que mudanças climáticas estão aumentando a frequência e a intensidade das secas e inundações, que agravam a insegurança hídrica, interrompem o abastecimento e arrasam comunidades.

Enquanto isso, a rápida urbanização está agravando a pressão sobre a capacidade das cidades de fornecerem água para milhões de pessoas que vivem em assentamentos informais e favelas.

Comentando a publicação, de Nova Iorque, a diretora-executiva da Iniciativa Saneamento para Todos do Unicef, Catarina de Albuquerque, disse que ações para chegar ao nível de fornecimento desejado podem precisar de investimentos quatro vezes maiores do que os atuais.

“A verdade é que ainda temos muitas desigualdades dentro de cada país, esse é o número um. Número dois, estes progressos estão a ser ameaçados, tanto por duas alterações climáticas, como pela pandemia e pela crise financeira. Todas estas circunstâncias ameaçam o progresso que foi feito e põem em risco futuros progressos. E o número três, o que o relatório nos diz é que nós temos que aumentar os investimentos dramaticamente. E quando eu falo em investimentos, não estou não estou só a falar de investimentos financeiros, temos que aumentá-los, obviamente. Acho que o nível de investimento em nível global tem que quadruplicar, mas temos também que investir em áreas que muitas vezes ficam esquecidas.”

O relatório recomenda os governos a investir de forma estratégica em fortalecer as capacidades para planejar, coordenar e regular a prestação de serviços, se o mundo quiser alcançar o acesso universal à água potável e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A especialista destacou o que precisa ser feio nesse processo.

“Por exemplo, em melhor de instituições, melhor legislação, em políticas públicas. Porque sem estas peças básicas do puzzle será impossível haver um setor de água e saneamento que consiga trabalhar, prosperar, servir as pessoas e realizar os direitos humanos à água e ao saneamento para todos.”

Entre os países lusófonos, o relatório menciona um exemplo no Brasil, no estado de Espírito Santo, onde uma infraestrutura sustentável financiada pelo Banco Mundial ajudou a restaurar e proteger florestas a nascentes de rios, através de uma série de intervenções para melhorar a qualidade da água.

Esta é uma fazenda na Tanzânia onde o feijão é cultivado para proteger o solo em uma fazenda de milho como parte da agricultura de conservação.
FAO Tanzânia
Esta é uma fazenda na Tanzânia onde o feijão é cultivado para proteger o solo em uma fazenda de milho como parte da agricultura de conservação.

Agricultores

Um dos procedimentos adotados foram pagamentos para serviços ecossistêmicos, que são incentivos oferecidos a agricultores ou proprietários de terras em retorno pelo apoio à administração de suas terras para fornecimento de algum tipo de serviço ecológico.

Já Cabo Verde está entre 24 países com 667 milhões de pessoas, ou 9% da população mundial, onde autoridades alocaram um quarto do financiamento para a água potável. As famílias geram os recursos financeiros, respondendo por 61% do total das despesas com a água.

Os investimentos das famílias cabo-verdianas em seus sistemas próprios de abastecimento de água potável ajudaram a resolver o déficit de financiamento da água potável, principalmente nas zonas rurais, mas também em áreas urbanas, onde os serviços podem ser limitados geograficamente ou ser mais caros.

Portugal reduziu cargas de lodo na água por uma abordagem que combina reflorestamento e melhor gestão da terra com uma série de outras, como melhorias nas estradas e saneamento. Como resultado destas mudanças, o país observou uma melhoria significativa na segurança da água.

Uma menina de nove anos carrega água, que ela encheu de uma bomba manual em uma vila inundada na província de Sindh, no Paquistão.
© Unicef/Asad Zaidi
Uma menina de nove anos carrega água, que ela encheu de uma bomba manual em uma vila inundada na província de Sindh, no Paquistão.

Portugal

Entre 2004 e 2008, o indicador português de água potável subiu de 84% para 97% e, desde 2016, alcançou se manteve em 99%. O “sucesso de Portugal na melhoria da água potável resulta de investimento em décadas, complementado e sustentado através de um sistema regulatório abrangente, baseado em risco, transparente e colaborativo”, destaca o relatório.

Um levantamento sobre a cobertura básica de serviços de água em unidades de saúde em 59 países e áreas por região, feito em 2021, menciona a situação de Guiné-Bissau com um nível de 56% e Moçambique com 74% dessa cobertura.

Para São Tomé e Príncipe, tem uma média de 77% que usa água potável de fontes por risco de contaminação fecal.

A diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, Maria Neira, recomenda que seja fornecido maior acesso à água potável para salvar muitas vidas, a maioria de crianças. Com as mudanças do clima o apelo é acelerar os esforços para garantir o acesso confiável de todos à água potável por este ser “um direito humano e não um luxo”.