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Relator da ONU sugere mecanismo global da OMS para compra de vacinas

Relatório enfatiza que alguns países compraram vacinas suficientes para dar múltiplas doses às suas populações,
© Unicef/Sobekwa
Relatório enfatiza que alguns países compraram vacinas suficientes para dar múltiplas doses às suas populações,

Relator da ONU sugere mecanismo global da OMS para compra de vacinas

Saúde

Obiora Okafor adverte que falha em cooperar na questão de imunizantes contraria valores globais de solidariedade e cooperação; proposta beneficiaria milhões de crianças nos países mais pobres.

Um especialista em direitos humanos* da ONU propôs à Assembleia Geral que seja criado um mecanismo, liderado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, para cobrir desigualdades na compra de doses de vacinas.

A situação prejudicou o acesso e a disponibilidade no resto do mundo, segundo o relator independente para Solidariedade Internacional.

Altas doses da vacina

Obiora Okafor afirma que a disparidade em vacinas disponíveis durante a pandemia destacou os fossos no acesso a recursos essenciais entre o Norte e Sul global “para a plena realização dos direitos fundamentais”.

Okafor mencionou a desinformação “como desafios únicos” no combate à pandemia
Sinovac
Okafor mencionou a desinformação “como desafios únicos” no combate à pandemia

 

O relatório enfatiza que alguns países compraram vacinas suficientes para dar múltiplas doses às suas populações, enquanto várias populações em risco e a grande maioria de habitantes em nações de baixa renda foram mais afetados.

Okafor disse ao maior órgão deliberativo da ONU que países de alta renda conseguiram obter doses de vacinas diretamente dos fabricantes. Sem outra opção, o Sul global abraçou o mecanismo Covax com taxas subsidiadas e grandes atrasos.

Impactos sociais e políticos

Com o alto número de casos no Norte, os recursos originalmente reservados para crises humanitárias ou ajuda foram desviados.

O Sul também reduziu fundos para cobrir necessidades socioeconômicas essenciais numa realidade de Estados e populações já divididos por desigualdades preexistentes e onde a pandemia exacerbou vulnerabilidades a impactos sociais, políticos e econômicos negativos.

Especialista diz que queda na confiança do público projeta teorias falsas e mal-informadas sobre as vacinas e seus efeitos
Unsplash/Redgirl Lee
Especialista diz que queda na confiança do público projeta teorias falsas e mal-informadas sobre as vacinas e seus efeitos

 

Okafor mencionou a desinformação “como desafios únicos” no combate à pandemia. Ele aponta haver um colapso na confiança do público, tolerando a projeção de teorias falsas e mal-informadas sobre as vacinas e seus efeitos.

Carta das Nações Unidas

O especialista ressalta que a lei internacional de direitos humanos prevê, como um dever, que os Estados cooperem, inclusive em termos de solidariedade vacinal, “para garantir o pleno gozo dos direitos humanos por todos ao redor do mundo.”

Okafor adverte que a falha contínua dos Estados em garantir a solidariedade global, que seria ideal em relação à vacina, é claramente contrária aos valores da solidariedade internacional e viola o espírito da obrigação internacional de cooperação que faz parte da Carta das Nações Unidas.

*Especialistas de direitos humanos trabalham de forma independente e não recebem nenhum salário das Nações Unidas.