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ONU divulga relatório como “novos perfis da pobreza” e ações para enfrentá-los

Metade dos zimbabuenses caiu em extrema pobreza durante a pandemia de Covid-19
Pnud Zimbábue
Metade dos zimbabuenses caiu em extrema pobreza durante a pandemia de Covid-19

ONU divulga relatório como “novos perfis da pobreza” e ações para enfrentá-los

Desenvolvimento econômico

Estudo é divulgado neste Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Metade das pessoas pobres no mundo ainda não têm acesso à eletricidade e combustível limpo para cozinhar; maioria dos pobres vive na África Subsaariana e no sul da Ásia; documento ressalta resultados positivo de Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

O novo Índice Multidimensional de Pobreza, MPI, na sigla em inglês, conclui que é possível reduzir a pobreza em escala e revela novos “perfis de pobreza” que podem oferecer um avanço nos esforços de desenvolvimento para enfrentá-la.

A análise é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e da Iniciativa Oxford de Pobreza e Desenvolvimento Humano, da Universidade de Oxford. O documento foi divulgado nesta segunda-feira.

Atualmente, chega a 90% a porcentagem de famílias que empobrecem por gastos diretos com saúde, e que já estão na linha da pobreza ou abaixo desta condição
Unsplash/Tom Parsons
Atualmente, chega a 90% a porcentagem de famílias que empobrecem por gastos diretos com saúde, e que já estão na linha da pobreza ou abaixo desta condição

Educação, moradia, água

Mesmo antes da pandemia de Covid-19 e da atual crise de custo de vida, os dados mostravam que 1,2 bilhão de pessoas em 111 países em desenvolvimento viviam em pobreza multidimensional aguda. Isso é quase o dobro do número de pessoas consideradas neste grupo com base na definição da pobreza, que é sobreviver com menos de US$ 1,90 por dia.

O estudo vai além da renda como uma medida da pobreza para entender como as pessoas vivenciam a pobreza em diferentes aspectos, desde acesso à educação e saúde, a padrões de vida como moradia, água potável, saneamento e eletricidade.

O relatório identifica uma série de “pacotes de carências”, padrões recorrentes de pobreza, que normalmente afetam aqueles que vivem em pobreza multidimensional em todo o mundo.

Os dados são usados ​​para identificar os diferentes perfis de pobreza que são mais comuns em determinados lugares. Este é um passo crucial na concepção de estratégias para abordar a questão em vários aspectos.

Crianças em assentamento para deslocados internos em Cabo Delgado
Unicef/Mauricio Bisol
Crianças em assentamento para deslocados internos em Cabo Delgado

Países de língua portuguesa

Entre os 20 países que reduziram o valor do MPI mais rápido, estão três nações de língua portuguesa: Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

As três também figuram entre 26 que experimentam um aumento significativo na redução das carências em todos os indicadores, ou seja, a porcentagem de pessoas que eram pobres e desfavorecidas diminuiu em cada indicador.

Já Moçambique é o único de língua portuguesa na lista dos 40 países que não registrou nenhuma redução significativa na pobreza entre as crianças e também está entre os 15 da África Subsaariana que tiveram um aumento no número de pessoas pobres, apesar de uma diminuição da incidência da pobreza, mostrando que o crescimento populacional ultrapassou a redução da pobreza.

Mulher segura criança em Vijaynagar, na Índia.
© UNICEF/Prashanth Vishwanathan
Mulher segura criança em Vijaynagar, na Índia.

Índia, Nigéria e África do Sul

O MPI oferece uma análise aprofundada da pobreza entre as regiões.

A maioria das pessoas em pobreza multidimensional, 83%, vive na África Subsaariana e no sul da Ásia. Dois terços das pessoas pobres vivem em países de renda média e 83% em áreas rurais. E apesar de seu impressionante progresso pré-pandemia, a Índia ainda abrigava 229 milhões de pessoas pobres. Já a Nigéria teve o próximo número mais alto, com 97 milhões de pessoas pobres

Antes da pandemia, 72 países reduziram significativamente a pobreza. No entanto, o relatório antecipa que alguns dos esforços para acabar com a pobreza de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável provavelmente foram prejudicados como resultado de recentes crises.

Na Índia, escolas de vilarejos sem eletricidade estão recebendo lâmpadas solares para ajudar os alunos a estudar.
© UNICEF/Pranav Purushotham
Na Índia, escolas de vilarejos sem eletricidade estão recebendo lâmpadas solares para ajudar os alunos a estudar.

Problemas a serem enfrentados

O relatório destaca a necessidade de enfrentar as camadas de carências que geralmente andam de mãos dadas, incluindo:

• Mais de 50% das pessoas pobres, ou 593 milhões, carecem de eletricidade e combustível limpo para cozinhar.

• Quase 40% dos pobres, ou 437 milhões, não têm acesso à água potável e ao saneamento.

• Mais de 30% de pessoas na pobreza, ou 374 milhões, são privadas de nutrição, combustível para cozinhar, saneamento e habitação ao mesmo tempo.

O líder do Pnud, Achim Steiner, ressalta que essa análise multidimensional mostra que a descarbonização e a expansão do acesso a energias limpas avançarão na ação climática, mas também serão fundamentais para quase 600 milhões de pessoas pobres que ainda não têm acesso a eletricidade e combustível limpo para cozinhar

Exemplos de combate à pobreza

O relatório apresenta histórias de sucesso em todo mundo, através do uso de estratégias integradas de redução da pobreza. Como o investimento do Nepal em saneamento que melhorou o acesso à água potável, nutrição infantil e mortalidade infantil por meio da redução da diarreia.

E na Índia, onde cerca de 415 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional em um período de 15 anos, uma mudança histórica.

A pobreza infantil na Europa e na Ásia Central aumentou 19%, com a guerra na Ucrânia e a inflação crescente levando quatro milhões de crianças à pobreza.
© Unicef/Anush Babajanyan
A pobreza infantil na Europa e na Ásia Central aumentou 19%, com a guerra na Ucrânia e a inflação crescente levando quatro milhões de crianças à pobreza.

Crianças mais pobres em algumas regiões

Em um outro relatório, o Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, analisa o impacto da guerra na Ucrânia e a desaceleração econômica na pobreza infantil na Europa Oriental e na Ásia Central, alertando que os efeitos em cascata do aumento podem resultar em um aumento grande no abandono escolar e na mortalidade infantil.

Dados de 22 países da região mostram que as crianças estão carregando o fardo mais pesado da crise econômica, consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro.

Embora representem apenas 25% da população, eles representam quase 40% dos 10,4 milhões adicionais de pessoas forçadas à pobreza este ano.

Uma escola destruída durante um ataque aéreo em Kharkiv, Ucrânia.
© Unicef/Ashley Gilbertson
Uma escola destruída durante um ataque aéreo em Kharkiv, Ucrânia.

Consequências do conflito na Ucrânia

Provocada pela guerra na Ucrânia e uma crise de custo de vida em toda a região, a Rússia responde por quase três quartos do aumento da pobreza infantil, com mais 2,8 milhões agora vivendo em lares abaixo da linha da pobreza.

A Ucrânia abriga mais meio milhão de crianças que vivem na pobreza, a segunda maior parcela, seguida pela Romênia, onde houve um aumento de 110 mil.

De acordo com o estudo, as consequências da pobreza infantil vão muito além das famílias que vivem em dificuldades financeiras.

O aumento pode resultar em mais 4,5 mil bebês morrendo antes do primeiro aniversário e perdas de aprendizado podem significar mais 117 mil abandonando a escola somente este ano.