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Secretário-geral da ONU pede fim do que chamou de “chantagem nuclear” BR

No auge da Guerra Fria, mais abrigos radioativos foram construídos à medida que a ameaça percebida da guerra nuclear aumentava.
Unsplash/Burgess Milner
No auge da Guerra Fria, mais abrigos radioativos foram construídos à medida que a ameaça percebida da guerra nuclear aumentava.

Secretário-geral da ONU pede fim do que chamou de “chantagem nuclear”

Paz e segurança

António Guterres discursou em reunião de alto nível sobre Eliminação Total das Armas Nucleares; para ele, uso de ogivas iniciaria um “Armagedom humanitário”; líder das Nações Unidas e presidente da Assembleia Geral lamentam falta de avanços no Tratado de Não-Proliferação.

Neste Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, a ONU organizou um encontro de alto nível para ampliar a conscientização sobre a ameaça que os armamentos representam e a necessidade de mobilizar esforços internacionais para alcançar um mundo sem armas nucleares.

Na abertura da sessão, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a eliminação das armas seria o “maior presente que poderíamos deixar as futuras gerações”.

O secretario-geral conversou com sobreviventes das bombas atômicas contras as cidades de Hiroshima e Nagasaki
ONU Dan Powell
O secretario-geral conversou com sobreviventes das bombas atômicas contras as cidades de Hiroshima e Nagasaki

Ameaças nuclear

Guterres lembrou que o período da Guerra Fria deixou a humanidade a “minutos da aniquilação” e que, agora, décadas após a queda do Muro de Berlin, o barulho das ameaças nucleares voltou a ressoar.

O secretário-geral disse que a “era de chantagem nuclear deve acabar”. Para o chefe da ONU, a ideia de que qualquer país poderia lutar e vencer uma guerra nuclear é uma loucura.

Além disso, ele adicionou que “qualquer uso de uma arma nuclear incitaria a um Armagedom humanitário”.

Decepção com a falta de avanço nos acordos

Guterres está desapontado com a incapacidade de consenso na 10ª Conferência de Revisão das Partes do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.

Após quatro semanas de negociações na sede da ONU, as delegações saíram sem um documento final porque a Rússia se opôs ao texto sobre o controle das instalações nucleares ucranianas.

António Guterres promete não desistir do assunto e pede aos países que usem “todas as vias de diálogo, diplomacia e negociação para aliviar as tensões, reduzir o risco e eliminar a ameaça nuclear”.

Ele falou da necessidade de uma nova visão para o desarmamento nuclear e a não-proliferação. E ressalta se necessário levar em conta a evolução da ordem nuclear, incluindo todos os tipos de armas nucleares e seus meios de lançamento.

Com o encerramento do debate anual da Assembleia Geral, o secretário-geral pediu aos países um novo compromisso por um futuro pacífico. “Sem eliminar as armas nucleares, não pode haver paz, confiança e futuro sustentável”.

A usina nuclear de Zaporizhzhia é considerada a maior da Europa
Ⓒ Aiea
A usina nuclear de Zaporizhzhia é considerada a maior da Europa

Guerra na Ucrânia e risco nuclear

Já o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Korosi, lembrou que a guerra na Ucrânia aumentou os riscos de desastre nuclear global. Ele está “chocado com as ameaças recorrentes e veladas de ataques nucleares”

Korosi diz que a ameaça nuclear na Península Coreana também continua a representar um risco inaceitável para a região e para o mundo. Ele disse que o mundo possui quase 13 mil ogivas.

O líder da Assembleia Geral lamenta que os investimentos em armas continuem a aumentar “enquanto muitas pessoas lutam para comprar comida, educar seus filhos e se aquecer”.

Ele também falou sobre o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, aberto para assinatura há 25 anos, e pediu que os que ainda não assinaram que considerem o texto “sem demora”.

O documento ainda não entrou em vigor porque precisa ser firmado por 44 países detentores de tecnologia nuclear, sendo que oito nações ainda não o ratificaram.