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Níveis catastróficos de fome deixam 500 mil crianças em risco de morrer na Somália BR

Níveis catastróficos de insegurança alimentar na Somália deixaram mais de 513 mil crianças em risco de morte
Unicef/Ismail Taxta
Níveis catastróficos de insegurança alimentar na Somália deixaram mais de 513 mil crianças em risco de morte

Níveis catastróficos de fome deixam 500 mil crianças em risco de morrer na Somália

Ajuda humanitária

Número é 33% maior que em junho deste ano; comunidades pastoris seguem perdendo rebanho e agências alertam para grande deslocamento; fome pode ser anunciada nas próximas semanas.

Níveis catastróficos de insegurança alimentar na Somália deixaram mais de 513 mil crianças em risco de morte. Segundo o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, Ocha, o número é 173 mil maior do que durante a fome de 2011.

Em um pedido de financiamento para ajudar as comunidades vulneráveis atingidas por sucessivas secas, altos preços dos alimentos e conflitos, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, o Programa Mundial de Alimentos, PMA e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, enfatizaram que a emergência não mostra sinais de recuperação.

Quase metade da população somali enfrenta fome severa
PMA/Samantha Reinders
Quase metade da população somali enfrenta fome severa

Sem ação, fome chega nas próximas semanas

A FAO afirmou que o estado de fome pode ser declarado nas próximas semanas se nada for feito. Segundo a agência, as mortes relacionadas à seca já estão acontecendo e o número pode ser muito maior em áreas rurais de difícil acesso, em comparação com o total em acampamentos para famílias deslocadas.

Durante a fome de 2011, 340 mil crianças necessitaram de tratamento para desnutrição aguda grave, disse o porta-voz do Unicef, James Elder. Ele confirmou a jornalistas, em Genebra, que o número atual é de 513 mil crianças, em situação que considera “um pesadelo que ainda não havíamos visto neste século”. 

Em junho, o Unicef informou que 386 mil crianças precisavam de tratamento para desnutrição aguda grave. A agência informa que esse número saltou para mais de meio milhão, é um aumento de 33%, com outras 127 mil menores em risco de morte.

Perda de gado

De acordo com a FAO, aproximadamente 6,7 milhões de pessoas na Somália provavelmente sofrerão altos níveis de insegurança alimentar aguda entre outubro e dezembro deste ano. Isso inclui mais de 300 mil que ficaram sem recursos pela tripla emergência do país e que devem cair na fome.

Nas comunidades pastoris, as pessoas estão relatando que o gado está “morrendo como moscas”, de acordo com a representante da FAO na Somália, Etienne Peterschmitt. Ela explica que o número de pessoas forçadas a deixar suas casas pela fome é preocupante.

Segundo ela, a situação da seca está se espalhando a um ritmo alarmante: mais distritos e regiões estão enfrentando níveis de emergência de insegurança alimentar à medida que os efeitos cumulativos de várias estações chuvosas fracassadas “cobram seu preço”.

Em um apelo por mudanças radicais para impedir que a fome volte a acontecer, o representante do Unicef descreveu as “cenas perturbadoras” que já estão ocorrendo na região mais afetada da Somália.

Grande impacto nas crianças

Segundo Elder, as crianças somalis já estão morrendo. Ele afirmou que parceiros relatam que alguns centros de estabilização estão cheios e crianças gravemente doentes que recebem tratamento no chão.

Para o porta-voz do Unicef, com mais financiamento, crianças com desnutrição aguda podem receber alimentos e ficarem fortes o suficiente para evitar doenças. Ele explica que crianças severamente desnutridas têm até 11 vezes mais probabilidade de morrer de diarreia e sarampo do que aquelas que estão bem nutridas.

A resposta da ONU envolve alcançar as comunidades mais vulneráveis para evitar o deslocamento em massa antes que a fome seja declarada, para ajudar a promover uma recuperação mais rápida.

A assistência humanitária vem aumentando e atingiu uma média de 3,1 milhões de pessoas por mês entre abril e junho deste ano. A situação evoluiu e afetou 4,5 milhões de pessoas por mês entre julho e setembro, segundo Peterschmitt da FAO.