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Nações Unidas apelam por socorro a haitianos vítimas da violência de gangues BR

Extrema instabilidade levou pelo menos 17 mil residentes a abandonar suas casas nos últimos meses
ONU Haiti/Daniel Dickinson
Extrema instabilidade levou pelo menos 17 mil residentes a abandonar suas casas nos últimos meses

Nações Unidas apelam por socorro a haitianos vítimas da violência de gangues

Ajuda humanitária

Agência da ONU alerta para drama sofrido por sobreviventes desses grupos criminosos; cerca de 85 mil gestantes carecem de assistência específica; mais profissionais e fundos são necessários para vítimas buscando assistência legal, psicossocial e médica.

O Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, disse que o acesso aos centros de saúde e hospitais no Haiti está cada vez mais impossível. 

Na capital do país, Porto Príncipe, os serviços essenciais quase não funcionam mais. O problema é a atuação de gangues criminosas praticando sequestros, estupros e até assassinatos. Muitos haitianos estão sendo forçados a fugir de suas casas por causa da crescente violência.

Saúde sexual e reprodutiva, mulheres e meninas correm riscos

Para o Unfpa, os maiores desafios incluem a oferta de cuidados básicos de saúde sexual e reprodutiva, além do risco corrido por mulheres e meninas carentes. O mais preocupante são os casos de sobreviventes de violência sexual e cerca de 85 mil grávidas. Destas, cerca de 30 mil esperam dar à luz nos próximos três meses. 

Uma das pessoas que enfrentam o problema é de uma gestante que perdeu tudo ao fugir de casa às pressas. Ela viu o próprio marido ser alvejado a tiros na comunidade de Cité Soleil, considerada a mais perigosa de Porto Príncipe. O local reúne 250 mil moradores e muitos precisam de ajuda para sobreviver.

Representante do Unfpa no Haiti disse que nenhuma mulher deve morrer dando vida
OIM Haiti
Representante do Unfpa no Haiti disse que nenhuma mulher deve morrer dando vida

 

Entre as vítimas de estupros cometidos pelas gangues estão meninas de até nove anos de idade. 

De acordo com a agência da ONU, o estupro está sendo usado como arma para de terror e vingança em bairros controlados por facções rivais.

Mais alto nível de mortalidade materna da região

A crise no Haiti já levou mais de 4,9 milhões de pessoas a precisar de assistência, incluindo cerca de 1,3 milhão de mulheres da idade reprodutiva. 

O Haiti tem o nível mais alto de mortalidade materna na América Latina e no Caribe.
As demandas humanitárias aumentam no mesmo ritmo que os níveis de violência na capital haitiana. Muitos serviços essenciais e instalações de saúde foram danificados ou destruídos no sul do Haiti, após o terremoto do ano passado. 

Em Cité Soleil foram registrados os combates mais violentos com centenas de mortos, feridos ou desaparecidos. 

A extrema instabilidade levou pelo menos 17 mil residentes a abandonar suas casas nos últimos meses para buscar abrigo em acampamentos improvisados ou casa de familiares.

Violência de gênero e assistência psicossocial

O Unfpa apoia os sobreviventes de violência de gênero que procuram assistência legal, psicossocial e médica.  Um grupo dedicado presta apoio na distribuição de suprimentos de saúde e lâmpadas solares para deslocados. A ajuda inclui a evacuação de grávidas em casos de emergência por complicações obstétricas ou recém-nascidos.

Muitos haitianos estão sendo forçados a fugir de suas casas por causa da crescente violência
ONU Haiti/Daniel Dickinson
Muitos haitianos estão sendo forçados a fugir de suas casas por causa da crescente violência

 

A agência entregou centenas de kits de dignidade e maternidade suficientes para três meses em quatro locais de deslocamento de Porto Príncipe com mulheres e meninas que fugiram de suas casas de mãos vazias. 

Oito clínicas móveis oferecem serviços de saúde sexual e reprodutiva em áreas inacessíveis reforçando os centros de saúde locais. 

Gravidez indesejada, proteção de violência sexual

Ativistas comunitários são capacitados para aumentar a consciência sobre riscos e medidas de proteção contra a violência de gênero, bem como a oferta de serviços de saúde e espaços seguros de recuperação.

Crescem as necessidades de acesso para provedores de serviço a vários locais e de fundos. Além da resposta imediata, a entidade da ONU quer ampliar a atuação para conter a gravidez indesejada, as mortes maternas e promover a proteção dos alvos da violência sexual.

A representante do Unfpa no Haiti disse que nenhuma mulher deve morrer dando vida ou ser “submetida a estupro ou outras formas de violência de gênero.”
Saidou Kabore  destacou o compromisso da agência em melhorar os serviços de saúde e proteção.