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Agência da ONU propõe ações contra turbulências no mercado de criptomoedas BR

Unctad examina o rápido crescimento dessas moedas em países em desenvolvimento
Unsplash/Kanchanara
Unctad examina o rápido crescimento dessas moedas em países em desenvolvimento

Agência da ONU propõe ações contra turbulências no mercado de criptomoedas

Desenvolvimento econômico

Numa série de três boletins informativos, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, analisa riscos e custos incluindo ameaças à segurança de sistemas monetários, especialmente para países em desenvolvimento.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, divulgou um boletim, nesta quarta-feira, sobre o mercado de criptomoedas.

A agência da ONU analisa as consequências de um ambiente de transações desregulado para a estabilidade financeiro-econômica dos países.

Preço do Bitcoin e outras criptomoedas começou a cair e mais turbulência está sendo esperada
Unsplash/Sigmund
Preço do Bitcoin e outras criptomoedas começou a cair e mais turbulência está sendo esperada

Soberania monetária de nações

No boletim “Nem tudo que reluz é ouro: o alto custo de deixar as criptomoedas sem regulação”, a agência examina o rápido crescimento dessas moedas em países em desenvolvimento.

Elas facilitam remessas e são uma proteção contra riscos de inflação, entretanto esses benefícios não são desacompanhados de desafios.

A economista da Unctad, Marina Zucker, afirma que os países devem debater a criação de um tratado global para regular o sistema de criptomoeda. Segundo ela, ainda dá tempo.

Os choques recentes do mercado digital sugerem que existem riscos privados para criptomoedas, mas quando o Banco Central se envolve com o tema da estabilidade de proteção financeira, o problema passa a ser público.

Se as bitcoins se tornam uma forma abrangente de pagamento e até substituem as moedas nacionais extraoficialmente, isso pode prejudicar a soberania monetárias dos países.

Tratado global para regular o sistema

A economista diz que não é tarde e que muitos países já começaram a regular o tema. Para ela, é preciso pensar num quadro regulador global. Quando houver regras, os consumidores serão protegidos, haverá mais investimentos e a economia será apoiada pela regulação. E até mais postos de trabalho podem ser criados.

Em nações em desenvolvimento, com demandas em aberto para reservas, existem riscos particulares. Por algumas dessas razões, o Fundo Monetário Internacional, FMI, afirma que as criptomoedas representam um risco como proposta legal.

Com o aumento global das moedas digitais particulares, as respostas nacionais são mais desafiadoras, mas os países em desenvolvimento não estão desprovidos de escolhas.

Criptomoedas podem colocar em xeque o uso de controle de capitais, que é uma ferramenta muito importante para países em desenvolvimento
ONU News/Daniel Dickinson
Criptomoedas podem colocar em xeque o uso de controle de capitais, que é uma ferramenta muito importante para países em desenvolvimento

Roubo de credenciais e de senhas, perda de milhões de dólares

Após dois anos de ganhos no mercado, o preço do Bitcoin e outras criptomoedas começou a cair e mais turbulência está sendo esperada. Os compradores estão sujeitos a golpes, fraudes, roubo de credenciais e perdas de senhas que custam milhões aos investidores.

Segundo dados da Unctad em 2021, dos países emergentes, a Ucrânia é a que mais tem investidores em criptomoedas. São 12,7% da população que detém as ações digitais. O país é seguido pela Rússia com 11,9% e pela Venezuela com 10,3%. O único país de língua portuguesa na lista é o Brasil com 4,9% aparecendo em 11º lugar.

A relação inclui 20 economias avançadas e emergentes. Das avançadas, Cingapura vem em primeiro com 9,4% seguida por Estados Unidos com 8,3% e Reino Unido com 5%.

O custo de atrasar a solução

Em seu boletim, a Unctad discute como as criptomoedas se tornaram um novo canal para minar a mobilização nacional de recursos em países em desenvolvimento.

Ainda que possa facilitar as remessas, elas também permitem a evasão fiscal e evitam, através do fluxo ilícito de capitais, a criação de um paraíso fiscal, uma vez que a propriedade das moedas não é identificável.

A eficiência do controle de capital é fundamental para as nações em desenvolvimento preservarem sua estabilidade econômica. A Unctad pede aos países que ajam para frear a expansão de criptomoedas, sem regulação, em países em desenvolvimento.

Com o aumento global das moedas digitais particulares, as respostas nacionais são mais desafiadoras
Banco Mundial/Simone D. McCourtie
Com o aumento global das moedas digitais particulares, as respostas nacionais são mais desafiadoras

Propostas da Unctad

Dentre as recomendações estão uma regulação financeira abrangente de trocas de bitcoins, carteiras digitais e finança descentralizada. É preciso ainda banir as instituições financeiras reguladas de manter criptomoedas (incluindo as chamadas estáveis) ou de oferecê-las a seus clientes.

Restringir anúncios comerciais relacionados a criptomoedas por causa do alto risco financeiro para os ativos. Fornecer um sistema de pagamento público seguro e acessível adaptado à era digital. Implementar a coordenação, regulação e troca de informações assim como redesenhar os controles de capital levando em consideração as características descentralizadas, sem fronteiras e de pseudônimo das criptomoedas.