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ONU alerta para perigos de alta dependência africana de exportações de commodities BR

Estudo sugere que economias da região apostem na diversificação em direção a serviços de maior valor
Banco Mundial/Jonathan Ernst
Estudo sugere que economias da região apostem na diversificação em direção a serviços de maior valor

ONU alerta para perigos de alta dependência africana de exportações de commodities

Desenvolvimento econômico

Realidade é de 60% dos países da região; relatório cita Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique; Unctad pede investimento em tecnologia e serviços financeiros para que economias resistam melhor a choques econômicos como mudanças climáticas, futuras emergências de saúde e a crises de alimentos.

Um novo relatório das Nações Unidas chama a atenção dos países africanos para que diminuam sua dependência das exportações de commodities para promover o crescimento econômico. Outra sugestão é que as economias da região apostem na diversificação em direção a serviços de maior valor.

O Relatório de Desenvolvimento Econômico na África 2022 foi lançado esta quinta-feira pela Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento, Unctad. O estudo destaca que quase 60% dos países da região continuam dependentes das exportações de commodities, apesar de décadas de esforços para as diversificar.

Países de língua portuguesa

O documento recomenda que haja uma mudança para setores como tecnologia e serviços financeiros, que ajudaria a resistir a choques econômicos.

Expetativa é que as nações africanas possam resistir melhor a choques econômicos
Dominic Sansoni/ Banco Mundial
Expetativa é que as nações africanas possam resistir melhor a choques econômicos

 

Angola e Guiné-Bissau estão entre países com maior concentração de exportações. Destes, a economia angolana se distingue por uma ligeira melhoria nos últimos 20 anos em termos de diversificação, estando ainda entre as nações com uma pequena parcela de serviços nas exportações dominadas por combustíveis, commodities ou mineração.

Angola aparece ainda ao lado de São Tomé e Príncipe num grupo de cinco economias em que o setor dos transportes representa mais da metade do total das exportações de serviços. 

Já as economias são-tomense e cabo-verdiana, estando a de Cabo Verde com 90% da quota de exportações de serviços, a mais elevada percentagem de África, estão entre as oito onde o setor supera o dos bens.

Moçambique

Em termos de serviços, Moçambique concentra uma quota de 50% do total de exportações, mas passou da anterior dependência de commodities agrícolas para a de combustíveis. 

O relatório destaca que os países africanos exportam mais commodities hoje do que há uma década.

A Unctad apela aos governos africanos a investir mais em tecnologia e serviços com destaque para os financeiros. Um total de 45 dos 54 países do continente permanece dependente das exportações agrícolas das áreas de mineração e extrativista, apesar das décadas de esforços para diversificar suas economias.

Ações africanas para impulsionar a área de serviços deram maiores resultados nos transportes e no turismo
ONU
Ações africanas para impulsionar a área de serviços deram maiores resultados nos transportes e no turismo

 

O efeito da forte dependência das exportações de commodities como petróleo, gás, minerais, alimentos e matérias-primas agrícolas resulta em “receitas altamente voláteis” para as nações de baixa renda devido ao aumento de preços e quedas observadas nos mercados.

Pandemia

O estudo ressalta ainda a chamada “maldição dos recursos”, quando países dependentes de commodities tendem a ter baixos resultados de crescimento e desenvolvimento devido à instabilidade de preços de suas exportações. Essa fragilidade aumenta por fatores geopolíticos e eventos como a pandemia e a crise financeira global de 2008-9.

As ações para impulsionar a área de serviços deram maiores resultados nos transportes e no turismo, que agora representam até dois terços das exportações de serviços em todo o continente.

Quando se trata da tecnologia da informação e os serviços financeiros, a quota é de apenas 20% das exportações de serviços da África.

Com um passo para diante nos setores econômicos na cadeia de valor, a expetativa é que as nações africanas possam resistir melhor a choques econômicos como mudanças climáticas, futuras emergências de saúde e a crise alimentar acentuada pelo conflito na Ucrânia.