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Guterres visita refugiados e pede que nações desenvolvidas façam mais por reassentamento BR

Guterres visitou Suzan Al Shammari, refugiada iraquiana
UN Photo/Eskinder Debebe
Guterres visitou Suzan Al Shammari, refugiada iraquiana

Guterres visita refugiados e pede que nações desenvolvidas façam mais por reassentamento

Migrantes e refugiados

Em comemoração ao Dia Mundial do Refugiado, em 20 de junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou refugiados que vivem na cidade de Nova York; mais do que acolher refugiados, o chefe da ONU pede apoio para mais oportunidades de reassentamento em nações desenvolvidas.

Às vésperas do Dia Mundial do Refugiado, em 20 de junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou refugiados que vivem em Nova Iorque, nos Estados Unidos, no último sábado.

O chefe da ONU, que também foi alto comissário para refugiados por 10 anos, de 2005 a 2015, destacou o papel das nações desenvolvidas em receber e dar oportunidades aos refugiados, independentemente de sua origem.

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Nações desenvolvidas devem contribuir

“Estou a visitar uma família de refugiados afegãos e venho de visitar a casa de uma refugiada iraquiana. Estão reinstalados nos Estados Unidos e é fantástico ver como se integraram perfeitamente na sociedade americana e estão a ajudar outros refugiados. Quando comparamos isso com a situação dos que estão em campos ou bairros de lata de cidades muito pobres no mundo em desenvolvimento, faz-nos pensar o quão importante é os países desenvolvidos darem mais oportunidades para que refugiados que estão sobrevivendo em situações trágicas nos países mais pobres que os acolheram, possam ter uma vida normal. Quando eu era alto comissário, havia mais de o dobro de oportunidades de reinstalação do que hoje. É essencial os países desenvolvidos expressarem uma muito maior solidariedade em relação aos refugiados, aumentando o número de vagas para reinstalação”

De todos os casos de reassentamento apresentados pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur, aos Estados em 2021, 86% eram para sobreviventes de tortura ou violência, pessoas com necessidades de proteção legal e física, bem como mulheres e meninas. 

Na última semana, o Acnur lançou seu relatório anual de Tendência Globais indicando que a invasão russa da Ucrânia causou uma das maiores crises de deslocamento desde a Segunda Guerra Mundial, na Europa. Outras emergências, da África ao Afeganistão, empurraram o número para o marco dramático de 100 milhões.

Na comemoração do Dia Mundial do Refugiado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, visita um casal de refugiados afegãos que se reinstalou no Queens
UN Photo/Eskinder Debebe
Na comemoração do Dia Mundial do Refugiado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, visita um casal de refugiados afegãos que se reinstalou no Queens

“Eu não vou morrer amanhã”

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A primeira parada de Guterres foi no Brooklyn, onde ele visitou Suzan Al Shammari, uma refugiada iraquiana que fugiu de Bagdá para o Cairo, Egito, com sua família em 2010. Eles foram registrados pelo Acnur e reassentados na Califórnia.

Suzan Al Shammari disse ao secretário-geral que ela cresceu na guerra e por isso quer ser capaz de apoiar os refugiados. Por isso, ela está atualmente trabalhando como assistente social de uma ONG depois de terminar um mestrado no Reino Unido.

Durante a conversa com Guterres, ela afirmou que precisou de algum tempo para entender que não estava mais correndo risco de morrer.

“Todo dia você pensa que vai ser o último. E não é apenas uma dessas coisas... literalmente pode ser a última. Quando fui para o Egito com minha família também foi difícil estar lá como refugiada, no limbo. Então, mudar para os Estados Unidos, por mais que tenha sido uma grande bênção, levei alguns anos para me ajustar que não vou morrer amanhã”, afirmou a Suzan Al Shammari.

Suzan Al Shammari acrescentou que o reassentamento dá a oportunidade de uma “segunda chance” para aqueles que precisam fugir de seus países. Em sua mensagem aos governos dos países desenvolvidos, ela afirmou que esse apoio é capaz de “salvar vidas”.

“Trazer refugiados é uma medida que salva vidas e é algo com o qual cada líder, cada país, deve contribuir e ser responsável, porque muitos problemas infelizes estão sendo causados, é um problema maior. É uma medida que salva vidas dar esse passo e acolher os refugiados”, disse ela.

Suzan Al Shammari acredita que teve sorte em sua jornada, pois teve a oportunidade de encontrar um lar novo e seguro, mas também de ter educação e fluência no idioma de seu país anfitrião.

Ela conta a experiência de seus pais, engenheiros formados no Iraque, que não podem exercer sua profissão nos Estados Unidos. Além disso, ela comentou que pessoas que não tiveram acesso à educação superior ou não falam inglês com fluência não possuem tantas oportunidades de trabalho. 

De acordo com os dados mais recentes, restam quase 1,2 milhão de deslocados internos no Iraque dos mais de seis milhões que foram inicialmente forçados a fugir pela violência envolvendo o Isil de 2014 a 2017. 

Ao mesmo tempo, o Iraque está acolhendo e hospedando mais de 290 mil refugiados da Síria e de outros países por muitos anos, principalmente na região do Curdistão.

Até o final de 2021, a maioria dos campos de deslocados internos nas províncias central e sul do Iraque foi fechada. Existem agora 26 campos de 44 campos no início de 2020, sendo que 25 estão na região do Curdistão.

Felizes com a nova vida, mas preocupados com a família

Depois de conhecer Suzan Al Shammari, Guterres foi ao Queens para visitar um casal afegão, Shafi Alif e Rohina Sofizada. O chefe da ONU foi recebido com chá verde de especiarias e biscoitos tradicionais afegãos.

Enquanto conversavam, Shafi Alif revelou que fugiu do Afeganistão para o Paquistão quando tinha cinco meses de idade, em 1992. Ele e sua família tiveram que caminhar por 40 dias para buscar asilo no Paquistão, onde permaneceram por mais de 10 anos.

Com a ajuda do Acnur, ele e sua família retornaram voluntariamente ao Afeganistão em 2002. Eles receberam apoio financeiro quando se estabeleceram em Cabul, incluindo transporte, dinheiro e outros auxílios.

O casal concordou que tive “anos de paz” no país até 2018, quando Rohina Sofizada estava trabalhando com a Embaixada dos EUA em Cabul e recebeu um visto especial para se estabelecer no país anfitrião. 

Um pouco mais tarde, o Shafi Alif se juntou a ela com um visto especial de imigrante, por seu trabalho com o exército polonês na capital do Afeganistão.

Eles estão felizes por conseguirem chegar aos Estados Unidos, mas ainda estão preocupados com suas famílias, que agora estão no Paquistão, após terem deixado Cabul quando o Talibã assumiu o poder em 2021.

Rohina Sofizada contou que sua família foi rejeitada na fronteira duas vezes, mesmo tendo todos os vistos e documentos. Eles tiveram que ir para o Paquistão caminhando para tentar cruzar a fronteira. Segundo ela, o país anfitrião tem regras duras para receber afegãos.

Apelo aos governos anfitriões

Assim como Suzan Al Shammari, Shafi Alif também está trabalhando para ajudar os recém-chegados. Ele é um assistente social de uma ONG para apoiar afegãos que foram evacuados ou estão em liberdade condicional. 

Ele argumenta que nenhum refugiado está “feliz por deixar seus países”, mas essa é a única opção para violência ou perseguição.

Shafi Alif fez um apelo por mais locais de reassentamento e mais ajuda com necessidades básicas. Para ele, apenas dessa forma os refugiados “podem ser úteis para a comunidade que os recebem”.

Segundo o Acnur, os afegãos constituem uma das maiores populações de refugiados do mundo. Existem 2,6 milhões de refugiados afegãos registrados. A maioria, 2,2 milhões, está no Irã e no Paquistão. Ainda há 3,5 milhões de pessoas deslocadas internamente no país.

Mais da metade da população afegã, ou 24 milhões de pessoas, enfrenta insegurança alimentar aguda e estima-se que 97% da população do Afeganistão viva bem abaixo da linha da pobreza.