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Cinco coisas que você precisa saber sobre a fístula obstétrica BR

Beatriz Sebastião, 28, sobrevivente de fístula obstétrica, em Mocuba, província da Zambézia, Moçambique
UNFPA Moçambique
Beatriz Sebastião, 28, sobrevivente de fístula obstétrica, em Mocuba, província da Zambézia, Moçambique

Cinco coisas que você precisa saber sobre a fístula obstétrica

Saúde

Cerca de 500 mil mulheres em todo o mundo vivem com o problema, a maioria em países em desenvolvimento; a fístula é uma lesão arrasadora durante o parto para as mulheres; em 90% dos casos, a criança morre; mas é possível prevenir e tratar a fístula obstétrica.

Este 23 de maio é o Dia Internacional para Acabar com a Fístula Obstétrica.

Este ano, o tema é “Acabe Agora com a Fístula: Invista em Cuidados de Saúde de Qualidade, Empoder as Comunidades”.

A fístula é uma ruptura no canal vaginal geralmente causada por partos demorados ou obstruções na hora de dar à luz
Unfpa
A fístula é uma ruptura no canal vaginal geralmente causada por partos demorados ou obstruções na hora de dar à luz

Problemas mentais

A fístula é uma ruptura no canal vaginal geralmente causada por partos demorados ou obstruções na hora de dar à luz, e pela ausência de cuidados médicos. A fistula obstétrica causa incontinência e vazamento das fezes.

Se não for tratada, pode gerar infecção, doença e infertilidade. Muitas mulheres acabam marginalizadas, estigmatizadas e isoladas.

E em alguns casos, elas são abandonadas por maridos, parceiros e família, perdem oportunidades de empregos, são lançadas na pobreza e podem até começar a sofrer de problemas mentais.

OMS quer maior consciência nos sistemas de saúde para combater a fístula obstétrica
Unfpa/Yemen
OMS quer maior consciência nos sistemas de saúde para combater a fístula obstétrica

Casamento infantil

A fístula obstétrica é também uma doença de países pobres e do sistema de saúde precário. Em nações ricas, ela quase não existe. Em todo o mundo, 500 mil meninas e mulheres vivem com o problema.

Meninas jovens demais ou vítimas de casamento infantil são mais propensas à fístula obstétrica.

O Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, lembra que essa é uma lesão evitável e tratável. Em 55 países, a agência lidera uma campanha para acabar com a fístula. A lesão pode ser tratada com uma cirurgia de reconstrução do canal vaginal, mas muitas mulheres e meninas não sabem acessar os cuidados ou as informações.

Vítima de fistula na Tanzânia
Unfpa Tanzania/Bright Warren
Vítima de fistula na Tanzânia

Cirurgias reparadoras

Somente o Unfpa já apoiou 120 mil cirurgias reparadoras.

A fístula é a causa de 8% dos casos de mortes maternas e em 90% das ocorrências resulta na morte do bebê.

As meninas e mulheres mais afetadas vivem em mais de 55 países na África Subsaariana, Ásia e Pacífico, Estados Árabes, América Latina e Caribe.

Os países-membros da ONU aprovaram uma resolução para acabar com a fístula até 2030.

A fístula obstétrica é um tema de desenvolvimento e de saúde pública, mas é também uma questão de direitos humanos. Um assunto que dá a cada um o direito à saúde, à vida e à dignidade.

 

 

1.Existem tipos diferentes de fistula obstétrica

Enquanto o tipo mais comum é uma cavidade entre o canal de nascimento e a bexiga (chamado fístula vesicovaginal), outros tipos incluem:

Fístula retovaginal: Buraco entre canal de nascimento e o reto

Fístula uretrovaginal: Buraco entre canal de nascimento e uretra (carrega urina da bexiga para fora do corpo) 

Fístula ureterovaginal: Buraco entre ureteres do canal de nascimento (levar urina à bexiga) e canal de nascimento

Fístula vesicouterina: Cavidade entre bexiga e útero

Algumas fístulas são causadas durante operações ginecológicas (por exemplo, histerectomia) e cesarianas devido a cuidados de saúde abaixo do padrão assim como habilidades cirúrgicas inadequadas. São chamadas fístulas iatrogênicas. Fístulas traumáticas são causadas por violência sexual, especialmente em áreas de conflito; a destruição da vagina é considerada uma lesão de guerra.

 

2. As consequências físicas, sociais e psicológicas são arrasadoras

As mulheres que vivem com a fístula experimentam sofrimento físico e emocional ao longo da vida.

A condição pode levar a infecções, doença renal, feridas dolorosas, infertilidade e até à morte. O odor constante de urina e fezes deixa as mulheres envergonhadas e estigmatizadas, abandonadas por seus amigos e familiares e comunidades.

Muitas sofrem de depressão, pensamentos suicidas e outros problemas de saúde mental. Elas também têm mais tendência à pobreza e vulnerabilidade. 

 

3. Mulheres jovens são mais vulneráveis

Aos 13 anos, Razia Shamshad se casou e engravidou. Depois de passar por um parto obstruído, por quatro dias, com uma parteira não qualificada, ela desenvolveu uma fístula obstétrica e um bebê natimorto.

A recuperação de Shamshad finalmente ocorreu, mas somente após várias cirurgias. Ela disse que "nenhuma mulher merece viver nessa situação deplorável principalmente quando existe tratamento.”

A fístula não discrimina por idade, mas as mulheres jovens são mais expostas à situação porque seus corpos ainda não estão formados e preparados para o parto.

Nove em cada 10 nascimentos de meninas entre 15 e 19 anos ocorrem em casamento ou união. Em todo o mundo, as complicações da gravidez e do parto são a principal causa de morte entre meninas entre 15 e 19 anos. É só mais uma razão pela qual o Unfpa trabalha para erradicar a prática do casamento infantil. 

 

4. A fistula é mais comum em situação de pobreza e desigualdade

A fístula obstétrica desapareceu em países ricos com sistemas de saúde de qualidade e profissionais qualificados, que podem realizar cesarianas. Mas em países pobres, parteiras bem treinadas são parte da solução. A Confederação Internacional de Parteiras afirma que "acabar com a fístula obstétrica requer o envolvimento total das parteiras nos níveis comunitário, nacional, regional e global".

Além da falta de serviços de saúde de qualidade, a pobreza é um grande risco social porque está associada ao casamento precoce e à desnutrição. O subdesenvolvimento da pelve, bem como a desnutrição, a baixa estatura e as condições de saúde geralmente levam a fatores fisiológicos para o trabalho de parto obstruído. No entanto, mulheres mais velhas que já tiveram bebês também estão em risco.

Além disso, devido à desigualdade de gênero em muitas comunidades, as mulheres não têm autonomia para decidir quando começar a ter filhos ou onde dar à luz.

Maseray Bangura, que foi submetida a uma cirurgia de reparação de fístulas no Centro Feminino de Aberdeen, em Freetown, Serra Leoa, disse que sua dignidade foi restaurada. A construção da capacidade hospitalar para erradicar a fístula é apoiada pela Islândia e pelo Unfpa como parte da Campanha para acabar com a Fístula.

 

5. A fístula é tratável e sobretudo é evitável

Nem todos sabem que até 95% das fístulas podem ser fechadas com cirurgia. Um reparo cirúrgico custa US$ 600, mas que para a maioria das mulheres com fístulas é considerada uma fortuna. Muitas não sabem que existe tratamento para a fístula. Por meio de sua assistência aos países e da Campanha para acabar com a Fístula, o Unfpa apoiou mais de 121 mil cirurgias reparadoras que mudaram a vida dessas mulheres em 2003 e treinou milhares de profissionais de saúde para prevenir e tratar fístulas. 

Mas antes mesmo de chegar à fase de tratamento, o foco deve ser a prevenção. Estas medidas incluem acesso ao planejamento familiar, assistentes de parto qualificados e atendimento obstétrico de emergência. Abordar fatores sociais que contribuem para a fístula como casamento infantil, união e gravidez precoces, educação das meninas, pobreza e falta de autonomia das mulheres também faz parte da estratégia campanha para acabar com a fístula.

Ter a vida comprometida por trazer vida nova é um destino arrasador. Mas com consciência e vontade, o objetivo de erradicar a condição até 2030 é alcançável.