Crise global dispara insegurança alimentar de 14% para 21% na Guiné-Bissau

Estudo do Programa Alimentar Mundial, PAM, e Governo Guineense aponta que índice subiu 7%; mulheres entre 15 e 49 e crianças são mais expostas à insegurança alimentar; agência da ONU indica que dados são cruciais para salvar vidas e mudar meios de subsistência.
O quadro de insegurança alimentar na Guiné-Bissau registou uma piora de 7% nos últimos seis meses.
Os níveis subiram de 14% para 21% de acordo com relatório Programa Alimentar Mundial, PAM, sobre a situação de segurança alimentar e nutricional.
O estudo, realizado entre novembro de 2021 e maio de 2022, aponta que as áreas mais afetadas são as regiões de Gabu, Quinara, Bafatá e Tombali com taxas de prevalência oscilando entre 38% e 23% respectivamente.
A piora é reflexo da crise global, com a guerra na Ucrânia puxando o aumento no preço dos alimentos e as consequências da pandemia de Covid-19.
Os resultados foram divulgados num evento realizado em Bissau e apontam que mais de metade das famílias guineenses não possuem recursos mínimas, estimados em cerca de US$ 50 por mês e por pessoa. O levantamento também destaca que crianças e mulheres são os mais afetados.
Durante o lançamento, o representante de nutrição do PAM, Pita Correia, afirmou que os resultados da pesquisa podem orientar o governo e os parceiros nas ações ou respostas aos problemas alimentares e nutricionais.
“Estes resultados nos interpelam a todos nós sobre a escala e o impacto das nossas ações implementadas no terreno e o gigantesco trabalho que resta a ser feito para atingir nossa meta de fome zero até 2030. Parece-me que é necessário coordenar e melhor as nossas atividades, nos unir mais e criar mais sinergias nas nossas ações”.
Dados do estudo indicam que 4% das crianças conseguem o mínimo aceitável de alimentos. Os números apontam que apenas 31,7% das mulheres entre 15 e 49 conseguem uma dieta diversificada.
O estudo foi financiado pela União Europeia, envolveu o Ministério da Agricultura, o Instituto Nacional de Estatísticas e a Rede para a Segurança e Soberania Alimentar, representada pelo sociólogo Miguel de Barros.
Para ele, alcançar fome zero até 2030 requer “muito mais do que uma simples campanha de caju bem-sucedida”.
“Enquanto o governo não tiver uma perspectiva que mobilize a sociedade e coloque as metas ao ponto do próprio governo dotar-se de um orçamento geral do Estado que não é gasto em termos de despesas de soberania de cerca de 35%, mas pelo menos 20% do OGE orientado para abastecimento do mercado a partir da produção local será uma ilusão falar em fome zero”.
A agência da ONU destaca que o sistema para acompanhamento da situação da segurança alimentar e nutricional é crucial, particularmente para os países em desenvolvimento, e que houve melhorias tanto na metodologia, quanto na fiabilidade dos dados.
A análise da segurança alimentar é tida como base para a concepção das operações do PAM que espera colocar, a curto prazo, à disposição do governo uma plataforma nacional de visualização que contenha dados de alimentos, segurança, nutrição, preços de mercado e clima.
*De Bissau, Amatijane Candé para a ONU News.