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Jornalista brasileiro Hugo Bachega está acompanhando de perto a guerra na Ucrânia

Jornalista brasileiro na Ucrânia preocupado que guerra comece a ser esquecida BR

BBC
Jornalista brasileiro Hugo Bachega está acompanhando de perto a guerra na Ucrânia

Jornalista brasileiro na Ucrânia preocupado que guerra comece a ser esquecida

Paz e segurança

Hugo Bachega falou à ONU News de Dnipro, no sudoeste da Ucrânia; repórter destaca importância do trabalho jornalístico sobre conflito no país, fundamental para mobilização; para ele, a guerra “não deve acabar num futuro próximo”.

O jornalista brasileiro Hugo Bachega está acompanhando de perto a guerra na Ucrânia desde 24 de fevereiro, quando a Rússia atacou o país. Com a intensificação das ofensivas, já em março, o profissional da BBC deixou sua casa em Londres para cobrir o conflito diretamente de Lviv, perto da fronteira com a Polônia.

Agora, em Dnipro, no sudeste do país, e nos arredores da usina de Zaporizhzhia, Hugo Bachega contou à ONU News como tem sido a cobertura da crise, que já deslocou cerca de 10 milhões de ucranianos e matou mais de 3 mil civis.

Edifício residencial destruído em Dnipro, Ucrânia.
© WFP/Viktor Pesenti
Edifício residencial destruído em Dnipro, Ucrânia.

Histórias humanas

O jornalista da BBC diz que as coberturas foram intensas, especialmente durante os ataques à cidade de Mariupol, sitiada e com infraestrutura fortemente abalada. Ele falou sobre o impacto da guerra nas crianças e demonstrou preocupação com o “cansaço” do público com as notícias.

“Os detalhes do que a gente ouve, de pessoas passando dias em bunker, com pouca coisa para comer, os efeitos que estão tendo em crianças... [...] O perigo que a gente se aproxima é o cansaço do público, tem uma apatia. Isso é um problema, os ucranianos mesmo dizem que a imprensa já está deixando de noticiar com menos intensidade. Os ucranianos precisam da ajuda que o mundo tem dado. A imprensa não pode esquecer que tem uma guerra aqui.”

Com a violência próxima, Hugo afirma que se sente razoavelmente seguro dentro de uma zona de guerra.

“A gente estava próximo de um ataque a míssil e a gente sentiu o impacto, ouvimos a sirenes de ataque aéreo. [Em Dnipro,] a cidade, as lojas, está tudo funcionando. Há sacos de areia protegendo as entradas, mas a vida continua em Dnipro. Temos um esquema de segurança, ninguém pode sair sem autorização, e nós passamos por treinamento. Me sinto seguro como alguém pode se sentir seguro num lugar em   guerra”

A guerra na Ucrânia já matou nove jornalistas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco. Os dados da agência apontam que, apenas este ano, 31 profissionais da imprensa foram assassinados em todo o mundo

Civis de Mariupol deixam região após mais de dois meses sitiados.
Foto: © UNOCHA/Kateryna Klochko
Civis de Mariupol deixam região após mais de dois meses sitiados.

Análise

Por conta da rotina intensa da cobertura do conflito, o repórter da BBC explicou que os jornalistas se revezam no front. Ele deve retornar a Londres nas próximas semanas, mas afirma que já possui data para voltar a trabalhar da Ucrânia. Para ele, a guerra “não deve acabar num futuro próximo”.

“Há um agressor claro, uma violência que não precisava estar acontecendo e poderia acabar no próximo minuto. Total destruição material e de vidas de um país sem nenhum motivo. Os ucranianos sabem disso e dizem que querem ajudar o país a defender a democracia, a liberdade”

Outra análise do jornalista é que, no futuro, os danos causados em Mariupol, tanto à infraestrutura como ao seu povo, devem transformar a cidade num símbolo histórico.

“A cidade foi praticamente destruída, se não materialmente, pelo menos em sua essência. [...] Ninguém conhecia Mariupol antes da guerra e agora ela vai se transformar em uma cidade como Dresden, na Alemanha, Aleppo, na Síria, Grozni, na Chechênia, que se tornam símbolo de um determinado momento da história.”

Por fim, Hugo destacou a resiliência e a notável coragem do povo ucraniano. Segundo ele, muitos querem defender o país, seja pegando em armas ou ajudando a imprensa a contar as histórias ao mundo.

Hugo ainda contou que as histórias humanas não só geram grande impacto em seus leitores, mas também promovem mobilização. Ele afirma que, após a publicação de tragédias que aconteceram no país, sua equipe recebeu contato de pessoas buscando formas de ajudar as vítimas crescentes do conflito. “Contar histórias de como a guerra afeta cada pessoa é uma forma de manter a humanidade”, conclui o jornalista.