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Relator da ONU diz que pobreza no Líbano pode levar a fracasso do Estado BR

Famílias que vivem em comunidades carentes no norte do Líbano recebem conselhos de prevenção Covid-19 por educadores
© Unicef/Fouad Choufany
Famílias que vivem em comunidades carentes no norte do Líbano recebem conselhos de prevenção Covid-19 por educadores

Relator da ONU diz que pobreza no Líbano pode levar a fracasso do Estado

Desenvolvimento econômico

Ações destrutivas de “líderes políticos e financeiros” forçam maioria da população à pobreza, sob violação da lei internacional de direitos humanos; país realiza eleições neste domingo, 15 de maio.

O relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos* das Nações Unidas alertou sobre casos de impunidade, corrupção e desigualdade estrutural que estão colocando o Líbano em risco.

Em novo relatório sobre a situação no país árabe, Oliver de Schutter disse que líderes políticos e financeiros estão destruindo o país e forçando a maioria dos libaneses à pobreza.

Pior crise econômica

Para ele, se trata de uma violação da lei internacional de direitos humanos, e de uma crise que pode levar ao fracasso do Estado libanês.

Relator especial da ONU para a pobreza extrema, Olivier De Schutter
Foto: ONU/Jean-Marc Ferré
Relator especial da ONU para a pobreza extrema, Olivier De Schutter

 

As constatações do relator são resultado de uma missão de investigação para apurar as causas e impactos da pior crise econômica e financeira da história do Líbano.

De Schutter também afirmou que existe “um sistema venal e esquema econômico desenhados para dar errado e que não precisa ser assim”.

Segundo ele, o establishment político sabia, há anos, que o desastre estava se aproximando e não fez nada para impedir. O relator descobriu que indivíduos “bem conectados” retiraram seu dinheiro do Líbano graças a um vácuo legal que permitiu o fluxo de capitais para o exterior. Para ele, é preciso uma prestação de contas e encontrar a verdade do que realmente aconteceu.

Eleições neste domingo

Com as eleições parlamentares marcadas para este domingo, 15 de maio, o especialista em direitos humanos pede ao próximo governo que coloque a prestação de contas e a transparência no centro de suas ações.

Ele diz que isso deve começar dentro de casa com os políticos publicando seus próprios conflitos de interesse e finanças. Para de Schutter, os funcionários do Banco Central têm de fazer o mesmo.

Médica do Unicef trata crianças no Líbano.
Foto: © UNICEF
Médica do Unicef trata crianças no Líbano.

 

A crise no Líbano começou em 2019 e agora 80% da população vivem na pobreza. Segundo de Schutter, a riqueza nacional foi saqueada durante décadas pelo mau gerenciamento e erros de investimentos do governo e do Banco Central.

O relator também criticou o plano de resgate do país, que será crítico para restaurar a confiança da população no setor financeiro. Segundo ele, falta um mecanismo de responsabilização no plano.

Risco para geração inteira

Oliver de Schutter afirmou que a liderança política está “completamente fora da realidade e do próprio desespero que eles criaram destruindo a vida das pessoas no Líbano, que se tornou um dos países mais desiguais do mundo.

Ele afirmou que mais da metade das famílias libanesas disseram que não tem o suficiente para dar de comer às crianças, e que centenas de milhares de menores estão fora da escola. Um risco a uma geração inteira caso a situação não melhore.

Nos hospitais, faltam remédios inclusive para doenças crônicas. Em alguns casos, o preço dos medicamentos aumentou quatro vezes.

A crise também afeta comunidades de refugiados sírios e palestinos que vivem no Líbano. Metade das famílias sírias, no Líbano, está passando fome.

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.

O sistema de saúde do Líbano está sofrendo os impactos da crise política e econômica
Foto: © UNICEF Lebanon
O sistema de saúde do Líbano está sofrendo os impactos da crise política e econômica