Escalada de violência desloca um quarto da população na Ucrânia
Ataques a estruturas civis aprofunda crise humanitária que afeta 15,7 milhões de pessoas; guerra já gerou 5 milhões refugiados e 7,1 milhões de deslocados internos; ONU libera US$ 50 milhões para expandir ajuda.
O coordenador de crise da ONU para a Ucrânia, Amin Awad, e a coordenadora humanitária no país, Osnat Lubrani, falaram a jornalistas nesta quinta-feira sobre o agravamento da situação causada pela guerra.
De Kyiv, os representantes das Nações Unidas destacaram que os ataques a infraestruturas civis, como hospitais, escolas e sistemas de abastecimento de água, aprofundam a situação já preocupante.
Assistência humanitária urgente
Eles informaram que as cidades ao leste e sul são as mais afetadas e que, em todo o país, pelo menos 15,7 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária e proteção.
O número de deslocados internos também segue aumentando. De acordo com os dados da ONU, além das 5 milhões de pessoas que fugiram do país, outros 7,1 milhões precisaram abandonar suas casas.
O coordenador de crise, Amin Awad, ressalta que esse número já representa um quarto da população da Ucrânia.
Com os ataques aéreos atingindo importantes estruturas civis, o país contabiliza pelo menos 6 milhões de habitantes sem acesso regular à água potável.
Awad afirma que testemunhou pessoas carregando corpos de familiares e vizinhos em Bucha e Irpin para serem enterrados em jardins ou valas comuns.
Ele destacou que atacar pessoas ou infraestruturas civis é uma violação do Direito Internacional Humanitário. Ele voltou a pedir o fim da violência, a proteção de vices e passagens sejam seguras para que populações deixem as cidades.
Acesso à ajuda humanitária
Entre os enormes desafios humanitários contam-se repetidos impedimentos à passagem da assistência a áreas críticas. Awad fez um novo apelo pelo acesso seguro e sem entraves à assistência.
A coordenadora humanitária na Ucrânia, Osnat Lubrani, afirmou que nove caminhões com alimentos essenciais, cobertores e outros utensílios domésticos conseguiram chegar a Chernihiv.
A cidade ao norte do país estava sitiada até recentemente e foi fortemente afetada pela guerra.
Até agora, a ajuda chegou a cerca de 3,3 milhões de pessoas em território ucraniano.
Fundos humanitários
Além dos esforços feitos por ONGs e outras associações desde o início do conflito, a coordenadora humanitária anunciou a liberação de mais US$ 50 milhões de um fundo para apoiar a expansão do trabalho após a recente escalada.
Ao todo, o desembolso já soma mais de US$ 158 milhões para operações no país, incluindo quase US$ 98 milhões do Fundo Humanitário da Ucrânia e US$ 60 milhões da Fundo Central de Resposta a Emergências, Cerf.
Esses valores devem levar ajuda a mais 2 milhões de pessoas, sendo cerca de 60% dedicado para alcançar mulheres e meninas. O grupo também representa 60% dos deslocados internos, segundo a Organização Internacional para Migrações, OIM.
Osnat Lubrani explicou que uma parte dos fundos será destinada à prevenção de qualquer forma de violência de gênero e apoio aos sobreviventes, o que ela acredita ser “vital”.
Os representantes das Nações Unidas destacam que o apoio da comunidade internacional é crítico para a continuação das operações. Até o momento, 68% do pedido humanitário, de US$ 1,1 bilhão, foi custeado.
Fim do conflito
Para o coordenador de crise da ONU, Amin Awad, com mais de 12 milhões de pessoas deslocadas, soluções duráveis são urgentes.
Ele lembrou que muitas pessoas estão tentando voltar a suas casas, e por isso reforçou o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, pela contenção da violência e pausa humanitária. A medida permitiria segurança na passagem de civis e entrega de ajuda urgente aos necessitados.
Segundo dados mais recentes da OIM, mais de 2 milhões de pessoas retornaram ao país na última semana.
O levantamento aponta que 15% dos deslocados planejam voltar para suas casas nas próximas duas semanas, indo principalmente para Kiev e norte do país. Cerca de 8% da população em geral relata ter suas casas danificadas por ataques.
A OIM também está lançando um amplo programa de reabilitação de abrigos para fornecer condições de vida seguras e dignas às pessoas acomodadas em centros coletivos.