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Fome no Iêmen atinge um nível sem precedentes com financiamento perto do fim BR

Bebê desnutrido em Sana, Iêmen.
Foto: © UNICEF/Moohialdin Fuad
Bebê desnutrido em Sana, Iêmen.

Fome no Iêmen atinge um nível sem precedentes com financiamento perto do fim

Ajuda humanitária

Várias agências da ONU divulgaram uma análise conjunta sobre a situação do país, onde 17,4 milhões de pessoas dependem de assistência alimentar; condições devem piorar entre junho e dezembro, sendo que mais de 2 milhões de crianças enfrentam desnutrição aguda.  

 

 

A crise de fome no Iêmen está à beira de uma condição catastrófica, de acordo com uma análise feita por várias agências das Nações Unidas divulgada esta segunda-feira.  

Atualmente, 17,4 milhões de pessoas no país estão dependendo de assistência alimentar, mas a situação poderá piorar entre junho e dezembro. 

Para o segundo semestre deste ano, a expectativa é de que um recorde de 19 milhões de pessoas no Iêmen não tenham o mínimo para comer. O levantamento foi feito pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, pelo Programa Mundial de Alimentos, PMA e pelo Unicef.  

Crianças desnutridas  

Criança de um ano e meio recebe tratamento para desnutrição no Iêmen.
Foto: © UNICEF/Saleh Hayyan
Criança de um ano e meio recebe tratamento para desnutrição no Iêmen.

Até o fim do ano, é possível que 7,3 milhões de iemenitas caiam num nível emergencial de fome.  

O relatório traz ainda detalhes sobre a desnutrição entre crianças, que já atinge 2,2 milhões de menores de cinco anos, sendo que a desnutrição aguda severa, que pode levar à morte, é confirmada em quase 1 milhão de crianças.  

De acordo com as agências da ONU, 1,3 milhão de grávidas e lactantes também estão enfrentando desnutrição aguda. O coordenador humanitário da ONU no país, David Gressly, destacou ser essencial encontrar uma “resposta para milhões de pessoas, não só na parte nutricional, mas também para que a população tenha água potável, proteção e saúde”.  

Segundo ele, ainda há tempo de progredir, por isso ele pede às partes em conflito para que levantem todas as restrições e invistam em commodities que não estão sofrendo com sanções. Esta seria uma maneira de reduzir preços dos alimentos, melhorar a economia e criar empregos.  

Porções reduzidas e influência da Ucrânia  

Destruição na cidade de Sadaa, Iêmen.
Foto: © WFP/Jonathan Dumont
Destruição na cidade de Sadaa, Iêmen.

O relatório nota ainda que a “guerra na Ucrânia levará a choques nas importações, aumentando ainda mais o preço dos alimentos, sendo que o Iêmen depende quase que completamente de importações de comida, com 30% do trigo vindo da Ucrânia”.  

Um dado que deixa as agências da ONU em alerta é sobre o número de pessoas enfrentando “níveis catastróficos de fome”. O total deve subir cinco vezes, passando dos atuais 31 mil para 161 mil civis no segundo semestre. 

O diretor-executivo do Programa Mundial de Alimentos, PMA, David Beasley, afirma que se o financiamento não chegar imediatamente, “haverá fome em massa”, mas se forem tomadas medidas agora, ainda é possível “evitar um desastre e salvar milhões de pessoas”.  

O PMA precisou reduzir as porções de refeições para 8 milhões de pessoas devido à falta de fundos, sendo que muitas famílias estão recebendo quase metade do tamanho padrão da cesta básica entregue pela agência.