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Poyowari Piyãko, jovem ativista indígena Ashaninka, no norte do Brasil.

Relatório do clima revela desafios sociais na Amazônia, diz co-autora BR

Foto: © UNICEF/Alécio Cézar
Poyowari Piyãko, jovem ativista indígena Ashaninka, no norte do Brasil.

Relatório do clima revela desafios sociais na Amazônia, diz co-autora

Clima e Meio Ambiente

Uma das cientistas do estudo do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, lançado esta semana, destaca que é a primeira vez que o documento traz um olhar social sobre a região e como os povos indígenas já estão sendo afetados; Patrícia Pinho explica dificuldades de adaptação em contexto migratório. 

O Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática, Ipcc, lançou esta semana seu novo relatório, mostrando os “perigos inevitáveis” que o ecossistema continuará enfrentando nos próximos 20 anos devido ao aquecimento global.  

Reverter um cenário de catástrofe é possível, se a temperatura média não subir mais do que 1.5° Celsius em relação aos níveis da era pré-industrial. Pela primeira vez, o relatório do Ipcc traz um olhar sobre o impacto social da mudança climática na região da Amazônia, que abriga nove países, entre eles o Brasil, que concentra a maior parte do território amazônico. 

Riscos severos  

Macaco na floresta Amazônica do Equador
Foto: Unsplash/Andres Medina
Macaco na floresta Amazônica do Equador

A ONU News conversou com uma das co-autoras do relatório do Ipcc. De São Paulo, a especialista em ecologia humana, Patrícia Pinho, explicou os efeitos do aquecimento global para as populações indígenas. 

“No caso da Amazônia brasileira, a gente tem mostrado que os povos indígenas e a população mais tradicional, ela está no cerne da questão dos impactos que geram a vulnerabilidade à exposição, que é a mudança do uso da terra, que são atividades ilegais de desmatamento, de mineração, conflitos fundiários que acontecem dentro do seu território e mais os impactos das mudanças climáticas. O que a gente mostra é que essa população está num risco muito, muito grande.” 

Segundo Patrícia Pinho, o conceito de justiça climática está exposto de maneira muito forte neste novo relatório do Ipcc. A co-autora do estudo explica que muitas populações indígenas estão abandonando suas terras devido à mudança climática e indo morar nas cidades. Mas a adaptação ao novo meio é outro obstáculo. 

Migração e adaptação  

Muitos indígenas vivendo na Amazônia têm enorme dificuldade para acessar os serviços de saúde fora de suas aldeias
Pnud Peru/Mónica Suárez Galindo
Muitos indígenas vivendo na Amazônia têm enorme dificuldade para acessar os serviços de saúde fora de suas aldeias

“Esses povos, por consequência disso, já estão saindo do seu território. Migram para uma situação de cidades. Só que o que acontece, é uma estratégia de adaptação, mas que no longo termo, ela não é adaptativa. Quando você traz essa população que já era marginalizada no seu lugar de origem, ela não vai ser uma população apta a viver nas cidades, ela não tem oportunidades de trabalho, não tem oportunidades de educação ou de saúde, vão ocupar áreas marginais já degradadas, aumentando assim a problemática das múltiplas crises que estamos vivendo.” 

A especialista Patrícia Pinho destaca que uma crise humanitária acaba se formando, consequência da crise ambiental.  

A co-autora do estudo do Ipcc garante que a população da Amazônia está enfrentando os limites da adaptação climática.