Afegãos vivem sentimento de abandono, esquecimento e punição BR

Enviada da ONU disse que cidadãos dentro do país enfrentam futuro imediato e terrível; 23 milhões de pessoas estão na iminência de fome, incluindo em quase todas as áreas urbanas; queda do Produto Interno Bruto já ultrapassou 40%.
Em sessão do Conselho de Segurança sobre o Afeganistão, a representante especial do secretário-geral da ONU no país pediu apoio internacional ressaltando que “agora não é o momento de virar as costas ao povo afegão”.
Deborah Lyons disse haver um sentimento de abandono, esquecimento e punição por circunstâncias que não são de sua culpa. Para a enviada o desamparo “agora seria um erro histórico” que já foi “cometido antes com trágicas consequências”.
Ela descreveu o clima de preocupação com as futuras intenções do Talibã. As maiores inquietações são com “a economia paralisada, a incapacidade de sacar dinheiro e o medo de não se conseguir alimentação durante o inverno”.
Lyons disse haver concentração do mundo em ajudar os afegãos que querem partir após a tomada do poder do Talibã, mas que a atenção deve voltar a ser dada ao número muito maior de afegãos que internamente enfrenta um futuro terrível e imediato.
A enviada alertou que o país está à beira de uma catástrofe humanitária que pode ser evitada. As sanções financeiras impostas ao Afeganistão “paralisaram o sistema bancário com impacto na economia”.
Como exemplos ela citou a queda do Produto Interno Bruto, PIB, que chegou a cerca de 40%. O dinheiro está severamente limitado, comerciantes não têm acesso a crédito e pessoas comuns não podem levantar suas economias.
No setor público, os salários dos funcionários não podem ser pagos de forma integral.
Lyons contou ainda que “hospitais estão ficando sem remédios e dispensando pacientes”.
Os preços subiram à medida que as mercadorias se tornaram mais escassas, no que constitui uma punição para os afegãos mais pobres e vulneráveis”.
O custo de combustíveis e alimentos sobe com o aproximar do inverno. O “complexo sistema social e econômico vai sendo paralisado devido ao congelamento de ativos, a suspensão dos fluxos de ajuda não humanitária e às sanções”.
Quase metade dos afegãos enfrenta situação de crise ou níveis emergenciais de insegurança alimentar.
Com a chegada do inverno, e famílias consumindo reservas alimentares, receia-se que 23 milhões de afegãos fiquem sem saber o que comer.
Com a chegada da nova estação, a situação deve piorar tornando o Afeganistão “o país com a maior população do mundo enfrentando o maior risco de insegurança alimentar”.
Embora a fome já tenha sido observada em áreas rurais, prevê-se que 10 das 11 áreas urbanas mais densamente povoadas apresentem níveis emergenciais de insegurança alimentar.