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COP26: Dia da Energia aumenta o coro pelo fim do uso de carvão, gás e petróleo BR

Sociedade civil pede mais ambição e eliminação de todos os combustíveis fosseis
ONU News/Laura Quiñones
Sociedade civil pede mais ambição e eliminação de todos os combustíveis fosseis

COP26: Dia da Energia aumenta o coro pelo fim do uso de carvão, gás e petróleo

Clima e Meio Ambiente

Compromisso para zerar o uso de carvão foi assinado por 77 partes, incluindo países que antes não haviam declarado apoio; sociedade civil pede mais ambição e eliminação de todos os combustíveis fosseis; engajamento do G20 e de outros países que financiam o carvão é visto como fundamental

As reuniões desta quinta-feira sobre energia e o fim de fontes como carvão, gás e óleo mobilizaram desde ativistas até representantes oficiais que participam da 26a. Conferência da ONU para Mudança Climática, COP26, nesta semana. 

Em Glasgow, grupos pedindo o fim de fontes poluentes usaram a criatividade para chamar a atenção de quem chegava.

Compromisso foi assinado por 77 partes, incluindo países como Polônia, Vietnã e Chile, que prometem acabar com o carvão pela primeira vez
Unsplash/Patrick Federi
Compromisso foi assinado por 77 partes, incluindo países como Polônia, Vietnã e Chile, que prometem acabar com o carvão pela primeira vez

Compromisso global

Dentro dos pavilhões, a principal reunião do dia começou com apelos do presidente da cúpula, Alok Sharma, reforçando os pedidos do secretário-geral das Nações Unidas para que o mundo elimine o uso do carvão.

Ele anunciou a Declaração Global de Transição para Energia Limpa, um compromisso para acabar com os investimentos em carvão e eliminar seu uso até 2030 nas principais economias e em 2040 nos demais países. O documento também busca aumentar o uso e assegurar uma transição justa para energia limpa.

O compromisso foi assinado por 77 partes, incluindo países como Polônia, Vietnã e Chile, que prometem acabar com o carvão pela primeira vez. Alok Sharma afirmou que isso ajuda a impulsionar o mundo a zerar emissões e que mais pode ser feito, especialmente por meio de alianças e coalizões. 

No entanto, a declaração não teve a participação dos maiores financiadores de carvão, como China, Japão e Coreia do Sul, embora tenham se comprometido no último ano em eliminar financiamento externo para geração de carvão até o final de 2021.

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Mais alianças pelo fim do carvão

Enquanto isso, outra aliança que busca acelerar a eliminação do carvão de forma sustentável e economicamente inclusiva ganhou novos membros, que incluem sete países e 14 instituições financeiras.

Os governos da África do Sul, França, da Alemanha, do Reino Unido e dos Estados Unidos, juntamente com a União Europeia, anunciaram uma nova e ambiciosa Parceria de Transição de Energia Justa de longo prazo para apoiar os esforços de descarbonização da África do Sul. 

O presidente americano, Joe Biden, e a comissária da União Europeia, Ursula Von de-Leyen, compareceram virtualmente para apresentar a parceria oficialmente.

Sociedade civil quer mais ambição

Embora os compromissos tenham sido vistos como encorajadores, as organizações da sociedade civil buscavam por decisões mais arrojadas fora da sala do plenário. Em conferência de imprensa separada, a ONG alemã Urgewald e a Rede de Ação Climática expressaram seu desespero em relação à atual crise de energia.

Um representante da ONG declarou que nos últimos dois anos foi observado um aumento nas políticas para eliminação de carvão, mas quase nada substancial em petróleo e gás. De acordo com o ativista, as instituições financeiras que querem abandonar os combustíveis fósseis enfrentam a falta de informação como um grande problema.

A organização de direitos humanos e ambiental publicou uma lista que mostra que mais de 500 produtores de petróleo e gás estão planejando adicionar 190 bilhões de barris em sua produção em até sete anos.

Ele adicionou que pelo menos 96% dos produtores de gás e petróleo procuram expandir seus ativos e que o setor faz uma “expansão imprudente, com as formas de produção sujas representando 50% dos novos projetos”.

Combustíveis fósseis

Enquanto isso, Jing Zhu, diretor do programa de justiça energética no Centro de Diversidade Biológica nos Estados Unidos, enfatizou que “não temos mais tempo para os combustíveis fósseis”.

Ela observou que o G20 tem se movimentado na direção oposta e, entre 2018 e 2020, comprometeram US$ 188 bilhões de dólares em combustíveis fósseis, 2,5 vezes o valor que investiram em fontes renováveis.

Jing Zhu também anunciou que um grupo de governos e instituições financeiras públicas em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Reino Unido, se comprometeram a encerrar o apoio direto ao setor de energia de combustível fóssil até o final de 2022.

A iniciativa promete o fim do apoio direto a projetos internacionais de combustíveis fósseis “exceto em circunstâncias limitadas e claramente definidas que são consistentes com um limite de aquecimento de 1,5°C e os objetivos do Acordo de Paris”.

Energia limpa, como a eólica, é chave para emissões zero.
Foto: Unsplash/Appolinary Kalashnikova
Energia limpa, como a eólica, é chave para emissões zero.

Energias renováveis

Zhu, que também é membro da Rede de Ação Climática, comemorou o primeiro compromisso político para eliminar o financiamento de petróleo e gás além do carvão. Se implementado, vai transferir 18 bilhões de dólares por ano dos combustíveis fósseis para as energias renováveis.

Segundo ela, o compromisso, embora histórico, não é suficiente sem a participação da China, do Japão e da Coréia. A especialista ainda declarou que o mundo está “lidando com o vício em combustíveis fósseis” e exigiu o fim do desenvolvimento desses combustíveis em todo o mundo.

Justificando o que chamou de “falta de liderança e coragem” de governantes, Zhu explicou que a captura e armazenamento de carbono e outros projetos de combustível fóssil que tenham algum tipo de conserto técnico são aceitos, de forma semelhante às “falsas promessas de zero líquido de 2050”.

Em sua fala, ela afirma que há uma a promessa de produção de energia limpa por muitos países, já que eles enxergam os investimentos como benefícios potenciais para suas próprias economias, como no caso dos Estados Unidos, que têm planos para exportar energia renovável.

Energia renovável é setor estratégico para América Latina
Foto: ADB/Patarapol Tularak
Energia renovável é setor estratégico para América Latina

Setor energético

A representante especial do secretário-geral da ONU para Energia Sustentável para Todos, Damilola Ogunbiyi, também fez um apelo durante o evento principal, lembrando que o setor de energia é responsável por dois terços das emissões de gases de efeito estufa.

Ela ressaltou que mais de 750 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade básica e mais de 2,6 bilhões não possuem soluções de cozinha limpa.

A representante citou o recente Relatório de Emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, indicando que a humanidade segue um rumo perigoso de aumento da temperatura global de 2,7 graus até o final do século, o que ameaçaria a vida como a conhecemos.

Ela explicou que é preciso repensar radicalmente como serviços de energia são fornecidos para atender ao apelo da ONU de pôr o uso do carvão para trás e não se construírem mais usinas à carvão.

De acordo com o Pnuma, uma média de US$ 423 bilhões de fundos públicos são gastos todos os anos em subsídios aos combustíveis fósseis e, apesar dos compromissos internacionais, os financiamentos não estão sendo eliminados, e sim aumentando.

Esses subsídios são considerados um grande obstáculo para se atingir as metas de desenvolvimento sustentável e climático, porque incentivam o investimento em poluição e desencorajam as energias renováveis.

A representante destaca que o mundo corre contra o tempo e não tem escolha a não ser determinação e compromisso com a colaboração e o financiamento necessários para tornar possível uma transição energética justa e inclusiva.

De acordo com Damilola, eliminar os combustíveis fósseis e taxar o carbono estimulará o crescimento e a inovação. 

Estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, mostram que a mudança poderia fornecer até 10 anos de investimentos em inovação e infraestrutura verdes, o que traria crescimento e novos empregos mais seguros.