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Do Brasil, coautora portuguesa explica clima global: “não temos tempo a perder” BR

Joana Portugal Pereira é co-autora do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021
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Joana Portugal Pereira é co-autora do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021

Do Brasil, coautora portuguesa explica clima global: “não temos tempo a perder”

Clima e Meio Ambiente

A ONU News publica o comentário da cientista portuguesa Joana Portugal, no dia em que as Nações Unidas lançaram o Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021. A professora em planejamento energético na Universidade Federal do Rio de Janeiro participou no estudo e escreveu o comentário publicado na íntegra.

O relatório desenvolvido pela agência das Nações Unidas para proteção ambiental, Unep na sigla em inglês, avalia há 12 anos os esforços dos países em reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), comparando as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) com as medidas necessárias para garantir os compromissos do Acordo de Paris. 

Para atingir os compromissos do acordo de Paris, necessitamos de olhar além das emissões de dióxido de carbono do setor de energia

Este ano e, infelizmente tal como nos anos anteriores, identificamos uma grande lacuna entre as medidas anunciadas pelos países e o que é necessário ser implementado para reduzir emissões compatíveis com a estabilização do aquecimento global em níveis abaixo de 2 °C e idealmente 1,5 °C até ao final do século, comparativamente com níveis pré-industriais. 

Apesar de estarmos a caminhar na direção certa, os esforços de redução de emissões são demasiados lentos e não temos tempo a perder. Este ano, o relatório mostra-nos que:

(i) As novas NDCs que serão submetidas para a COP26 apenas reduzem em 7,5% as projeções das emissões de GEE nos próximos 10 anos e deveríamos reduzir as emissões em um terço para atingir níveis de 2 °C ou em metade para níveis de 1,5 °C

(ii)  Seguindo esta trajetória de falta de ambição, o mundo está a caminhar a passos largos para um aquecimento de 2,7 °C que está muito acima do que a ciência considera seguro para toda a população do planeta

(iii) Apesar da redução momentânea de emissões nos últimos dois anos devido à pandemia Covid-19, a recuperação econômica está a seguir trajetórias hiper carbônicas que se traduzem em um aumento de emissões que atingirá novos máximos

Apesar de estarmos a caminhar na direção certa, os esforços de redução de emissões são demasiados lentos e não temos tempo a perder

(iv) Os pacotes de recuperação econômica anunciados, assim como as promessas de metas de neutralidade climática até 2050, poderiam fazer toda a diferença; porém, os planos anunciados até agora são muito ambíguos e, em alguns casos, incentivam atividades carbono-intensivas, não havendo evidência de redução efetiva de emissões

v) Para atingir os compromissos do acordo de Paris, necessitamos de olhar além das emissões de dióxido de carbono do setor de energia e dar mais atenção às emissões de metano e óxido nitroso maioritariamente associadas à má gestão do uso do solo e atividades agrícolas e pecuária. 

A redução desses gases com elevadíssimo potencial de aquecimento global (34 para CH4 e 265 para N2O) pode acelerar a redução de GEE.

Estudo chama a atenção para a ameaça do aquecimento global.
NASA
Estudo chama a atenção para a ameaça do aquecimento global.