Crise alimentar no Afeganistão já é uma das piores do mundo BR

Mães e crianças numa clínica de nutrição que tem apoio do PMA em Herat, Afeganistão.
Foto: © WFP/Marco Di Lauro
Mães e crianças numa clínica de nutrição que tem apoio do PMA em Herat, Afeganistão.

Crise alimentar no Afeganistão já é uma das piores do mundo

Ajuda humanitária

Mais da metade da população do país estará enfrentando fome aguda a partir de novembro; nível recorde de 22,8 milhões de pessoas sofrem com conflitos, seca, pandemia de Covid-19 e crise econômica.  

Mais de metade da população do Afeganistão estará enfrentando fome aguda a partir de novembro, um recorde de 22,8 milhões de pessoas. Este é o principal dado do relatório Classificação de Fase Integrada da Segurança Alimentar, IPC, divulgado esta segunda-feira. 

O documento foi produzido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, e pelo Programa Mundial de Alimentos, PMA. As agências reforçam o apelo por ajuda internacional, uma vez que o Afeganistão já tem uma das maiores crises alimentares do mundo.  

Inverno extremo  

Família volta para casa após receber alimentos distribuídos pelo PMA em Herat, Afeganistão.
Foto: © WFP/Marco Di Lauro
Família volta para casa após receber alimentos distribuídos pelo PMA em Herat, Afeganistão.

São vários fatores que contribuem para a situação de fome: seca, conflitos, pandemia de Covid-19 e crise econômica. O levantamento é lançado num momento em que o frio já começa no país.  

O inverno no Afeganistão é rigoroso e com as temperaturas muito baixas, o acesso a várias regiões fica impedido nos meses de frio extremo, dificultando a chegada de assistência humanitária a várias famílias.  

O relatório IPC destaca que mais de um entre dois afegãos estará enfrentando níveis críticos ou emergenciais de insegurança alimentar aguda entre novembro deste ano e março de 2022. 

Prevenir uma catástrofe  

Distribuição de comida em Herat, no Afeganistão.
Foto: © WFP
Distribuição de comida em Herat, no Afeganistão.

Por isso, serão necessárias intervenções humanitárias de urgência para que a população receba alimentação básica e para prevenir uma “catástrofe humanitária”. 

O diretor-geral da FAO declarou ser urgente “agir com eficiência para acelerar a entrega de ajuda, antes que o Inverno corte uma grande área do país, com milhões de pessoas, incluindo agricultores, mulheres, crianças e idosos, passando fome num inverno gelado” 

Para Qu Dongyu, essa é uma questão de vida ou morte, além de ser “inaceitável esperar para ver acontecer desastres humanitários”. 

Por sua vez, o diretor executivo do PMA, David Beasley, destacou que o Afeganistão já tem uma das piores crises humanitárias do mundo, com o colapso da segurança alimentar.  

Sofrimento em áreas urbanas  

Produtores plantam batatas no Afeganistão.
Foto: ADB/Jawad Jalali
Produtores plantam batatas no Afeganistão.

Desde o último levantamento feito em abril, houve alta de 37% no total de afegãos enfrentando fome aguda, incluindo 3,2 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade que têm risco de sofrer de desnutrição até o fim deste ano. 

Pela primeira vez, residentes de áreas urbanas estão enfrentando insegurança alimentar em níveis iguais aos das comunidades de áreas rurais. Com o alto índice de desemprego e a crise na liquidez, todos os grandes centros urbanos do Afeganistão vão enfrentar nível alto de insegurança alimentar, inclusive a classe média.  

O impacto severo das secas nas áreas ruais tem afetado os meios de subsistência de 7,3 milhões de pessoas que dependem da agricultura e da criação de gado para sobreviver.  

Uma gota no oceano  

A FAO e o PMA alertam para a enorme falta de fundo para financiar operações humanitárias no país e pedem ação da comunidade internacional antes que seja tarde demais. Apenas um terço do Plano de Resposta Humanitária da ONU para o Afeganistão foi financiado. 

O PMA, por exemplo, precisa de US$ 220 milhões por mês para fornecer assistência alimentar e nutricional aos civis. Já a FAO precisa de US$ 11,4 milhões para continuar ajudando os agricultores nos próximos meses.