Perspectiva Global Reportagens Humanas

Mudanças climáticas têm impacto alarmante na África, afirma novo relatório BR

Idosa que vive como deslocada interna no Sudão se prepara para receber sua porção de ajuda alimentar emergencial.
Foto: UN Photo/Tim McKulka
Idosa que vive como deslocada interna no Sudão se prepara para receber sua porção de ajuda alimentar emergencial.

Mudanças climáticas têm impacto alarmante na África, afirma novo relatório

Clima e Meio Ambiente

Insegurança alimentar e deslocamentos tendem a subir; estudo co-produzido pela Organização Meteorológica Mundial sugere investimentos em adaptações e sistemas de aviso prévio para auxiliar na prevenção de desastres; massas de gelo do continente estão desaparecendo e níveis do mar subindo acima da média global. 

As Nações Unidas e parceiros lançaram esta terça-feira o relatório Estado do Clima na África 2020. O documento ressalta tendências e impactos das mudanças climáticas, incluindo o aumento do nível do mar e o derretimento das massas de gelo. 

A produção do documento envolveu a Organização Meteorológica Mundial, OMM, a Comissão da União Africana, a Comissão Econômica para a África pelo Centro de Política Climática da África. Também participaram entidades científicas regionais e internacionais e agências das Nações Unidas.  

Árvores são plantadas na República Democrática do Congo para ajudar a combater a mudança climática.
Foto: © UNICEF/Josue Mulala
Árvores são plantadas na República Democrática do Congo para ajudar a combater a mudança climática.

Resultados 

Em entrevista à ONU News, o diretor de Parcerias Globais da OMM, Filipe Lúcio, ressaltou a importância de investir em formas de prevenção, como com os alerta precoce. 

“Eles precisavam ter sistemas de aviso prévio integrados, particularmente nos países vulneráveis, onde seja possível prever o que vai acontecer e a partir daí tomar medidas para preparação e resposta adequadas. Só para dar-lhes um exemplo, em África, só 44 mil pessoas entre 100 mil pessoas estão cobertas com o sistema de aviso prévio.” 

Na mesma linha, além do alerta precoce, as recomendações do relatório ainda reforçam a necessidade de recursos dedicados a infraestrutura hidro meteorológica. As ferramentas permitiriam que a população se preparasse para eventos climáticos. 

Outra pesquisa citada, conduzida pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, afirma que ampliar o acesso a sistemas de alerta precoce e informações sobre preços e clima podem reduzir a chance de insegurança alimentar em 30%. 

Angola é apontada como exemplo dos efeitos da mudança climática, com quase 7 milhões de pessoas com fome por causa da pior seca em 40 anos
© Unicef Angola/Carlos Louzada
Angola é apontada como exemplo dos efeitos da mudança climática, com quase 7 milhões de pessoas com fome por causa da pior seca em 40 anos

Investimento 

Além da vulnerabilidade desproporcional, o estudo ilustra benefícios de possíveis investimentos em campos como adaptação ao clima, serviços meteorológicos e climáticos e sistemas de alerta precoce “que superam em muito os custos”.  

Sobre o tema, o vice-diretor da Comissão Econômica das Nações Unidas para África, António Pedro, disse que iniciativas veem sendo incentivadas e Cúpula do Clima, Cop-26, será um momento para reafirmar essa posição. 

“Para se tratar da questão dos impactos negativos do aquecimento global tem a ver com a eliminação da utilização de energias fósseis: do carvão, do petróleo e do gás natural, infelizmente. África vai para Glasgow com posições muito claras em que o continente está determinado a contribuir para a redução dos efeitos estufa e quer liderar todo o processo de transição para energias limpas”. 

Na África Subsaariana, os custos de adaptação são estimados em US$ 30 a 50 bilhões, o que equivale a no máximo 3% do Produto Interno Bruto regional a cada ano na próxima década.  

Além dos conflitos, pandemia e mudança climática estão agravando situação de insegurança alimentar
PMA/Abeer Etefa
Além dos conflitos, pandemia e mudança climática estão agravando situação de insegurança alimentar

Cenário 

Os resultados apontam que a temperatura na África subiu acima da média global. O último ano esteve entre os mais quentes registrados no continente.  

O aumento do nível do mar também está acima das marcas, sendo a costa do Oceano Índico o local mais crítico, onde o número já supera os 4 milímetros por ano, segundo a pesquisa. 

As massas de gelo do continente também são afetadas. A pesquisa alerta que, se nada for feito, as três principais formações deixaram de existir até 2040. Isso inclui o famoso Monte Kilimanjaro, na Tanzânia. 

A previsão é que o Monte Quênia derreta ainda uma década antes, sendo uma das primeiras cadeias de montanhas inteiras a perder massas de gelo devido às mudanças climáticas induzidas pelo homem. 

Insegurança Alimentar 

A falta ou o excesso de chuva também se agrava no continente. Na publicação, os autores ressaltam que a seca em Madagáscar desencadeou uma crise humanitária.  

Grandes inundações também ocasionam o deslocamento de populações de diversos países da região e aumentam a insegurança alimentar. Em 2020, o número de pessoas na situação subiu em 40% em relação ao ano anterior. 

Estima-se que 12% de todos os novos deslocamentos populacionais do mundo ocorreram no leste da África. São mais de 1,2 milhão de deslocados devido a desastres e outros quase 500 mil causados por conflitos.