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Moradia inadequada é realidade para 50 milhões de pessoas na Europa BR

Jovens e idosos são os mais afetados com aumento dos alugueis na Europa.
Kseniya Halubovich
Jovens e idosos são os mais afetados com aumento dos alugueis na Europa.

Moradia inadequada é realidade para 50 milhões de pessoas na Europa

Desenvolvimento econômico

Relatório da Comissão Econômica da ONU mostra dificuldades que jovens e idosos estão enfrentando para encontrar habitação, principalmente nas grandes cidades, com preços dos alugueis disparando. 

 

Os preços dos alugueis nas grandes cidades da Europa estão “disparando” e com isso, jovens, idosos e pessoas de renda média estão tendo muita dificuldade para encontrar moradia adequada. 

Esta é a principal conclusão de um estudo da Comissão Econômica da ONU para a Europa, Unece, em parceria com o Programa das Nações Unidas para Reassentamentos, ONU-Habitat.  

Moradia em Lisboa  

Jardim Constantino, em Lisboa, Portugal.
ONU News/Ana Carmo
Jardim Constantino, em Lisboa, Portugal.

A designer Camila Ribeiro, de 26 anos, mora em Lisboa há três e confirma: os alugueis na capital de Portugal estão cada vez mais caros. 

“Arrendar casa em Portugal, principalmente em Lisboa, é muito caro. Eu dividia apartamento e pagava € 600. Após isso, fui procurar um apartamento apenas para mim e para o meu então marido. A gente encontrou um apartamento por € 850 e foi muito difícil achar algo que valesse a pena, porque normalmente os apartamentos são € 850 ou mais e são no rés-de-chão (térreo) ou o apartamento está caindo aos pedaços. Você acaba gastando todo o seu dinheiro pagando a renda (aluguel).” 

Neste ano, Camila Ribeiro mudou para outro apartamento e paga agora € 780 de aluguel, sendo que o salário mínimo em Portugal é de € 665.  

Pandemia e desigualdades sociais  

Habitações na Europa estão cada vez mais caras, afirma Unece.
Foto: Kseniya Halubovich
Habitações na Europa estão cada vez mais caras, afirma Unece.

Segundo a Unece, cerca de 50 milhões de pessoas na Europa estão vivendo em condições inadequadas de habitação. A Comissão cita a mudança climática, os fluxos de investimentos e a pandemia global como as “crises que estão tendo profundas consequências para as pessoas e o planeta”.  

O relatório “#Habitação2030: Políticas Eficazes para Habitação Acessível na Região da Unece” foca em soluções para a crise de moradia no continente europeu. A secretária-executiva da Comissão da ONU, Olga Algayerova, declarou que “os países da região estão relatando brechas cada vez maiores entre a renda da população e preço das habitações, além de desigualdades sociais para moradias acessíveis”.  

Segundo ela, cada vez mais pessoas de renda média estão sendo afetadas e existe “falta de vontade política para tratar o problema”. A chefe da Unece acredita que o relatório é um documento importante, pois traz uma lista de prioridades para tornar a moradia na Europa mais acessível.  

Regulamentação do setor  

Recentemente, inundações afetaram cidades em toda a Europa, incluindo Zurique, na Suíça.
Unsplash/Claudio Schwarz
Recentemente, inundações afetaram cidades em toda a Europa, incluindo Zurique, na Suíça.

O relator especial da ONU para o Direito à Moradia destacou que “muitas cidades na Europa estão enfrentando uma crise séria no setor, com os preços das moradias subindo muito mais rápido do que a média salarial”.  

Rajagopal Balakrishnan faz outro alerta: o número de pessoas sem-teto vem aumentando na maioria dos países europeus. Na avaliação dele, os governos locais até querem tratar o problema, mas não tem recursos adequados nem autoridade legal para combater a falta de moradia para a população. 

O relatório foca em governança e regulamentação do setor de habitação; acesso ao financiamento; disponibilidade de terrenos para construções habitacionais e renovações amigas do ambiente.  

Segundo a Unece, o estudo deixa claro o que é preciso para mudar a situação: governança eficaz, políticas estratégicas sobre construções e promoção de bairros e de habitações com neutralidade climática e acessíveis.  

A Comissão Econômica da ONU para a Europa lembra que a moradia adequada é parte central da vida, da saúde e da dignidade das pessoas.