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Unicef alerta sobre impactos de longo prazo da pandemia na saúde mental das crianças BR

Ansiedade, medo e raiva são sentimentos reportados por crianças e jovens
Unicef/Fouad Choufany
Ansiedade, medo e raiva são sentimentos reportados por crianças e jovens

Unicef alerta sobre impactos de longo prazo da pandemia na saúde mental das crianças

Saúde

Estudo focando em efeitos para menores de idade é considerado o mais amplo do tipo; agência alerta que restrições provocam problemas que são apenas “ponta do iceberg”; 46 mil jovens cometem suicídio, todos os anos.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, acaba de divulgar os resultados do maior estudo já feito sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na saúde mental de crianças e de jovens.

A agência destaca que os grupos sentirão essas sequelas a longo prazo, já que mesmo antes da pandemia havia pouco investimento para cuidados de saúde mental de crianças e adolescentes.

Perda na contribuição para a economia

Segundo o Unicef, transtornos mentais que levam a incapacidades ou até à morte entre os jovens geram, por ano, perdas de US$ 390 bilhões para a economia global. Pelas estimativas da agência, um entre sete adolescentes de 10 a 19 anos sofre de algum problema.

Transtorno de déficit de atenção, ansiedade, doença bipolar, depressão, distúrbios alimentares, autismo e esquizôfrenia estão entre os distúrbios de saúde mental citados pelo Unicef.

Suicídio

Por anos, 46 mil adolescentes cometem suicídio
Unicef/Aleksey Filippov
Por anos, 46 mil adolescentes cometem suicídio

Quase 46 mil adolescentes cometem suicídio todos os anos, sendo uma das cinco principais causas de morte entre esta faixa etária. A diretora-executiva da agência explica que os últimos 18 meses foram longos para todos, especialmente para as crianças.

Henrietta Fore lembra que os menores de idade foram privados do contato com familiares, amigos, com o convívio na sala de aula e brincadeiras ao ar livre, que são elementos essenciais da infância.

A chefe do Unicef declarou que o “impacto é significativo, sendo apenas a ponta do iceberg”. Os governos investem pouco para tratar o problema e ninguém está dando a devida importância para a relação entre saúde mental e os impactos para a vida futura, afirmou Fore.

Ansiedade, medo, raiva

Estudantes usam máscara em escola em campo para refugiados na Cisjordânia
UNRWA/Kazem Abu Khalaf
Estudantes usam máscara em escola em campo para refugiados na Cisjordânia

Uma pesquisa do Unicef e do Instituto Gallup feita em 21 países descobriu que um entre cinco jovens de 15 a 24 anos sofre de depressão ou tem pouco interesse em ter uma vida ativa.

O confinamento e o encerramento das escolas afetou 1,6 bilhão de menores de idade. A quebra nas rotinas, no sistema escolar e preocupações com a saúde e a renda familiar tem deixado muitos jovens com medo, com raiva e preocupados com o futuro. Na China, por exemplo, um terço dos participantes da pesquisa confessou que se sente com medo ou ansioso.

Combinação de fatores

O estudo do Unicef destaca também que “um misto de fatores genéticos e da influência do ambiente em que vivem, como criação dos pais, situação na escola, qualidade das relações, exposição à violência, abusos, discriminação, pobreza e crises como a Covid-19, moldam e influenciam a saúde mental das crianças ao longo da vida.”

Ter pais amorosos, escolas seguras e relações positivas com os amigos podem reduzir os riscos de problemas de saúde mental. Mas o relatório destaca que estigma e falta de investimentos geram pouco apoio para muitas crianças.

Ações necessárias

Criança durante uma aula do jardim de infância em Tachilek, em Mianmar
ONU/Kibae Park
Criança durante uma aula do jardim de infância em Tachilek, em Mianmar

No documento O Estado das Crianças do Mundo 2021, é feito um apelo para governos, setor privado e parceiros, para se comprometerem e agirem em prol da saúde mental de crianças, adolescentes e seus cuidadores e protegerem todos aqueles que precisam de ajuda.

O Unicef recomenda, por exemplo, investimentos com urgência para prevenir maiores impactos na saúde mental de crianças e jovens e para cuidar daqueles que precisam de tratamento.

Outra orientação é para que “seja quebrado o silêncio sobre saúde mental”, acabando com o estigma, promovendo mais entendimento sobre o assunto e levando à sério as experiências relatadas por crianças e jovens.