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ONU diz que fim do chumbo na gasolina é grande vitória do multilateralismo BR

O ano de 2021 marcou o fim da gasolina com chumbo em todo o mundo
Unsplash/Sippakorn Yamkasikorn
O ano de 2021 marcou o fim da gasolina com chumbo em todo o mundo

ONU diz que fim do chumbo na gasolina é grande vitória do multilateralismo

Saúde

Secretário-geral, António Guterres, gravou vídeo lembrando que conquista evitará morte prematura de mais de 1 milhão de pessoas por ano; esforços foram liderados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma.

Considerado uma grande ameaça para as pessoas e a saúde do planeta, o chumbo na gasolina deixou de ser usado, no mundo, numa conquista de vários países que levou duas décadas para ser alcançada.

O anúncio foi feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, exige medidas ousadas e novas políticas para enfrentar a mudança climática
Foto: ONU/Evan Schneider
O secretário-geral da ONU, António Guterres, exige medidas ousadas e novas políticas para enfrentar a mudança climática

Multilateralismo

Ele diz que hoje, o mundo está celebrando um marco para o multilateralismo. Quando as iniciativas começaram, há 19 anos, 86 países utilizavam o chumbo na gasolina.

A última nação a abdicar do chumbo em seus postos de gasolina foi a Argélia, em julho.

A iniciativa internacional para proibir a presença do metal pesado no combustível foi batizada de Parceria Global por Combustíveis e Veículos Limpos (Pcfv, na sigla em inglês).

 Após uma campanha de 20 anos, o uso de gasolina com chumbo acabou em todo o mundo
ONU News/ Daniel Dickinson
Após uma campanha de 20 anos, o uso de gasolina com chumbo acabou em todo o mundo

Economia

O chefe da ONU contou que com a medida, mais de 1 milhão de mortes prematuras serão evitadas, a cada ano, de doenças coronárias, derrames e câncer. E muitas crianças expostas ao chumbo também tinham problemas de inteligência.

O Pnuma informa que a economia com essas perdas é da ordem de US$ 2,4 trilhões por ano. A iniciativa incentiva os países a buscarem veículos com emissão zero para evitar mais poluição no ar.

Saiba mais sobre a presença do chumbo na gasolina nesta matéria do Pnuma Brasil*:

Desde 1922, o uso de chumbo tetraetila como aditivo de gasolina para melhorar o desempenho do motor tem sido uma catástrofe para o meio ambiente e para a saúde pública. Na década de 1970, quase toda a gasolina produzida no mundo continha chumbo. Quando o Pnuma iniciou sua campanha para eliminar o chumbo na gasolina em 2002, tratava-se de uma das ameaças ambientais mais graves para a saúde humana.

O ano de 2021 marcou o fim da gasolina com chumbo em todo o mundo, após ter contaminado o ar, a poeira, o solo, a água potável e as plantações de alimentos por quase um século. A gasolina com chumbo causa doenças cardíacas, derrames cerebrais e câncer. Também afeta o desenvolvimento do cérebro humano, prejudicando especialmente as crianças, com estudos sugerindo que a contaminação reduziu de 5 a 10 pontos de QI entre elas. 

“A execução bem-sucedida da proibição da gasolina com chumbo é um grande marco para a saúde global e para nosso meio ambiente”, disse Inger Andersen, Diretora Executivo do Pnuma. "Superando um século de mortes e doenças que afetaram centenas de milhões e degradaram o meio ambiente em todo o mundo, estamos revigorados para mudar a trajetória da humanidade para melhor, por meio de uma transição acelerada para veículos limpos e a mobilidade elétrica."

Na década de 1980, a maioria dos países de alta renda proibiu o uso de gasolina com chumbo, mas até o final de 2002, quase todos os países de baixa renda e renda média, incluindo alguns membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Ocde, ainda utilizavam gasolina com chumbo. O Pcfv é uma parceria público-privada que trouxe todas as partes interessadas à mesa, prestando assistência técnica, sensibilizando, superando desafios e resistência de negociantes de petróleo e produtores de chumbo locais, além de investir na modernização de refinarias.

Dr. Kwaku Afriyie, Ministro de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação de Gana, afirma que “Quando a ONU começou a trabalhar com governos e empresas para eliminar o chumbo do petróleo, as nações da África Subsaariana abraçaram com entusiasmo essa oportunidade. Gana foi um dos cinco países da África Ocidental a participar dos primeiros workshops e declarações sub-regionais. Após campanhas na mídia do Pcfv, relatórios, estudos, expondo ilegalidades e testes públicos feitos para expor os altos níveis de chumbo no sangue da população, Gana tornou-se cada vez mais determinada a libertar seu combustível do chumbo”. 

Apesar desse progresso, a frota global de veículos que está em rápido crescimento continua a contribuir para a ameaça da poluição local do ar, da água e do solo, bem como para a crise climática global: o setor de transporte é responsável por quase um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas à energia, e deve crescer para um terço até 2050.

Embora muitos países já tenham começado a transição para carros elétricos, 1,2 bilhão de novos veículos serão lançados nas próximas décadas, e muitos deles usarão combustíveis fósseis, especialmente em países em desenvolvimento. Isso inclui milhões de veículos usados de baixa qualidade exportados da Europa, Estados Unidos e Japão para países de renda média e baixa. Isso contribui para o aquecimento do planeta, polui o ar e pode causar acidentes.

O fim da gasolina com chumbo deve contribuir para o alcance de vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo saúde e bem-estar, ODS3, água potável e saneamento, ODS6, energia limpa e acessível ODS7, cidades e comunidades sustentáveis, ODS11, ação contra a mudança global do clima, ODS13, e vida terrestre, ODS15. Também oferece a oportunidade de restaurar ecossistemas, principalmente em ambientes urbanos, particularmente degradados por esse poluente tóxico. Finalmente, marca um grande progresso antes do Dia Internacional do Ar Limpo para um céu azul deste ano, celebrado no dia 7 de setembro."
 
 
*Com informações do Pnuma Brasil.