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ONU alerta que “Afeganistão está saindo do controle”  BR

Secretário-geral realçou que hospitais estão lotados e faltam alimentos e insumos médicos
ONU/Evan Schneider
Secretário-geral realçou que hospitais estão lotados e faltam alimentos e insumos médicos

ONU alerta que “Afeganistão está saindo do controle” 

Paz e segurança

Secretário-geral realça que o momento é para acabar com a ofensiva militar, colaborar em negociações a sério e evitar uma guerra longa; combates em curso juntam-se às crises da Covid-19 e humanitária causada por meses de seca. 

O secretário-geral destacou que o Afeganistão está saindo de controle, falando esta sexta-feira a jornalistas sobre a situação atual no país onde áreas urbanas são alvos de combates entre o Talebã e as forças de segurança. 

António Guterres disse que este é o momento para acabar com a ofensiva, para começar negociações a sério e para evitar uma guerra prolongada ou isolamento do Afeganistão. 

Deslocados 

Guterres apontou que, somente no último mês, mais de mil pessoas foram mortas ou ficaram feridas em ataques indiscriminados contra civis, principalmente nas províncias de Helmand, Kandahar e Herat. 

Pelo menos 241 mil deslocados foram gerados pelos combates, que causam danos avultados e aumentam as necessidades humanitárias. Houve um recuo em termos de direitos das mulheres, do acesso de menores às escolas e faltam de artigos básicos para os afegãos. 

ONU defende que situação afegã preocupa porque civis estão arcando com o impacto da violência.
Unama/Fardin Waezi
ONU defende que situação afegã preocupa porque civis estão arcando com o impacto da violência.

 

Guterres reiterou que tomar o poder por meio da força militar é uma proposta perdida. Para ele, tal situação só pode levar a uma guerra civil prolongada ou ao isolamento completo do Afeganistão. 

O apelo feito ao Talebã é que pare imediatamente com a ofensiva, negocie de boa-fé no interesse do Afeganistão e de seu povo. Ele disse esperar que as discussões em Doha, no Catar, restaurem o caminho para uma solução negociada para o conflito. 

Paz 

O processo que envolve o Afeganistão e o Talebã tem o apoio da região e da comunidade internacional. Para o líder da ONU, somente um acordo político negociado liderado pelos afegãos pode garantir a paz. 

O chefe da organização realçou que hospitais estão lotados e faltam alimentos e insumos médicos. Guterres destacou ainda a destruição de estradas, pontes, escolas, clínicas e outras infraestruturas críticas. 

As últimas quatro semanas tiveram um aumento muito significativo de mortes infantis 
Unama/Mujeeb Rahman Hotaki
As últimas quatro semanas tiveram um aumento muito significativo de mortes infantis 

Antes, a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo disse que a situação afegã é profundamente preocupante porque “mais uma vez, os civis estão arcando com o impacto da violência”. 

A chefe dos Assuntos Políticos destacou que está clara na história recente do país que a paz e desenvolvimento duráveis não serão alcançados militarmente e a ONU está pronta a para contribuir para um acordo negociado. 

Três crises 

No terreno, a ONU News conversou com Mustapha Ben Messaoud, que lidera as Operações e Emergências no Fundo da ONU para a Infância, Unicef. Ele disse que o país está sendo atingido com força pelo conflito. 

A agência tem como prioridade atuar elo fim de graves violações contra crianças, após se atingir mais de 500 mortes desde o início do ano. As últimas quatro semanas tiveram um aumento muito significativo destas mortes. 

Deslocados pela insegurança no Afeganistão abrigados em um acampamento na província ocidental de Herat
OIM/ Muse Mohammed
Deslocados pela insegurança no Afeganistão abrigados em um acampamento na província ocidental de Herat

Metade dos menores com menos de cinco anos sofre de desnutrição aguda grave e passam fome extrema, a ponto de ficarem doentes. Acampamentos foram montados sem acesso a água potável e higiene o que coloca os habitantes em risco de cólera e outras doenças. 

Messaoud ressaltou que o Afeganistão enfrenta outras crises como a terceira onda de Covid-19 matando cerca de 100 pessoas por dia e a seca que levou as autoridades a declarar emergência em junho.