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Chefe de Direitos Humanos faz apelo para evitar “consequências catastróficas” no Afeganistão BR

Cabul, capital do Afeganistão
Foto: ADB/Jawad Jalali
Cabul, capital do Afeganistão

Chefe de Direitos Humanos faz apelo para evitar “consequências catastróficas” no Afeganistão

Direitos humanos

Violência e abusos estão tendo resultados desastrosos, alerta Michelle Bachelet; alta-comissária fala na possibilidade de crimes de guerra e contra a humanidade; quase 360 mil pessoas estão deslocadas.  

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos está alertando para violações no Afeganistão que podem ser consideradas crimes de guerra e contra a humanidade. 

Michelle Bachelet apelou para o fim da violência no país, para que sejam evitadas “consequências catastróficas”.  

Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos
Foto: ONU News/Daniel Johnson
Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos

Ofensivas 

Ela destacou que confrontos em áreas urbanas acabam causando a morte de civis, algo que já foi visto inúmeras vezes no Afeganistão.  

Segundo ela, desde 9 de julho, 183 pessoas morreram com a onda de violência em quatro cidades: Lashkar Gah, Kandahar, Herat e Kunduz. Mais de 1,1 mil ficaram feridas e a alta comissária explica que os números reais podem ser muito maiores. 

Mesmo antes das ofensivas militares do Talebã em centros urbanos, a ONU já havia registrado um aumento dos incidentes envolvendo civis. Bachelet pede aos lados em conflito para interromperem a violência e prevenir um novo massacre.  

A alta comissária quer o fim das operações militares do Talebã nas cidades e pede que as partes retornem à mesa de negociações para um acordo de paz. Sem isso, Bachelet prevê a piora “de uma situação já atroz para muitos afegãos”.  

A chefe de Direitos Humanos da ONU faz também um apelo aos países para que utilizem da influência que têm e ajudem a acabar com a violência. Nesta semana, a capital do Catar, Doha, abrigará reuniões ligadas ao processo de paz.  

Deslocados pela insegurança no Afeganistão abrigados em um acampamento na província ocidental de Herat
OIM/ Muse Mohammed
Deslocados pela insegurança no Afeganistão abrigados em um acampamento na província ocidental de Herat

Execuções  

Documentos recebidos pela Missão de Assistência da ONU no Afeganistão, Unama, e pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU comprovam que confrontos em terra e ataques aéreos têm deixado civis mortos e feridos.  

Há confirmações de execuções sumárias, ataques contra funcionários do governo e familiares, além da destruição de escolas, casas e clínicas de saúde.  

Segundo Bachelet, há também relatos de mulheres e de meninas que só podem sair de casa acompanhadas de um homem ou mahram.  

São pessoas que vivem nas cidades controladas pelo Talebã. Essas restrições aos direitos das mulheres preocupam a alta comissária.  

Um menino de cinco anos cuida de seu irmão mais novo em um campo de deslocados em Kandahar, sul do Afeganistão
Unicef/Afeganistão
Um menino de cinco anos cuida de seu irmão mais novo em um campo de deslocados em Kandahar, sul do Afeganistão

Destruição e Deslocamentos  

Michelle Bachelet lembra que ataques diretos a civis são uma séria violação do direito internacional e exemplos de crime de guerra.  

A alta comissária pede proteção especial a minorias, mulheres, defensores de direitos humanos, jornalistas e destaca que existem riscos reais de atrocidades contra minorias étnicas e religiosas.  

De acordo com a Cruz Vermelha Internacional, somente neste mês, mais de 4 mil pacientes feridos por armas receberam tratamento nos centros de saúde da organização.  

Covid-19  

A Cruz Vermelha denuncia a destruição de casas e os danos a hospitais, centrais elétricas e infraestrutura de água, colocando em risco as vidas de médicos e de pacientes.     

As ofensivas do Talebã começaram em maio e neste ano, mais de 359 mil pessoas ficaram deslocadas. O diretor-geral da Organização Internacional para Migrações, OIM, António Vitorino, está “extremamente preocupado” com o impacto da violência nos civis que estão desabrigados. 

Vitorino lembra que o Afeganistão também enfrenta uma terceira onda de Covid-19 e seca severa, fatores que deixam quase metade da população do país precisando de assistência de emergência.