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Conselho de Segurança tem primeira sessão aberta sobre situação em Tigray BR

Conselho de Segurança já realizou seis reuniões à porta fechada em oito meses de confrontosem Tigray
ONU/Loey Felipe
Conselho de Segurança já realizou seis reuniões à porta fechada em oito meses de confrontosem Tigray

Conselho de Segurança tem primeira sessão aberta sobre situação em Tigray

Paz e segurança

ONU quer que cessar-fogo unilateral declarado pelo Governo Federal de Etiópia seja a porta para lidar com crise humanitária; chefe dos Assuntos Políticos pede prestação de contas por abusos cometidos durante oito meses de conflito com forças regionais. 

O Conselho de Segurança debateu a situação na região etíope de Tigray, a nordeste, na primeira sessão aberta sobre o tema. O órgão já realizou seis reuniões à porta fechada em oito meses de confrontos entre o Governo da Etiópia e líderes regionais. 

No encontro desta sexta-feira, a subsecretária-geral para os Assuntos Políticos e Manutenção da Paz, Rosemary DiCarlo, sublinhou que os civis são quem paga o mais alto preço do conflito armado. 

Respeito 

Rosemary DiCarlo disse que ONU anseia pelos resultados concretos de investigação de abusos em Tigray
ONU/Eskinder Debebe
Rosemary DiCarlo disse que ONU anseia pelos resultados concretos de investigação de abusos em Tigray

 

A representante informou que mais de 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas pelos confrontos. Acima de 60 mil refugiados entraram para o Sudão. O pedido feito aos envolvidos é que se preocupem mais em priorizar a proteção e o bem-estar dos civis.  

DiCarlo apelou ao estrito respeito do Direito internacional humanitário e dos direitos humanos. Ela conclamou as partes envolvidas a apoiar, com tudo o que for necessário, uma investigação conjunta do Escritório do Alto Comissariado para Direitos Humanos e Comissão Etíope de Direitos Humanos.  

Para a subsecretária-geral, deve haver responsabilização pelas graves violações dos direitos humanos cometidos durante o conflito, incluindo atos de violência sexual contra crianças e adultos e assassinatos em massa. 

Uma mãe deslocada da zona noroeste de Tigray fala com um funcionário humanitário na cidade de Mekelle.
Unicef/Esiey Leul Kinfu
Uma mãe deslocada da zona noroeste de Tigray fala com um funcionário humanitário na cidade de Mekelle.

 

Nesta sexta-feira, o Governo Federal da Etiópia reiterou o compromisso com a investigação conjunta e com a responsabilização. Para DiCarlo, a ONU anseia pelos resultados concretos dessa medida. 

Efeitos 

Para DiCarlo, os recentes eventos em “um momento crítico na Etiópia” mostram a necessidade de abordar as questões que assolam o país de uma forma abrangente e sustentável. Caso isso não ocorra, os efeitos podem ser desastrosos. 

A chefe dos Assuntos Políticos quer maior empenho em esforços para promover o espaço de diálogo, a reconciliação, a resposta humanitária, a inclusão em conversas sobre desafios estruturais e o consenso das partes quanto ao futuro.  

DiCarlo citou o cessar-fogo unilateral declarado pelo Governo Federal de Etiópia ressaltando que é preciso enfrentar a crise humanitária na região.  

Milhares de etíopes da região de Tigray fugiram para o Sudão e muitos estão vivendo no acampamento Um Rakuba
Acnur/Ahmed Kwarte
Milhares de etíopes da região de Tigray fugiram para o Sudão e muitos estão vivendo no acampamento Um Rakuba

 

A administração provisória retirou-se da capital regional, após o anúncio que ela considerou “uma oportunidade para que todas as partes do conflito, incluindo as Forças de Defesa Nacional da Etiópia em Tigray, aproveitem como base e venham a consolidar”. Ela pediu ainda que a oposição endosse a trégua de forma imediata e completa. 

Acesso  

Agências humanitárias informaram que além de Mekelle, as Forças de Defesa Nacional da Etiópia também se retiraram de Shire, Axum, Adwa e Adigrat. As áreas urbanas e estradas de Tigray seriam agora controladas por forças da oposição. 

A região está sem eletricidade e as comunicações são possíveis somente por meio de telefones via satélite ou em complexos de agências humanitárias. Voos para a área continuam suspensos desde a semana passada.  

Com o acesso rodoviário ainda bloqueado, os movimentos são muito limitados. As agências humanitárias citam ainda uma grave falta de dinheiro e combustível, afetando o socorro e o cuidado aos funcionários do setor que atuam na região.