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África teme ameaça de terceira fase de contaminação com Covid-19  BR

Uganda teve alta de 131% na semana passada com mais infecções em escolas e trabalhadores de saúde
Unicef/Catherine Ntabadde
Uganda teve alta de 131% na semana passada com mais infecções em escolas e trabalhadores de saúde

África teme ameaça de terceira fase de contaminação com Covid-19 

Saúde

Chefe regional da OMS cita Angola como exemplo de aumento de casos; em 15 dias, continente teve mais um quinto de pacientes em relação ao período anterior; conselheira da ONU sugere nova reflexão sobre produção local de imunizantes.  

Países africanos devem aumentar com urgência capacidade em meio à escassez de vacinas.  

A diretora-regional da Organização Mundial da Saúde, OMS, para a África alertou sobre a piora da pandemia no continente. Para Matshidiso Moeti, “a probabilidade de uma terceira vaga é real e está aumentando”.  

Ela realçou que, neste momento, a grande prioridade é destinar “rapidamente vacinas aos africanos com alto risco de adoecer gravemente e morrer”.  

Cuidados 

O pedido feito aos países do mundo que tenham uma cobertura de imunização significativa é que liberem as doses e que evitem que os africanos mais vulneráveis entrem nos cuidados críticos.  

FMI pede às nações ricas que cumpram rapidamente suas promessas de fornecer 1 bilhão de doses ao mundo em desenvolvimento
ONU Burquina Fasso
FMI pede às nações ricas que cumpram rapidamente suas promessas de fornecer 1 bilhão de doses ao mundo em desenvolvimento

 

Ao todo, 48,6 milhões de doses já chegaram à região. Destas, 31,4 milhões foram administradas em 50 países. Cerca de 2% dos habitantes receberam pelo menos uma dose do imunizante, comparados aos 24% dos vacinados em nível global. 

Numa entrevista à ONU News, antes do alerta da OMS, a conselheira do secretário-geral das Nações Unidas para África, Cristina Duarte, sugeriu que se inicie uma reflexão sobre como tornar eficaz a busca de imunizantes para a região.

Emprestar fundos 

“A questão é: devemos emprestar dinheiro para importar vacinas ou devemos emprestar dinheiro para produzir vacinas? Esta questão pode parecer simples e superficial, mas está ligada a uma questão do fundo. E é procurarmos soluções sustentáveis e que partem de dentro, é o partir de dentro sempre, o partir de nós mesmos.  Eu acredito que no curto prazo será necessário importar vacinas. Mas ao mesmo tempo, com a mesma atenção e com a mesma prioridade, temos que começar a pensar em produzir vacinas.” 

Egito recebendo a remessa da vacina
Khaled Abdul-Wahab
Egito recebendo a remessa da vacina

 

Duarte ressaltou que essa possibilidade já foi colocada mesmo antes da pandemia, há mais de uma década. Foi um plano da União Africana para potenciar a capacidade de imunização na região. 

“Porque discutir vacinas é discutir o setor farmacêutico em África. As vacinas do Covid-19 estão a dar-nos a dar a oportunidade, eu digo rotura ligada à oportunidade, de transformar uma rotura em algo que pode, de fato, ajudar-nos a resolver problemas estruturais: vacinas. E isso empurra-nos para a análise do setor farmacêutico em África e como alavancar a oportunidade das vacinas para implementar as decisões da União Africana tomadas em 2005- 2006.” 

Interação 

A OMS indica que o risco de ressurgimento da Covid-19 aumenta na região africana devido à fraca observância das medidas preventivas, o maior movimento e interação da população, bem como a chegada do inverno na África Austral. 

Na última quinzena, o continente teve uma alta de 20% nos casos em relação à anterior. Os dados da pandemia tendem a subir em 14 países e apenas na semana passada, oito observaram alta abrupta de mais de 30% nos casos.  

A diretora regional da OMS na África, Matshidiso Moeti, diz que a mudança climática é uma das maiores ameaças da humanidade e que coloca a boa saúde em perigo
Reprodução
A diretora regional da OMS na África, Matshidiso Moeti, diz que a mudança climática é uma das maiores ameaças da humanidade e que coloca a boa saúde em perigo

 

Na África do Sul, os casos sobem de forma sustentada. No Uganda, a alta foi de 131% na semana passada com mais infecções nas escolas, nos trabalhadores de saúde. Os centros de isolamento e unidades de terapia intensiva estão quase lotados. Angola e Namíbia também registram um ressurgimento de casos. 

Como exemplos da baixa na distribuição de doses, a OMS ressalta que somente Burquina Fasso, Ruanda e Togo receberam doses nos últimos sete dias. Quase 20 países usaram mais de dois terços de suas unidades.  

Alto risco  

A representante disse que o mecanismo Covax está em negociações com vários fabricantes, bem como com países que vacinaram seus grupos de alto risco, para compartilhar doses. 

Covax pretende distribuir pelo menos 2 bilhões de doses de vacinas em todo o mundo.
Unicef Nepal
Covax pretende distribuir pelo menos 2 bilhões de doses de vacinas em todo o mundo.

 

Além da falta de vacinas, o atendimento de pacientes em estado crítico na região africana está abaixo das taxas de outras partes do mundo. África tem 2,9% dos casos em nível global, mas somou 3,7% das mortes. 

Um estudo feiro em 23 países realça que existe menos de uma cama em unidade de terapia intensiva por 100 mil habitantes, comparado a países como Alemanha, Luxemburgo ou Estados Unidos com mais de 25 leitos por 100 mil habitantes. 

O continente carece de um aumento entre 2.500% e 3.000% de camas para atender às necessidades locais durante um surto.  

Entre os países que fornecem informações sobre ventiladores, apenas um terço dos leitos de suas unidades de terapia intensiva são equipados com ventiladores mecânicos. 

Linha de defesa  

Moeti realçou que muitos hospitais e clínicas africanas ainda estão longe de estar prontos para lidar com um enorme aumento de pacientes gravemente enfermos. 

Funcionário de saúde de Angola recebe vacina através da iniciativa Covax
Unicef/COVAX/Carlos César
Funcionário de saúde de Angola recebe vacina através da iniciativa Covax

Há urgência em equipar melhor os hospitais e equipes médicas “para evitar os piores efeitos de um surto descontrolado”. Ela disse que o tratamento é a última linha de defesa contra o coronavírus e “não se pode permitir que seja violada”. 

Desde o início da pandemia, a OMS fornece suprimentos médicos essenciais, bem como treinamento de profissionais africanos e equipamentos, incluindo ventiladores e concentradores de oxigênio.  

A agência da ONU recomenda que hospitais distritais tenham unidades específicas, enquanto os de nível regional ou provincial façam um reforço de cuidados intensivos e de saúde para ter entre duas e três unidades instaladas desses serviços. 

Falta de vacinas em África junta-se ao atendimento de pacientes em estado crítico na região
BioNTech
Falta de vacinas em África junta-se ao atendimento de pacientes em estado crítico na região