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Conselho de Segurança se reúne sobre África e Guterres destaca violência em Cabo Delgado, Moçambique  BR

A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando mais de 700 mil pessoas a deixarem suas casas
Acnur/Martim Gray Pereira
A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando mais de 700 mil pessoas a deixarem suas casas

Conselho de Segurança se reúne sobre África e Guterres destaca violência em Cabo Delgado, Moçambique 

Paz e segurança

Conflitos e recuperação pós-pandemia na região, que tem menos de 2% de vacinados contra Covid-19, são debatidos no órgão; secretário-geral listou fatores de instabilidade no continente como pobreza, dívida, insegurança alimentar, degradação ambiental e urbanização.  

África teve cerca de 1,7% de vacinados contra a Covid-19 em relação ao total global. De 1,4 bilhão de doses administradas em todo o mundo, apenas 24 milhões chegaram à região. 

Em seu discurso no Debate Aberto sobre Paz e Segurança sob o tema Enfrentando as raízes do conflito enquanto se promove a recuperação pós-pandemia na África, António Guterres realçou que a distribuição equitativa e sustentável de vacinas em todo o mundo é a via mais rápida para uma recuperação veloz e justa.  

Ele defende a partilha de doses, a remoção de restrições de exportação, o aumento da produção local e o financiamento total do Acelerador ACT, como parte da iniciativa Covax. 

África pode ter identificado ou alguns países da região estão próximos de produzir a vacina
Unicef/Raphael Pouget
África pode ter identificado ou alguns países da região estão próximos de produzir a vacina

Cabo Delgado  

O chefe das Nações Unidas lembrou ainda que a organização apoia o esforço global coordenado sobre vacinas e medidas para aliviar a dívida que ameaça a recuperação em muitos países de baixa e média renda, especialmente na África. 

Guterres mencionou ainda o conflito em Cabo Delgado, em Moçambique, como uma das situações nas quais se observa a continuação ou o agravamento da violência de grupos extremistas, num continente onde também ressurgem conflitos. 

Tal como na África Ocidental e Central atuam grupos associados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil, cometendo atos hediondos contra civis que agravam os desafios para sociedades e governos.  

Para Guterres, estas situações são “trágicos lembretes da grave ameaça” destes atos. Um dos exemplos é a crescente insegurança causada pelas Forças Democráticas Aliadas no leste da República Democrática do Congo. 

Consequências 

O chefe da ONU acredita que as tensões são agravadas pelas severas consequências econômicas da pandemia. A crise já empurrou mais cerca de 114 milhões de pessoas para a pobreza extrema no mundo. 

No continente africano, o crescimento econômico desacelerou e as atuais previsões apontam para cerca de 3,4% em 2021, em comparação com 6% em nível global. A região enfrenta ainda uma baixa de remessas e um aumento de dívidas. 

Crise já empurrou mais cerca de 114 milhões de pessoas para a pobreza extrema no mundo
Unsplash/Mihály Köles
Crise já empurrou mais cerca de 114 milhões de pessoas para a pobreza extrema no mundo

O secretário-geral alertou que sob pretexto de combate à crise, alguns governos restringiram os processos democráticos e o espaço cívico. A pandemia aumentou ainda a retórica divisionista, o discurso de ódio, a incitação à violência e a desinformação que pioraram as divisões e minaram ainda mais a confiança. 

Oportunidades  

O líder da ONU pede atenção para jovens e mulheres como grupos que mais têm sofrido o mais severo impacto da crise. Eles perdem oportunidades de educação, emprego e renda, além de sofrer com a piora das desigualdades de gênero já existentes. 

Entre os fatores de risco para a estabilidade em África estão pobreza, insegurança alimentar, degradação ambiental, urbanização e pressões demográficas, além da crise climática que é mais um multiplicador da crise. 

Guterres destacou a importância da região africana nos esforços globais de recuperação, tendo realçado que a ONU conta com o apoio do Conselho de Segurança para atuar nesse sentido.