Agência da ONU apoia vítimas de violência de gênero no Afeganistão BR

Fundo das Nações Unidas para a População é parceiro dos Centros de Proteção à Família, que atendem vítimas em todo o país; na província de Herat, por examplo, nove em cada 10 mulheres sofreram violência conjugal.
Na província de Herat, no Afeganistão, Sahar*, de 22 anos, foi espancada pelo marido por se recusar a fazer um teste de virgindade.
A jovem acabou no Centro de Proteção à Família, no hospital regional, com ferimentos graves. Este local, e outros espalhados no país, recebem o apoio do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, para prestar serviços de saúde, psicossociais e jurídicos para sobreviventes de violência de gênero.
Falando ao Unfpa, a chefe do centro, a médica Freshta Fahim, disse que “tal violência não é aceitável.” Segundo ela, “é um crime e uma violação dos direitos humanos.”
Sahar recebeu serviços de saúde e aconselhamento para se recuperar física e emocionalmente da experiência. O centro também a ajudou a obter apoio jurídico da Direção Provincial dos Assuntos da Mulher.
O pai da jovem disse que “o centro de proteção à família era o único lugar que poderia dar apoio” à sua filha. Ele contou que os funcionários “não só forneceram serviços de saúde e medicamentos, como orientaram a procurar justiça.”
Desde 2014, o centro tem trabalhado sem parar para fornecer apoio ao maior número possível de sobreviventes. No primeiro trimestre de 2021, conseguiu atender 254 sobreviventes com serviços psicossociais, de saúde e de referência.
O Unfpa conta que esta “é apenas uma fração dos necessitados.” Aproximadamente nove em cada 10 mulheres em Herat sofreram violência conjugal, de acordo com uma pesquisa de 2015.
Segundo o governador da província, Wahid Qatali, “a maioria dessa porcentagem está sofrendo violência física”, como a jovem Sahar.
Sahar se casou com Abdul, de 28 anos, por decisão dos pais, como é típico em grande parte do país.
Nos meses seguintes, ela mostrou sinais crescentes de depressão, bem como hematomas por todo o corpo. Eventualmente, seus pais descobriram que estava sendo agredida todos os dias.
Quando o pai ligou para Abdul, ele disse que o estava fazendo era porque Sahar “não era virgem.”
Segundo o Unfpa, a virgindade é altamente valorizada no Afeganistão e em todo o mundo, especialmente para mulheres e meninas. Quando uma mulher é acusada de perdê-la antes do casamento, as consequências costumam ser terríveis. Ela pode até ser assassinada no chamado “crime de honra”.
A agência da ONU afirma que a virgindade é uma ideia social e cultural, não médica, e não existe uma forma médica de determinar se uma pessoa nunca teve relações sexuais antes.
No entanto, muitas pessoas continuam a acreditar que a virgindade pode ser “provada” por um “exame invasivo e muitas vezes doloroso sem legitimidade científica”.
Desde a noite de núpcias, Abdul exigia que Sahar fizesse um teste de virgindade. Quando ela se recusou, ele ameaçou matá-la.
Os pais de Sahar apoiaram sua decisão. Mesmo que os resultados do teste fossem favoráveis, o fato de ela ter feito o exame teria causado danos à reputação da comunidade.
No Afeganistão, o teste de virgindade é permitido apenas quando uma mulher concorda com o procedimento, embora a aplicação dessa regra seja um desafio.
Uma especialista em gênero do Unfpa, Noor Hamid, disse que “há um movimento nacional ocorrendo com o governo para proibir o teste de virgindade em sua totalidade.”
Segundo ele, todos os exames e testes ginecológicos devem ter valor médico e ser realizados apenas no interesse da paciente, como kits de estupro, para conseguir processar os perpetradores de violência de gênero.
*Nomes foram alterados para proteger a identidade da vítima.