OMS recomenda ivermectina contra Covid-19 apenas em ensaios clínicos BR

A partir de dados obtidos em 16 ensaios clínicos, incluindo pacientes internados e ambulatoriais com Covid-19, um grupo de especialistas determinou que não há certeza de que o medicamento reduza mortalidade e gravidade da doença, portanto, são necessários mais estudos e dados para a adoção do tratamento.
Nessa quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde, OMS, anunciou que as evidências atuais sobre o uso de ivermectina para tratar pacientes com Covid-19 são inconclusivas. Para a agência, até que mais dados estejam disponíveis, o medicamento deve ser utilizado apenas em ensaios clínicos.
A recomendação, que se aplica a pacientes Covid-19 em qualquer gravidade, agora faz parte das diretrizes da OMS para tratamentos do novo coronavírus.
A ivermectina é um medicamento antiparasitário de uso comum, incluído na lista de medicamentos essenciais da OMS para várias doenças parasitárias, como a sarna e piolho.
A agência reuniu um grupo de desenvolvimento de diretrizes em resposta ao aumento da atenção internacional sobre o uso de ivermectina como um possível tratamento contra a Covid. O grupo é formado por um painel de especialistas internacionais e independentes, além de pacientes associados.
Eles revisaram dados agrupados de 16 ensaios clínicos aleatoriamente com 2.407 participantes, incluindo aqueles internados e ambulatoriais. Com isso, eles concluíram que as evidências sobre se “a ivermectina reduz a mortalidade, a necessidade de ventilação mecânica, a necessidade de internação hospitalar e o tempo para a melhora clínica” em pacientes com Covid-19 é certamente muito baixa. Isso se deve ao tamanho dos ensaios e às limitações metodológicas dos dados disponíveis.
O painel não avaliou o uso de ivermectina como método preventivo contra Covid-19, o que está fora do escopo das diretrizes atuais determinadas.
A diretora da Organização Panamericana da Saúde, Opas, Carissa F. Etienne, disse que a pandemia está mais ativa do que nunca e que não há opção a não ser lutar. Relembrou os números da pandemia, que já registrou 19,7 milhão de novos casos e 475 mil de mortos em 2021 nas Américas.
A transmissão continua alta, com a média semanal de 1 milhão de novos casos e 34 mil mortes na última semana. Brasil, Peru, Chile e Paraguai têm os maiores índices nas Américas.
Etienne afirmou que quase todos os estados brasileiros operam em mais de 80% da capacidade hospitalar. Para ela, é necessário reforçar a vigilância e agir ao primeiro sinal de aumento de casos, sem esperar a sobrecarga do hospitais. Os riscos para o sistema de saúde e para o povo são muito altos.
No início do ano, poucos países tinham acesso à vacina. Até agora, nas Américas, 124 milhões de pessoas receberam a primeira dose e pelo menos 58 milhões já concluíram a imunização. Etienne disse que, apesar dos bons resultados, entanto, o fornecimento de vacina continua sendo o maior desafio e que as doses devem chegar a todos que precisam.
Um vice-diretor da Opas, Sylvain Aldighieri, explicou que a situação atual do Brasil é resultado da movimentação de pessoas no período entre o Natal e o Carnaval e que não seguir adequadamente as medidas de saúde pública, ampliou a transmissão da doença. Atualmente, o número de mortes reportadas no país é superior ao dos Estados Unidos, que foi o líder da epidemia nas Américas em 2020.
Alighieri disse que a situação do Brasil reflete como a implementação parcial medidas de saúde pública e a perceção tardia da importância dessas medidas pode afetar negativamente a dinâmica da transmissão.
Além disso, a circulação de uma variante no país está levando a um aumento de casos. Alighieri afirmou que foi observado que a variante P1, primeiramente detectada no Brasil, é mais transmissível do que o tipo que circulou em 2020. A Opas tem recebido relatórios de diferentes partes do Brasil informando uma elevação no número de jovens que têm sido internados em UTIs comparado a 2020.
Além do Brasil, oito outros países da América do Sul registraram a nova variante, que ainda está em estudo: Argentina, Chile, Uruguai, Peru, Colômbia, Paraguai, Venezuela e Guiana.
O médico brasileiro e vice-diretor-geral da Opas, Jarbas Barbosa, afirmou que a América Latina tem sido fortemente impactada pela pandemia e precisa urgentemente das vacinas. No entanto, os efeitos da vacinação ainda levarão um tempo para gerar resultados, e por isso é necessário continuar seguindo as medidas de saúde pública.